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Dólar e Real, relação de altos e baixos
O ganho acima de 4% para as ações da Petrobras na sessão foi o contraponto favorável na B3 ao inesperado corte de mais de 1 milhão de barris/dia na produção da Opep+, que havia sido antecipado no domingo, fora de encontro do cartel, e confirmado hoje em reunião do grupo - uma dinâmica que chamou a atenção do mercado, alerta a sinais que possam resultar em pressão adicional sobre a inflação global, em cenário de juros já muito altos.
Assim, fora do setor de petróleo, o dia foi majoritariamente negativo para outros carros-chefes da Bolsa, como as ações de grandes bancos, que cederam até 2,79% (Itaú PN) no fechamento. Com a restrição da oferta da commodity, os preços do petróleo subiram mais de 6% nesta segunda-feira.
O Ibovespa encerrou em baixa pelo segundo dia, hoje de 0,37%, aos 101.506,18 pontos, entre mínima de 100.650,55 e máxima de 101.915,71 pontos na sessão, em que saiu de abertura aos 101 883,21 pontos. O giro financeiro se manteve acomodado neste começo de semana, a R$ 21,7 bilhões. No ano, o Ibovespa cede agora 7,50%.
Em Nova York, a decisão da Opep elevou os preços de ações do setor de energia e ajudou o blue chip Dow Jones a fechar em alta de 0,98%, acompanhado de longe pelo índice amplo, o S&P 500, que avançou 0,37% nesta segunda-feira. Por outro lado, o Nasdaq, que reúne as ações do setor de tecnologia, as de "crescimento", mais expostas à perspectiva para os juros e o custo de crédito, cedeu hoje 0,27%.
"Os mercados globais tiveram um começo instável no segundo trimestre, devido ao plano surpresa da Opep+ de reduzir a produção de petróleo, que aumentou os temores de inflação elevada e fez com que os investidores reduzissem apostas em uma inclinação 'dovish' do Federal Reserve", aponta em nota a Guide Investimentos.
"Aqui, os juros futuros chegaram a subir durante o dia, mas depois passaram a cair, e o dólar ficou praticamente estável. O corte surpresa da Opep+, que vem depois de um período de mínimas para a commodity, foi a principal notícia neste começo de semana, com foco do mercado sobre fatores como custo de energia e fretes, que pressionam inflação. É preciso ver até onde vai esse aumento de preços", diz Matheus Willrich, especialista em renda variável da Blue3 Investimentos, destacando ainda a agenda da semana, que culmina na sexta-feira com o relatório sobre o mercado de trabalho nos Estados Unidos em março, o 'payroll'.
"A decisão dos produtores da Opep+ em cortar a produção de petróleo vai dar suporte aos preços, contanto que o esperado aumento de demanda se materialize mais para o fim de 2023. Este corte ajudará a manter os preços acima de nossa faixa de preços de médio prazo, entre US$ 55 e US$ 75/barril", aponta em nota Elena Nadtotchi, vice-presidente sênior da Moodys Investors Service.
Na ponta do Ibovespa na sessão, destaque para Petrobras ON (+4,76%) e PN (+4,43%) à frente de Prio (+3,88%), Natura (+2,80%) e Suzano (+2,74%). No lado oposto, Renner (-7,00%), Hapvida (-6,49%), Soma (-5,80%) e Marfrig (-5,12%).
Em desdobramento negativo nesta abertura de semana, a desaceleração do PMI industrial da China em março - ao nível neutro de 50,0 no mês - afetou em boa parte da sessão, ainda que em grau moderado, as ações da Vale, que viraram no fim do dia (ON +0,02%), contribuindo para reduzir as perdas do Ibovespa no encerramento. A sessão também foi parcialmente negativa para as ações de siderurgia, com destaque para CSN (ON -2,20%). Assim, em dia misto para as ações de commodities, expostas à demanda externa, o índice de materiais básicos fechou em leve alta de 0,37%, enquanto o índice de consumo, com exposição ao ciclo doméstico, recuou 2,23% nesta segunda-feira.
Dólar
Com trocas de sinais e oscilação contidas, de cerca de quatro centavos entre mínima (R$ 5,0415) e máxima (R$ 5,0820), o dólar encerrou a primeira sessão de abril em ligeira alta (+0,05%), cotado a R$ 5,0709, após ter recuado 2,99% em março. Foi o primeiro avanço da moeda depois de uma sequência de seis pregões consecutivos de baixa, período em que acumulou desvalorização de 4,18Nova York, 03/04/2023 - %. Segundo operadores, o dia foi marcado por cautela e ajuste de posições, com investidores refreando novas apostas enquanto ponderam os impactos da proposta de novo arcabouço fiscal e digerem indicadores externos
Lá fora, o índice DXY - que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de seis moedas fortes - chegou a ensaiar uma alta e superar pontualmente os 103,000 pontos, com preocupações inflacionárias diante da disparada do petróleo. A Opep+ anunciou, de forma inesperada, corte de produção de 1,66 milhão de barris por dia de maio até o fim de 2023. O contrato do Brent para junho subiu 6,31%, a US$ 84,93 o barril. Mas o índice perdeu fôlego e passou a maior parte da tarde em baixa, tendo rompido os 102,000 pontos na mínima, após dados fracos da economia americana (indústria e construção) suscitarem temores de recessão e espaço limitado para mais altas de juros pelo Federal Reserve.
Analistas afirmam que a perspectiva de manutenção de taxa real de juros doméstica elevada, mesmo com provável corte da Selic a partir do segundo semestre, serve de âncora para o real. Além disso, a possibilidade de fim iminente do aperto monetário nos EUA deve manter o diferencial de juros interno e externo expressivo, estimulando operações de "carry trade".
Para o analista de câmbio da corretora Ourominas Elson Gusmão, após a forte rodada de apreciação do real, investidores entraram em compasso de espera. "Por enquanto, a proposta do novo arcabouço, com aposta majoritária em aumento da receita, é apenas uma carta de boas intenções e os investidores ainda querem saber como isso vai ser realizado na prática", afirma.
Em entrevista à GloboNews hoje à tarde, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, listou o que considera uma série de distorções tributárias e reveses jurídicos da receita, que - se revertidos - podem turbinar a arrecadação. Ele refutou a tese de que seria necessário aumento bruto da carga tributária para o governo zerar o déficit primário e passar a obter superávits.
Haddad disse que, qualquer que seja o parâmetro do arcabouço para o ano que vem, se houver arrecadação entre R$ 110,0 bilhões e R$ 150,0 bilhões, o déficit será zerado. "Não precisa aumentar e nem criar imposto para atingir esse objetivo. Basta cobrar de quem não paga", afirmou Haddad, citando que há hoje cerca de R$ 400 bilhões em incentivos fiscais.
Para o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, os fatores externos e internos não são favoráveis para as projeções de inflação e juros. "Do exterior, a nova trajetória do preço do barril e, no Brasil, um arcabouço fiscal que não é anticíclico e que depende da arrecadação. Estimamos até que o governo aumente a carga tributária se quiser cumprir a meta do primário" afirma Velho, para quem a eventual "precificação de menor espaço para queda da Selic em 2023 mantém o dólar inferior a R$ 5,20 no curtíssimo prazo".
Juros
Os juros fecharam a segunda-feira de lado, numa sessão de liquidez mais enxuta. Após a escalada do petróleo trazer desconforto pela manhã, à tarde houve alívio nos prêmios de risco tanto pela virada dos retornos dos Treasuries para baixo quanto pela leitura entre neutra e positiva da entrevista do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, à GloboNews. Além de tratar do arcabouço fiscal, o ministro abordou a questão dos debates sobre as metas, das trocas na diretoria do Banco Central (BC) e da condução da política monetária. As taxas chegaram a ensaiar um movimento mais firme de queda, mas que perdeu força no fechamento.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 13,22%, de 13,19% no ajuste de sexta-feira e a do DI para janeiro de 2025 passou de 12,01% para 11,97%. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 12,06%, de 12,07%, e a do DI para janeiro de 2029 ficou em 12,48%, de 12,51%.
Os mercados amanheceram repercutindo a notícia de que a Opep+ decidiu reduzir a oferta de petróleo, mais tarde oficializada em 1,6 milhão de barris por dia, a partir de maio até o fim do ano para estancar a queda dos preços. Houve estresse nos ativos, dados os receios de que o risco inflacionário subisse a ponto de tornar a política monetária dos bancos centrais ainda mais hawkish. Os preços do petróleo dispararam 6%. A aposta de alta de juros pelo Federal Reserve em maio chegou a ser majoritária. Nesse contexto, os yields dos Treasuries subiam, carregando junto a curva local.
Porém, dados de atividade nos Estados Unidos abaixo do esperado no fim da manhã levaram as taxas das T-Notes a inverter o sinal para baixo, tornando também mais equilibradas as apostas para a próxima reunião do Fed. Com isso, a alta das taxas na B3 começou a perder fôlego até inverter para a queda, coincidindo com a entrevista do ministro. Nas mesas, a avaliação é de que as declarações ajudaram a diminuir um pouco os ruídos, embora persista a desconfiança de que o governo vá conseguir entregar as metas de primário estabelecidas no novo marco e melhorar a trajetória da dívida/PIB sem aumentar impostos.
Haddad voltou a negar tal ideia e reforçou que a receita será encorpada pela correção de distorções, combate à sonegação e enfrentamento de reveses tributários que o governo tem sofrido na Justiça. O ministro falou ainda que, se o arcabouço for aprovado com a credibilidade necessária, o BC terá de reagir em algum momento. "Não faz sentido manter a taxa de juros perto de 14,0%", disse. Ao mesmo tempo, disse que é preciso estar pilotando o BC para fazer palpites. Ele ponderou, no entanto, que economistas renomados avaliam que, com quase 8% de juro real ou 6,5%, a depender do cálculo, há espaço para corte.
Os agentes viram como positiva especialmente a afirmação dele de que nunca discutiu sobre mudança na meta de inflação determinada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). O ministro disse que, na sua avaliação, o "cronograma ideal" era resolver primeiro a questão da política fiscal. Sobre as diretorias do BC que estão para ser preenchidas, afirmou ter levado ao presidente Lula cinco sugestões de nomes, mas negou que o chefe do Executivo tenha batido o martelo sobre os escolhidos.
Haddad tem reunião nesta tarde com o presidente do BC, Roberto Campos Neto, para tratar do arcabouço e "outros assuntos", classificada por ele como "dever de ofício". Afirmou que, apesar das visões distintas sobre a realidade econômica, no campo pessoal não tem problemas com o presidente da autarquia e que ambos sabem de suas obrigações institucionais.
As taxas chegaram a se firmar em queda durante a entrevista, mas num movimento com pouca sustentação. Para a economista Ariane Benedito, da Esh Capital, o alívio não teve caráter perene porque o mercado segue cético sobre a capacidade de geração de receitas a partir da estratégia da Fazenda. "A gestão das receitas segue em aberto. A tentativa de taxação de setores que hoje não pagam impostos é válida, mas a questão é como fazer isso. São muitas vertentes a se arrumar e etapas políticas a se cumprir. Talvez não dê tempo de surtir efeito. Este ano já sabemos que não tem como", afirmou.
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