saúde

Intoxicação por bebida adulterada com metanol exige socorro imediato

Especialista reforça que o tempo de atendimento pode evitar cegueira e salvar vidas
Por Redação com assessoria 08/10/2025 - 05:41
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O metanol — também conhecido como álcool metílico — é utilizado industrialmente como solvente e combustível
O metanol — também conhecido como álcool metílico — é utilizado industrialmente como solvente e combustível

Usado amplamente na indústria como solvente e combustível, o metanol, também conhecido como álcool metílico, representa um grave risco à saúde quando ingerido. No organismo humano, a substância é metabolizada em formaldeído e ácido fórmico, compostos altamente tóxicos que atacam o sistema nervoso central, os nervos ópticos, o fígado e os rins. A intoxicação pode causar cegueira irreversível, falência múltipla de órgãos e até a morte.

De acordo com o Dr. Adriano Faustino, médico nutrologista e especialista em metabolismo, o perigo do metanol está justamente na sua capacidade de enganar o corpo. “Nas primeiras horas, os sintomas se parecem com os de uma embriaguez comum. Muitas pessoas acreditam estar apenas alcoolizadas e demoram a buscar ajuda médica”, explica. Essa demora, segundo ele, é o que torna o quadro tão grave: “Quando a pessoa percebe que não se trata de uma ressaca, muitas vezes já está em fase avançada de intoxicação.”

Dr. Adriano Faustino, médico nutrologista e especialista em metabolismo
Dr. Adriano Faustino, médico nutrologista e especialista em metabolismo

A evolução do envenenamento pelo metanol ocorre em etapas. Nas primeiras 12 horas, surgem sintomas leves, como náusea, dor abdominal, tontura e dor de cabeça, facilmente confundidos com os de uma ressaca. No entanto, o corpo já apresenta alterações metabólicas perigosas, como acidose metabólica e aumento do osmolar gap, indicadores de que o metabolismo começa a falhar.

Entre 12 e 24 horas após a ingestão, o efeito tóxico se concentra nos olhos. O ácido fórmico inibe a produção de energia nas mitocôndrias, afetando a retina e o nervo óptico. A visão se torna borrada, sensível à luz e com pontos luminosos. “O nervo óptico é extremamente vulnerável. Sem energia, ele morre rapidamente, levando à cegueira permanente se o tratamento não for imediato”, alerta o médico.

Após 48 horas, os efeitos são devastadores. O acúmulo de ácido fórmico atinge o sistema nervoso central, podendo provocar convulsões, coma e arritmias cardíacas. Órgãos vitais entram em colapso progressivo. “Depois de dois dias sem atendimento, a reversão dos danos é quase impossível. Cada hora é decisiva para evitar sequelas ou o óbito”, reforça o Dr. Faustino.

O especialista explica que o metanol é particularmente traiçoeiro porque compete com o etanol pela mesma enzima no fígado, a álcool desidrogenase. Enquanto o álcool comum é metabolizado em substâncias menos nocivas, o metanol é convertido em venenos potentes. “O fígado, que normalmente nos protege, acaba se tornando uma biofábrica de toxinas no caso do metanol”, resume.

Por isso, a prevenção é a única forma segura de evitar tragédias. O médico alerta que bebidas adulteradas podem ter cheiro e gosto semelhantes aos de bebidas legítimas, tornando impossível identificar o perigo a olho nu. “O cuidado precisa vir antes da ingestão. É fundamental evitar produtos de procedência duvidosa”, enfatiza.

O tratamento da intoxicação inclui o uso de antídotos como o fomepizol ou o etanol, que competem pela mesma via metabólica; hemodiálise para remover rapidamente o metanol e o ácido fórmico; bicarbonato de sódio para corrigir a acidose e ácido folínico ou fólico para acelerar a desintoxicação.

“O tempo é o fator decisivo entre a vida e a morte. A busca imediata por atendimento médico pode salvar a visão e a vida da pessoa”, conclui o Dr. Adriano Faustino, médico legista e professor universitário com atuação nas áreas de nutrologia, geriatria e medicina funcional, além de diretor da Sociedade Brasileira de Medicina da Longevidade.


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