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Braskem volta à crise de crédito e reacende temor de “efeito Americanas”
Endividamento, conflitos e queda nos títulos colocam a petroquímica sob desconfiança
A Braskem (BRKM5) voltou ao foco do mercado financeiro nas últimas semanas após a forte desvalorização de seus títulos de dívida. O recuo acentuado nas debêntures da companhia, que chegaram a ser negociadas com descontos de até 40% em relação ao valor de emissão, acendeu o alerta entre gestores e investidores sobre o real nível de risco da petroquímica. O episódio reviveu temores de um novo “efeito Americanas”, expressão usada para descrever o colapso de confiança que atingiu o crédito corporativo brasileiro em 2023.
As debêntures da Braskem passaram a ser tratadas com cautela depois de uma sequência de notícias negativas que expuseram problemas internos e setoriais. De um lado, a empresa enfrenta queda nos preços dos produtos petroquímicos, o que reduziu margens de lucro e pressionou o caixa. De outro, enfrenta turbulências na relação entre acionistas e credores, especialmente no contexto do impasse sobre o controle societário e a venda de participação da Novonor (antiga Odebrecht), ainda em recuperação judicial. Esses fatores combinados colocaram a empresa sob escrutínio redobrado e provocaram reavaliação do risco de crédito.
Quando o preço das debêntures cai, o juro exigido pelos investidores sobe. Essa alta na taxa — o chamado prêmio de risco — é o reflexo direto da perda de confiança. Investidores tentam se desfazer dos papéis antes do vencimento, mesmo vendendo a preços menores, para se proteger de um eventual calote. No caso da Braskem, a desvalorização foi acompanhada de uma ampliação do custo de captação e de um afastamento de grandes fundos que tradicionalmente mantinham posição na empresa.
Segundo o gestor Ulisses Nehmi, sócio e CEO da Sparta, o mercado já vinha monitorando os riscos da companhia. “Não é um caso de surpresa como o da Americanas. A Braskem vem sendo acompanhada há meses, e os investidores já previam que os problemas poderiam se agravar. O mercado amadureceu desde então e está reagindo de forma mais técnica, ainda que com apreensão”, afirmou. As informações são do portal Seu Dinheiro.
A empresa, que já foi uma das maiores referências do setor industrial brasileiro, vive um momento de vulnerabilidade ampliada. Além dos desafios financeiros e de governança, carrega o passivo ambiental e jurídico do afundamento do solo em Maceió, que continua pesando sobre o balanço e sobre a percepção pública. O caso — cuja responsabilidade civil ainda é discutida — fez com que parte do mercado classificasse a companhia como um ativo de alto risco.
Gestores de crédito afirmam que a situação da Braskem, embora delicada, ainda é distinta de um colapso generalizado. Eduardo Alhadeff, diretor da Ibiuna, avalia que não há sinais de contaminação sistêmica. “A desvalorização das debêntures reflete problemas específicos da companhia, e não um risco de crise generalizada. A captação de crédito continua positiva em outros setores”, disse. Ainda assim, o caso acendeu discussões sobre a solidez das grandes empresas brasileiras de capital aberto e sobre o nível de transparência das suas demonstrações financeiras.
No ambiente de juros elevados, com a taxa básica ainda em 15% ao ano, empresas endividadas enfrentam um cenário de forte aperto. O custo de rolagem da dívida aumentou, e a Braskem tem precisado negociar novas condições de pagamento, além de buscar liquidez com a venda de ativos. Parte do mercado avalia que a companhia construiu um “colchão de segurança” para o curto prazo, mas que o desafio é restaurar a confiança dos investidores e estabilizar sua estrutura de capital.
A gestora Sparta reduziu parte de sua exposição à Braskem, mas manteve uma fatia minoritária em fundos de infraestrutura. A decisão se baseia na expectativa de recuperação das margens e na crença de que a empresa possa renegociar obrigações fora do Judiciário, evitando medidas mais drásticas. “O desconto atual nos títulos oferece um risco/retorno ainda atraente para quem entende o setor, mas é uma posição que exige sangue-frio e muita seletividade”, avaliou Nehmi.