Bienal do Livro

Monja Coen retorna a Maceió com palestras sobre ética e espiritualidade

Religiosa fará dois encontros nos dias 1º e 2 de novembro, após seis anos sem visitar o estado
Por Redação com assessoria 28/10/2025 - 06:32
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Assessoria
Monja Coen volta a Maceió
Monja Coen volta a Maceió

A monja Coen Rōshi volta a Maceió no início de novembro para dois encontros voltados à reflexão sobre espiritualidade, ética e presença. A missionária da tradição budista Sōtō Shu Zen, fundadora da Comunidade Zendō Brasil, retorna a Alagoas seis anos após sua última visita, quando participou da Bienal do Livro de 2019. A primeiro compromisso será no sábado, dia 1º de novembro, às 20h, no auditório do Hotel Atlantic, na Jatiúca. 

A palestra tem como tema “Ser santo: é possível?”, em alusão ao Dia de Todos os Santos e ao convite à prática cotidiana da compaixão e da conduta ética. Os ingressos são limitados e estão disponíveis pela plataforma Sympla, com opção de ingresso social mediante a doação de 1 kg de alimento não perecível destinado à ONG Moradia e Cidadania.

No domingo, 2, às 14h, a monja será uma das atrações da 11ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas, no Teatro Gustavo Leite, localizado no Centro de Convenções de Maceió. Em sua fala, ela abordará o papel do Dharma — os ensinamentos do Buda — na literatura e na vida cotidiana. “O Dharma está sempre presente, inclusive nas letras. Não busco transformar pessoas em budistas, mas em seres humanos íntegros, éticos e plenos. Que saibam apreciar a vida, ser gentis e amorosos”, afirmou. 

A religiosa também antecipou um dos pontos centrais da palestra do dia 1º: a reflexão sobre o sentido da santidade. “Uma vez, em um convento católico, vi uma placa que dizia: ‘Não se esqueça que você também pode ser santa’. Isso me marcou. Ser santo não é ser bonzinho, é fazer o que é correto no momento certo, com sabedoria e compaixão”, destacou. Para a monja Coen, independentemente das crenças, a humanidade compartilha a mesma origem espiritual. “Todas as religiões têm raízes distintas, mas uma família em comum: a espécie humana. Somos uma única família e precisamos nos cuidar com respeito e dignidade”, enfatizou.

Entrevista

Parece que todo mundo está com a atenção prejudicada. E precisamos atentar para as futuras gerações. No meio desse caldeirão todo — com tantos hiperestímulos de WhatsApp, Instagram, Youtube, Netflix e tantas outras plataformas —, está também a nossa capacidade de cuidar dos outros. Como que uma mãe faz, por exemplo, para não se perder no caos do samsara e promover um ambiente materno que seja favorável? O mundo está cada vez mais desafiador para criar filhos.

O mundo está desafiador para todos e todas nós. Mas nós temos uma nova geração chegando — linda, maravilhosa e que ensina os pais a serem pais e as mães serem mães. Os filhos fazem os pais. Não são os pais que fazem os filhos. Os pais têm que ser modelos; têm que ter coerência com seus valores e princípios. Filhos aprendem muito mais vendo as costas dos pais do que discursos falados. Como é que nós, adultos, estamos nos comportando hoje em dia? Que exemplo estamos dando? Como você fez uma pergunta anterior. Se a pessoa fica o tempo todo no celular — zapeando, brincando e fazendo joguinhos — e não quer que o filho brinque no celular? Você está dando esse exemplo, esse modelo. Então, temos que ter pausas. A gente de vez em quando desliga o celular, desliga a televisão, para de conversar uns com os outros e fica presente para essa criança que está perto de você, dando atenção, dando o carinho que ela precisa, dando o apoio, dando o afago. Criança precisa de afago. Nós, adultos, precisamos. Às vezes, alguém chegar e pôr a mão em seu ombro… não é gostoso? Por que não fazemos isso com nossos filhos? Achamos que temos que educar, que temos que ser rigorosos… estamos brigando o tempo todo. Não, é preciso ser mais macio, mais acolhedor para termos uma geração mais macia e mais acolhedora. Ensiná-los a respeitar a vida, nas suas inúmeras formas, a brincar com o raio de sol, a brincar com uma flor — não precisa arrancar a flor, mas perceber a beleza que existe em suas pétalas.

A Inteligência Artificial pode nos tornar “inúteis”, em certa medida. Algumas profissões deixarão de existir. É o vento da mudança já soprando. Parece ser essa a sina humana: ter receio de nos tornarmos inúteis e caminharmos para isso — afinal, estamos ajudando a aprimorar as IAs, ao passo que as usamos, num processo de retroalimentação de informação. O paradigma é que fomos condicionados a pensar que “ser inútil” nos anula e não é uma boa coisa. O ambientalista e filósofo indígena Ailton Krenak reforça que “a vida não é útil”, que estamos aqui para simplesmente apreciar as coisas ao nosso redor. Para que estamos aqui reunidos, afinal, monja Coen?


Para viver. Para ter essa experiência de vida humana. A gente poderia ser passarinho, podia ser minhoca (risos)… a gente é ser humano! Então, essa é a experiência do ser humano como ser humano. Isso talvez seja o mais essencial. E somos a vida da Terra. Somos feitos da matéria-prima que é feita toda a vida do planeta. E temos uma capacidade intelectual diferente das outras espécies. Tanto que nós construímos prédios, construímos IA, construímos naves interplanetárias, foguetes. Não é bonito isso? Por que é que não apreciamos mais a nós mesmos e apreciamos a nossa sensibilidade? Será que poesia serve para alguma coisa? Será que o Zen e a meditação servem para alguma coisa? Nós estamos em uma época muito “utilitária”, né? Eu tenho que ser útil, eu tenho que ter sucesso, eu tenho que ter dinheiro, tenho que ter visibilidade. Será que é para isso que nós vivemos? Ou será que podemos apreciar a nós e a nossa vida? Desenvolver a capacidade apreciativa da existência — talvez isso seja mais importante.

O contato novamente com a natureza pode ser nossa nova saída de reconexão com a gente mesmo? Mais pé no chão e menos tela?

Nós temos que ter um equilíbrio entre as duas coisas. Nós não vamos abandonar as telas, não vamos abandonar os computadores, não vamos abandonar cidades e vamos todos viver no mato, descalços. (Existe até programa de televisão sobre isso, não é?) Nós não estamos preparados para isso mais. Nós nascemos numa era em que a gente usa calçados, a gente pode andar descalço na praia, pode andar descalço na areia, na grama, mas os nossos pés, atualmente, são mais suaves. A pele é mais sensível e vai ser machucada, vai ser ferida. Então, não é voltar ao que era antes. E é como é que nós vamos daqui para diante. Sem reclamar, mas em contato com a natureza, sim! No Japão, há uma coisa que se chama “banho de floresta”. Vamos andar pelas matas, pelas florestas, respirando conscientemente, sentindo o oxigênio e essa troca que nós fazemos com gás carbônico, que as árvores absorvem. Mas isso precisa ser de manhã, né? Porque no fim da tarde, é o contrário o que acontece. Então, conhecer a vida da Terra, ser a “vida da Terra” e respeitar a natureza, que é a nossa natureza verdadeira.

O Zen carrega uma honestidade, singeleza e afiamento brutal. É a escola mais direta ao “pronto”. Qual motivo leva o ser humano a fazer coisas que o afastam da outra margem? Isto é, do seu real caminho?

O que nos impede de ver o que é assim como é? Nós queremos ser incluídos. Nós somos seres gregários. Nós queremos que as outras pessoas nos aprovem. Enquanto a gente não sair desse lugar, nós não vamos ser completamente completos, felizes, inteiros. Porque eu estou fazendo, até para coisas da minha infância — quero agradar meu pai, minha mãe, meu avô, minha avó e eu deixo de realizar as minhas capacitações. Quero obedecer meu pai, minha mãe. Por exemplo, eu gosto de jogar futebol. Minha mãe é contra futebol. Então eu não jogo bola para agradar mamãe. Mas vou passar o resto da minha vida pensando que eu adoraria jogar futebol. Será que isso está certo? Então a gente tem que prestar mais atenção em conhecer a si, em conhecer seu eu verdadeiro. Nós falamos: conhecer a sua “Natureza Buda”, a natureza desperta que habita cada um de nós, mas ela só se manifesta, se nós provocarmos a sua manifestação.

Deixar ir parece uma afronta à nossa identidade, ao ego. Como a meditação pode nos ajudar a encarar essa parte que se vai?

Boa essa palavra: en-ca-rar. Às vezes, não queremos encarar. Quando o Buda teve sua experiência mística, a primeira coisa que ele disse foi: “Dukkha existe”. Dukkha seria “sofrimento”, “insatisfação”, né? Esse abandonar é exatamente isso. A tradução que se dá literalmente. Dukkha significa “não encarar”. Eu não quero encarar a tristeza. Não quero encarar a dor. Não quero encarar as dificuldades que eu atravesso. Não quero me desapegar de personagens que eu criei para mim. Mas eles não servem mais. Nós não estamos mais no berço. Nós crescemos. E precisamos nos tornar o nosso eu verdadeiro, que está sempre em reformulação. Não é fixo, nem permanente. E abrir mão é abrir possibilidades. Abrir novas portas de compreensão e conexão com o todo, com o cosmos, com a vida.

Informações

As vagas são limitadas para quem quer assistir à esta palestra. Então, garanta sua entrada via Sympla, havendo opção para ingresso social, com entrega de 1 kg de alimento não perecível (com destinação à ONG Moradia e Cidadania). Confira no QR Code ou neste link: https://www.sympla.com.br/evento/ser-santo-e-possivel-com-monja-coen/3105264.


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