FORÇA-TAREFA
MP-AL, TJ e DPE analisam destino de menores que vivem em abrigos de Maceió
Primeiras sessões ocorreram no Lar de Amparo à Criança para AdoçãoNo decorrer deste mês, o Ministério Público de Alagoas (MPAL), o Tribunal de Justiça de Alagoas (TJ/AL) e a Defensoria Pública do Estado (DPE) farão audiências nas unidades de acolhimento a crianças, com o objetivo de rever a situação dos pequenos, que podem ser mantidos nas instituições, devolvidos às famílias ou colocados para adoção.
As primeiras sessões ocorreram no Lar de Amparo à Criança para Adoção (LACA), localizada no bairro do Feitosa, em Maceió. São momentos delicados com oitivas de pais, mães ou outros membros da família, com a explanação de psicólogos e assistentes sociais, além de informações repassadas pela direção dos abrigos, para que seja adotada a medida viável e que melhor atenda às necessidades da criança.
“Todos os anos, entre março e maio, é escolhido o mês para que possamos reavaliar cada caso, sabermos se houve algum tipo de evolução, se os pais têm seguido as orientações, porque isso conta positivamente no processo de pedido da guarda. Mas não é somente ouvi-los, para que sejam contemplados, para que a confiança seja estabelecida. Há levantamentos, nova investigação social, pois para essas crianças serem devolvidas aos pais é preciso que tenhamos a convicção de que vale a pena dar nova oportunidade. Quando isso acontece, vibramos, mas quando não é possível trabalhamos para que tenham um futuro protegido, digno. Posso assegurar que não é fácil a missão. Ontem foram iniciadas as audiências concentradas, de todas as reanálises, apenas em dois casos as crianças voltaram para as suas famílias”, explica o promotor de Justiça Gustavo Arns, da Infância e da Juventude.
À frente das audiências, como representante do TJAL e titular da 28ª Vara da Infância e da Juventude, a juíza Fátima Pirauá fala sobre lidar com casos tão delicados.
“É muito difícil, é dolorido, é bem complicado, mas tomamos sempre a decisão que, naquele momento, é o ideal para manter a segurança daquela criança. Na audiência, todas as pessoas envolvidas têm, exclusivamente, o compromisso de preservar o melhor interesse, a prioridade absoluta, a proteção integral de meninos e meninas. Cada criança, para nós, é a protagonista desse processo e dessa audiência, é o que temos a fazer. Peço sempre a Deus para me dar discernimento para que possamos tomar decisões que resultem na garantia da integridade física, emocional e seu pleno desenvolvimento”, ressalta a magistrada.
A defensora pública, Taiane Grave, destaca a questão emocional, o melindre em tratar de casos que envolvem pessoas em situação de vulnerabilidade.
“É desgastante, é emocionante, porque vemos de perto o sofrimento de crianças e adolescentes que estão abrigados, mas também da família, porque às vezes são pessoas em alta vulnerabilidade social que vivem à margem da sociedade. Então a própria estrutura onde vivem faz com que não tratem devidamente os seus filhos, assim são penalizadas duplamente, por viverem na marginalidade e por perderem seus filhos justamente por isso. Percebemos que, apesar de tudo, não perdem o amor, apesar de ter havido a negligência o vínculo não é perdido, faltou o cuidado e isso é muito triste e difícil. Tentamos fazer o melhor, porque as audiências concentradas são para isso: fazer uma avaliação daquela criança nesse momento e verificar se há possibilidade de reinserção familiar”, explica a defensora.
Ela acrescentou ainda que, em não havendo tal possibilidade de a criança ficar com pai, mãe ou família extensa (avô, avó ou tios), vai para o cadastro de adoção. A defensora é mãe adotiva de uma criança que já foi institucionalizada.
A psicóloga Larisse Coimbra, que é uma das responsáveis pelos relatórios das investigações sociais apresentados para os casos das crianças abrigadas no LACA, também falou sobre a importância das reavaliações, salientando que não se trata de um trabalho fácil.
"Além de envolver a parte técnica, exige um trabalho do ponto de vista emocional. Porque nos deparamos com situações de sofrimento, famílias vulneráveis, crianças com seus vínculos rompidos. Porém quando conseguimos trabalhar as famílias, vê-las superando suas dificuldades, vulnerabilidades e presenciar a reintegração daquela criança, é gratificante. Da mesma forma, é gratificante quando há os casos de adoção e temos a convicção de que aquela criança vai para uma família que vai proporcionar toda a segurança do ponto de vista social, com estrutura emocional”, relata a psicóloga.