Fraude

Como a “mulher fantasma” ajudou a PF a desvendar esquema no CNU

Enfermeira de 32 anos foi identificada como executora de fraudes em concursos
Por Larissa Cristovão - Estagiária sob supervisão 09/10/2025 - 20:20
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Reprodução
Ela também está ligada a documentos falsos e gabaritos idênticos
Ela também está ligada a documentos falsos e gabaritos idênticos

A investigação da Polícia Federal (PF) sobre fraudes em concursos públicos revelou que Anacleide Pereira Feitosa e Sandra Cristina Neves de Queiroz Soares, inscritas no concurso para agente e delegado da Polícia Civil de Pernambuco, não compareceram às provas. Quem se apresentou aos fiscais e respondeu às questões no lugar das candidatas foi Mariana Abreu Andrade Cirilo, enfermeira de 32 anos, servidora em Alagoas, apontada como executora recorrente desse tipo de fraude.

O esquema foi descoberto a partir da análise da nuvem de dados de Laís Giselly Nunes de Araújo, conhecida como a “candidata gênio”, presa na Operação Última Fase. Entre os arquivos, peritos localizaram fotografias feitas dentro da sala de prova e imagens de uma CNH em nome de Sandra e Anacleide, mas com a foto de Mariana, documento que, segundo a PF, foi produzido na véspera do exame.

A prática consiste em adulterar documentos de identidade para que a executora entre no lugar do candidato original, passe pela conferência dos fiscais e realize a prova em seu lugar. No caso de Pernambuco, fotos do caderno também indicam que o material era utilizado para outros braços do esquema.

Mariana já havia sido presa em abril de 2024, durante prova da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte, quando fiscais encontraram dispositivo eletrônico e celular em sua posse. A ligação com o grupo de Pernambuco veio à tona na análise da nuvem de Laís, que revelou CNHs falsas, registros de comunicação e comprovantes de pagamento, indicando a participação habitual de Mariana. A PF solicitou a prisão preventiva da enfermeira, que aguarda decisão judicial.

Gabaritos idênticos no CNU

O nome de Sandra voltou a aparecer na investigação ao lado da filha, Mylanne Beatriz Neves de Queiroz Soares, no Concurso Nacional Unificado (CNU) de 2024, para o cargo de auditor fiscal do trabalho. A comparação de gabaritos mostrou respostas idênticas, inclusive na única questão errada, algo considerado estatisticamente incompatível com o acaso.

Segundo a PF, o grupo utilizava gabaritos fornecidos previamente aos candidatos pagantes, com instruções em “palavras-chave” a serem transcritas nos cartões-resposta durante a prova.

Mãe e filha no foco financeiro

A investigação também acompanha movimentações bancárias de Sandra e Mylanne, com indícios de pagamentos relevantes pelo serviço de fraude. Foram identificadas operações dissimuladas por empresas de pagamento e uso de terceiros, padrão já verificado em outros integrantes do grupo.

Em relação a Mylanne, a Justiça Federal determinou medidas cautelares que impedem a posse no cargo até o desfecho das investigações. Sandra e Mylanne respondem por fraude em certame, uso de documento falso e participação em organização criminosa, com penas que podem ultrapassar 20 anos, dependendo do enquadramento final.


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