SAÚDE

33% dos jovens discriminados em AL sofreram ofensas na escola ou faculdade

Psicóloga dá orientações sobre como identificar e combater esse tipo de sitação
Por Adja Alvorável 15/02/2025 - 06:00
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Arquivo/Agência Brasil
bullying adolescente
bullying adolescente

Em Alagoas, 33% dos jovens entre 15 e 29 anos que já sofreram discriminação, sofreram as ofensas em escolas ou faculdades. Os dados são do painel “Data Jovem Alagoas”, disponibilizado pelo governo do Estado, que conta com informações sobre a juventude alagoana.

A discriminação vivida por jovens em ambiente educacional tem sérios impactos no bem-estar emocional e psicológico dos estudantes. Segundo a psicóloga Leilane Ferreira, esse tipo de situação pode afetar o desempenho acadêmico e a autoestima da vítima. 

"Quando um jovem passa por situações de discriminação, de preconceito, de serem tratadas mal pela sua raça, gênero, questão de sexualidade, ela começa a promover em si um processo de embotamento, de isolamento, e isso tem impactos na sua vida como um todo, inclusive cognitivos. Há possibilidade das crianças ou adolescentes apresentarem atraso no desenvolvimento cognitivo diante de questões de discriminação", explicou.

Em casos de discriminação sofrida por estudantes, o ambiente escolar, que deveria ser um espaço de aprendizado e crescimento, se torna um campo de vulnerabilidade para as vítimas. Leilane defende a importância de família e comunidade escolar saberem reconhecer os sinais de que algo não vai bem.

Segundo a psicóloga, mudanças de comportamento acendem um alerta, como isolamento, irritação, dificuldade de se relacionar com os pares, recusa em ir à escola ou faculdade e até atraso no desenvolvimento de algumas habilidades.

"Os jovens muitas vezes têm uma dificuldade de conversar abertamente com seus pais por uma questão de diferença de gerações. As famílias precisam estar atentas e dialogar, estar abertas a ouvir os jovens para compreender como eles estão se relacionando nesses outros ambientes e ajudá-los primeiro a falar sobre isso, porque muitas vezes eles tendem a esconder e a enfrentar", afirma Leilane.

Para a psicóloga, a relação entre a instituição de ensino e a família é fundamental para a formação dos jovens e para a construção de um ambiente escolar saudável. O que é aprendido fora da escola, especialmente no contexto familiar, impacta diretamente o comportamento dos estudantes dentro da instituição. 

"A escola é o reflexo da sociedade, então aquilo que é feito fora da escola, aquilo que esse jovem aprende e constrói no seu entorno familiar, é refletido dentro do ambiente escolar. O preconceito vem também junto com algumas crianças, por isso a importância dessa relação escola e família. À medida em que as famílias orientam seus filhos em relação ao respeito diferente, nós temos relações mais harmônicas dentro do ambiente escolar".

Além da família, as instituições de ensino desempenham um papel fundamental no enfrentamento e prevenção da discriminação, especialmente nas escolas. Diferente das faculdades, onde os alunos geralmente já possuem uma maior maturidade e autonomia, as escolas lidam com estudantes mais jovens. Por isso, a escola tem uma responsabilidade ainda mais crucial de identificar e intervir em situações de discriminação.

"A depender da idade, há maneiras diferentes de lidar com essas questões. Quando o adolescente está na escola, ele ainda é tutelado pelos pais, os professores, e tem uma dificuldade de conversar com esses adultos, de se expor, de trazer à tona essa temática, e isso pode gerar impactos para esse jovem. Já na universidade, eles já são mais autônomos e essa autonomia pode ajudá-los a se posicionar. Então, há uma diferença nos jovens que estão na escola para os jovens que estão na universidade em relação a essa autonomia no processo de tomada de decisão".

Para lidar casos de discriminação, Leilane orienta que as escolas tenham um protocolo de ação a ser acionado quando esse tipo de situação for identificado. Além disso, é preciso que hajam conversas particulares e projetos pedagógicos que trabalhem essa temática durante todo o ano escolar.

"Muitas famílias entendem como foi uma piada, ou foi uma brincadeira, e a gente traz justamente a seriedade que esse tema precisa. Dar os nomes, como racismo ou homofobia, para que os jovens já consigam compreender que a sua ação tem impactos no outro e que é importante que a gente aprenda a conviver com a diferença".

"Nosso sistema educacional ainda hoje é excludente. Nós buscamos a homogeneidade e aí passa por uma reflexão aprofundada em relação ao diferente, as diferenças e a importância das diferenças para a construção da nossa sociedade. Entender que diferentes pessoas constroem diferentes espaços e que cada um, a seu modo, tem o direito de existir. Quando nós dialogamos sobre isso nas políticas públicas, com as pessoas que tomam as decisões, que constroem a legislação e esse debate vai para a escola, a gente consegue ampliar e de fato construir dispositivos que possam auxiliar no combate à discriminação de forma mais eficaz", finaliza.

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