Serial killer de Maceió
Albino será julgado sem prerrogativa de inimputável por doença mental
Laudo técnico anexado ao caso de Anna Beatriz assegura que réu entende suas ações criminosas
O homicida confesso Albino Santos de Lima, apontado como serial Killer de Maceió por suposto envolvimento em 18 assassinatos, será julgado pelo Tribunal de Júri sem a prerrogativa de um inimputável, o que poderia levá-lo a ser isento de pena por não compreender a ilicitude de um ato.
O laudo técnico realizado por peritos e anexado ao processo que apura a morte da vítima Anna Beatriz Santos Tavares, adolescente de 13 anos que foi perseguida e morta a tiros no dia 26 e agosto do ano passado ao sair de uma arena de esporte em Maceió, assegura que Albino, de 42 anos, é plenamente capaz de entender o caráter ilícito de suas ações e de agir de acordo com esse entendimento.
O acusado não tem problemas mentais, como ele próprio chegou a sugerir durante audiência realizada na semana passada, onde foi ouvido por videoconferência sobre as mortes das jovens Louise Gybson Vieira de Melo e Tâmara Vanessa da Silva Santos. O advogado de defesa do acusado, Geoberto Luna, também apostava nessa tese da doença mental para livrar seu cliente das penalidades. “A cabeça dele é uma cabeça de uma pessoa doente, um sociopata, e esse vai ser o caminhar da minha defesa, visto que, mesmo sendo um serial killer, ficando-se confirmado, ele tem direito a defesa”, disse em entrevista no começo do caso.
"A partir desse laudo técnico, o serial killer poderá ser julgado pelo Tribunal do Júri e deverá, se condenado for, cumprir pena no regime penal comum, como qualquer cidadão", esclarece o delegado Gilson do Rêgo. Albino Santos é guarda patrimonial terceirizado da Secretaria de Estado de Ressocialização e Inclusão Social (Seris) e foi afastado de suas funções após sofrer uma acidente de moto.
No crime que ceifou a vida de Anna Beatriz, imagens capturadas por câmeras de segurança e divulgadas na imprensa local ajudaram a identificar o serial killer que acabou preso sem setembro do ano passado, após mandado de prisão expedido pela Justiça. Durante a operação, foram apreendidas uma pistola calibre 380 e um celular, que comprometeram Albino Santos com os crimes.
O réu se tornou um dos cinco maiores serial killers do Brasil. Atuando em Maceió entre 2019 e 2024, ele é acusado de 18 homicídios, dos quais confessou 16. No entanto, a Polícia Civil afirma ter provas suficientes para implicá-lo também nos outros dois crimes.
Segundo as investigações realizadas pela Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), os 10 primeiros assassinatos praticados por Albino Santos aconteceram em um espaço de, aproximadamente, 10 meses. O primeiro foi registrado em 29 de outubro de 2023, e o último, em agosto deste ano. Das 10 vítimas, sete são mulheres e três, homens. Conforme a polícia, Albino tinha o costume de tirar fotos e fazer selfies na lápide de suas vítimas.
A coordenadora da DHPP, delegada Tacyane Ribeiro, informou que as investigações apontam que o criminoso teria obsessão por jovens com características físicas semelhantes. A delegada também alertou que, no último depoimento, ele confessou que fez todos os levantamentos nas redes sociais das vitimas, na internet.
Durante a execução dos crimes, Albino se apresentava sempre vestido de preto, utilizando uma máscara facial e um boné, o que dificultava sua identificação. Os assassinatos eram realizados à noite.
Audiência pública
Na audiência conduzida na sexta-feira, 21, pelo magistrado Yulli Rotter. O réu disse que foi "possuído pelo Arcanjo Miguel" ao cometer os assassinatos pelos quais responde. Afirmou que tem problemas mentais e pediu para ser internado.
No depoimento, Albino Santos disse que teria "apagado" a consciência naquele momento que não lembrava do que aconteceu. "O que aconteceu de fato eu não me recordo, eu fui possuído pelo arcanjo Miguel da justiça. Na praça padrinho Cícero, eu estava saindo da igreja em direção a minha casa e fui possuído pelo fogo do arcanjo Miguel. Eu não sabia que era eu, eu fiquei sabendo depois da perícia que eu usei a pistola do meu pai, que ele não tinha conhecimento que eu usava pra fazer essa vontade divina".
Segundo o réu, o "arcanjo" ordenava que ele fosse ao cemitério e tirasse fotos das lápides das vítimas, mas eu não sabia a causa". Até o término do depoimento, Albino Santos continuo afirmando que não recordava dos assassinatos - ele responde oficialmente por nove crimes - e que tinha orgulho de ser escolhido pela entidade que usava o corpo dele".
O réu afirmou que ainda ouve as vozes, mas se negou a falar sobre o que elas dizem. "Eu não tenho permissão pra falar sobre isso. Ele não me dá autoridade pra mim falar aqui na terra, é um assunto celestial. Eu sou da Assembleia de Deus". No meio do depoimento, o serial killer também disse que percebia que tinha distúrbios mentais.