ECONOMIA

Ibovespa sobe 0,10%, aos 132,8 mil pontos, com suporte de Petrobras

Dólar à vista encerra cotado a R$ 4,9151, praticamente estável (-0,01%)
Por Estadão Conteúdo 04/01/2024 - 04:20
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Divulgação
Dólar e Real, relação de altos e baixos
Dólar e Real, relação de altos e baixos

Em dia de alta para o petróleo, e amparado no forte desempenho de Petrobras (ON +3,40%, PN +3,12%), o Ibovespa obteve leve ganho de 0,10%, aos 132.833,95 pontos, revertendo fração da perda de 1,11% observada na primeira sessão do ano, ontem. Na máxima desta quarta-feira, 3, no meio da tarde, o índice da B3 mostrou alta de 0,66%, aos 133.575,58, saindo de mínima a 132.250,07 e de abertura aos 132.696,78 pontos. Na semana, o Ibovespa ainda cede 1,01%, no agregado de duas sessões. O giro financeiro subiu hoje para R$ 21,6 bilhões.

No exterior, a cautela deu o tom aos negócios desde cedo, em meio a realinhamento de expectativas quanto ao ritmo de corte dos juros de referência nos Estados Unidos este ano, movimento que limitou o viés de alta do Ibovespa na sessão, após uma abertura de ano em realização de lucros. Com o foco posto nos juros americanos neste início de 2024, o marco definidor da sessão tenderia a ser a ata da mais recente reunião de política monetária do Federal Reserve, conhecida às 16h. Mas o teor do documento, afinal, não alterou o sinal de Nova York e de São Paulo. Em NY, as perdas no fechamento de hoje iam de 0,76% (Dow Jones) a 1,18% (Nasdaq).

A chance de o Federal Reserve (Fed) iniciar o ciclo de relaxamento monetário já este mês diminuiu nesta quarta-feira, conforme a plataforma do CME Group que monitora o comportamento da curva futura. Para o fim do ano, a ferramenta ainda apontava cenário mais provável de corte acumulado de 150 pontos-base nos juros, mas a probabilidade de a taxa básica seguir entre 5,25% e 5,50% na reunião de janeiro era de 91,2% no início da tarde de hoje, comparada a 87,6% ontem. Como consequência, a hipótese de haver uma redução recuava de 12,4% para 8,8%.

"A sessão foi bem volátil hoje, com os Estados Unidos ainda mandando no jogo, e foco nos próximos passos do Fed, que é o que tem ditado o comportamento dos mercados. E os mercados vinham colocando muito preço na expectativa de que o corte de juros pelo BC americano virá já em março", diz Erik Sala, especialista em investimentos da DVInvest.

Na ata desta tarde, os dirigentes do Fed apontaram que a taxa de juros está provavelmente no "pico ou perto dele", e que todos os integrantes do colegiado observaram claro progresso, em 2023, em relação à meta de inflação. O documento do BC dos EUA aponta também que a inflação permanece alta no país, apesar da desaceleração vista no último ano.

Para a BMO Capital Markets, o tom da ata foi "hawkish" duro, com sinais de que o Fed pode adiar o início do ciclo de corte de juros. Segundo essa análise, o BC americano reforçou o elevado grau de incerteza quanto à trajetória dos juros, o que ampara a tese de que a expectativa por afrouxamento monetário em março é prematura.

Assim, a chance de o Federal Reserve cortar os juros a partir de março recuou levemente após a divulgação da ata, segundo a ferramenta FedWatch, do CME Group. Antes da divulgação do documento, que reforçou que dirigentes desejam manter os juros restritivos por um tempo, a precificação era de 74,5%. Após a ata, a probabilidade caiu para 70,8%. Já a chance de que a taxa permaneça na faixa atual ainda em março aumentou de 25,5% para 29,2%.

"A ata reafirma a ideia de manter o patamar de juros, sem precificar ainda um corte de forma prematura. Os juros devem ser mantidos por mais tempo, e o dólar reagiu a princípio positivamente, nos contratos futuros, mas poucos minutos depois já retornava ao patamar 'pré-notícia'", sem tanto reflexo também para as ações, aqui e fora, observa Alan Soares, analista da Toro Investimentos. No fechamento desta quarta-feira, o dólar à vista mostrava estabilidade (-0,01%), a R$ 4,9151.

Além da aguardada ata do Fed, principal ponto da agenda econômica nesta quarta-feira, o mercado tomou nota também do aguçamento da tensão geopolítica no Oriente Médio, com efeito direto para a precificação de ativos como as commodities, especialmente o petróleo, que subiu hoje na casa de 3% em Londres e Nova York.

Mais de 100 pessoas morreram e 170 ficaram feridas no Irã, nesta quarta-feira, em uma dupla explosão durante homenagem ao general Qassim Suleimani, informou a televisão estatal iraniana. As explosões ocorreram perto do túmulo do general em uma mesquita na cidade de Kerman, no sul do país, disse a emissora. A TV estatal afirma que o caso é tratado como um "ataque terrorista"

Os Estados Unidos não estão envolvidos nas explosões no Irã e não têm motivos para acreditar que Israel esteve, disse o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Matthew Miller, reporta a agência Reuters.

Milicianos apoiados pelo Irã, os Houthis, do Iêmen, confirmaram hoje que realizaram uma operação contra navio da CMA CGM Tage que, segundo o grupo, "dirigia-se aos portos da Palestina ocupada". Em comunicado, o porta-voz Yahya Saree afirmou que o ataque ocorreu depois de a tripulação do navio ter se recusado a responder a chamados das forças navais do Iêmen, incluindo mensagens de alerta.

Em outro desdobramento sobre a situação no Oriente Médio, o chefe do Hezbollah, Hasan Nasrallah, disse que Israel enfrentará "resposta e punição", um dia após a morte do vice-líder do Hamas, Saleh al-Arouri. Um suposto ataque feito por drone de Israel teria atingido al-Arouri no subúrbio de Beirute, capital do Líbano. Nasrallah afirmou também que "se o inimigo pensar em travar uma guerra contra o Líbano, irá arrepender-se". O governo libanês, por sua vez, tenta fazer com que o Hezbollah mostre moderação.

Além disso, relatos de que manifestantes da cidade de Ubari, no sudoeste da Líbia, fecharam o campo petrolífero de Sharara, um dos maiores e mais importantes do país, contribuíram para a pressão sobre os preços da commodity observada ao longo do dia.

Na ponta do Ibovespa nesta quarta-feira, além das duas ações de Petrobras, destaque também para Pão de Açúcar (+10,50%), Soma (+5,31%), Cielo (+3,74%) e Prio (+3,37%). No lado oposto, BRF (-4,91%), Azul (-3,33%), Braskem (-2,84%) e JBS (-2,78%). As ações de grandes bancos tiveram desempenho misto no fechamento da sessão, entre baixa de 1,10% (Itaú PN, na mínima do dia no encerramento) e leve ganho de 0,12% (Bradesco PN). O dia também foi de ajuste moderado, em viés negativo, para a ação de maior peso no Ibovespa, Vale ON (-0,52%).

Dólar


Em sessão instável e marcada por trocas de sinal, o dólar à vista encerrou cotado a R$ 4,9151, praticamente estável (-0,01%). As oscilações ao longo do pregão ocorreram entre margens estreitas, com variação de pouco mais de quatro centavos entre mínima (R$ 4,9005) e máxima (R$ 4,9410). Lá fora, o dólar avançou em comparação à maioria das divisas fortes e emergentes, em meio ao aumento das tensões geopolíticas no Oriente Médio e à divulgação da ata do Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA).

Segundo operadores, após o avanço de 1,29% do dólar no mercado doméstico ontem, investidores adotaram uma postura mais cautelosa, evitando apostas mais contundentes. Ruídos políticos que causaram apreensão ontem, após veto do presidente Lula ao cronograma de pagamento de emendas parlamentares, ficaram hoje em segundo plano.

O tom positivo do Ibovespa, que voltou a superar os 133 mil pontos, na contramão das bolsas de Nova York, e a valorização das commodities, em especial do petróleo, contribuíram para que o real não fosse muito contaminado pela maré externa. O contrato do petróleo tipo Brent para março fechou em alta de 3,11%, cotado US$ 78,25 o barril.

Principal evento do dia, a divulgação da ata do Fed provocou certa volatilidade. Em um primeiro momento, houve reação negativa, com aprofundamento das perdas das bolsas em Nova York, máxima do dólar em relação ao euro e virada nas taxas dos Treasuries para campo positivo. Logo em seguida, contudo, os efeitos negativos se dissiparam, com mercados acionários e a moeda americana voltando aos níveis vistos antes da divulgação do documento, e os retornos dos Treasuries passando a recuar.

A ata revelou que os dirigentes do BC americano veem a taxa básica de juros "no pico ou perto dele", com riscos mais equilibrados entre inflação e emprego. A expectativa é de arrefecimento da atividade econômica neste ano e um mercado de trabalho, ainda muito apertado, rumo a um nível mais equilibrado Apesar do grau elevado de incerteza, vislumbra-se uma política monetária menos restritiva, com possibilidade de cortes de juros em 2024.

Na plataforma da CME, as chances de uma redução dos Fed Funds em março permanecem amplamente majoritárias, acima de 70%, embora tenham apresentado leve queda após a divulgação da ata. Foi justamente a aposta de redução dos juros ainda no primeiro trimestre deste ano que embalou um rali de ativos de risco nos últimos meses de 2023. A curva de juros americano ainda embute uma redução de 150 pontos-base da taxa básica neste ano.

Por aqui, o BC divulgou pela manhã que a conta corrente apresentou déficit de US$ 1,553 bilhão em novembro, bem acima da mediana de projeções Broadcast (-US$ 500 milhões). Mesmo assim, foi o menor saldo negativo para os meses de novembro desde 2016. No ano, até novembro, a conta corrente apresenta déficit de US$ 22,2 bilhões. Já o resultado do Investimento Estrangeiro no País (IDP) foi de US$ 7,780 bilhões em novembro, o melhor para o mês desde 2019 e acima do teto das estimativas de Projeções Broadcast (US$ 7,50 bilhões).

Segundo o economista-chefe do Banco Pine, Cristiano Oliveira, os números divulgados hoje confirmam, de maneira geral, um cenário de robustez das contas externas que deve continuar a beneficiar o real na comparação com outras moedas emergentes. "Vemos o dólar fechar o ano em torno de R$ 4,75, após se aproximar de R$ 4,50 em meados do ano", afirma Oliveira.

Juros


Os juros futuros encerraram o dia próximos dos ajustes de ontem, depois de oscilarem entre quedas e altas moderadas ao longo da sessão. Refletiram, principalmente, ajustes nos rendimentos dos Treasuries, enquanto o mercado tenta calibrar as apostas nos próximos passos da política monetária americana.

A ata da reunião de dezembro do Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA) foi a principal responsável por movimentar os juros. Logo após a divulgação, foi lida como hawkish e fez os Treasuries - e, por tabela, os juros domésticos - subirem. Mas o mercado realinhou a interpretação do texto, o que aliviou as taxas aqui e lá fora.

No fim da sessão, a taxa do contrato de depósito interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 era de 10,030%, 1 ponto-base menor do que a do ajuste anterior, de 10,040%. O DI para janeiro de 2027 tinha 9,760%, ante 9,749% no ajuste, enquanto o DI para janeiro de 2029 mostrava 10,135%, de 10,121% no ajuste.

Os Treasuries também chegaram ao fim da tarde com viés de baixa. O rendimento da T-Note de dois anos ficou em 4,3332%, estável em relação a ontem. E o juro da T-Note de dez anos caiu de 3,937% para 3,911%, depois de ter superado a linha de 4% mais cedo, na máxima intradia.

Na ata de dezembro, os dirigentes do Fed disseram que os juros estão "no pico, ou perto dele." Eles reconheceram uma queda da inflação americana, mas destacaram que ela permanece elevada e que são necessárias mais evidências para convencê-los de um retorno sustentável à meta, de 2%.

Apesar dessa mensagem, a Capital Economics afirma, em relatório, que o tom da ata foi mais dovish do que se esperava. "Mais em linha com a mensagem do presidente do Fed, Jerome Powell, na coletiva de imprensa de dezembro do que com comentários pós-reunião mais hawkish de outros dirigentes do Fed", diz a consultoria.

Na mesma linha, o gestor de multimercados e renda fixa da Mag Investimentos, Ricardo Jorge, afirma que a ata pareceu, no contexto geral, mais dovish do que o esperado. Isso, ele diz, contribuiu para levar os rendimentos dos Treasuries ao terreno negativo e permitiu a estabilização dos DIs em torno dos ajustes da véspera.

Para o gerente de renda fixa e distribuição de fundos da Nova Futura Investimentos, André Alírio, as dúvidas sobre a condução da política monetária nos Estados Unidos deram o tom da sessão hoje. Mas parte da volatilidade dos juros também pode ser atribuída a dois outros fatores: a realocação de portfólios no início do ano e alguma incerteza fiscal.

"No fim do ano passado, foi embutido muito otimismo com relação à política monetária no Brasil e lá fora, e é natural que, no início do ano, a realocação dos portfólios tenha um pouco mais de cautela", diz Alírio.

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