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Associação alerta que “Bet da Caixa” pode agravar endividamento
Educadores veem conflito entre o papel social dos bancos e o incentivo a apostas
O anúncio de que a Caixa Econômica Federal lançará sua própria plataforma de apostas online até o fim de novembro gerou forte reação entre especialistas e entidades do setor financeiro. A Associação Brasileira de Profissionais de Educação Financeira (Abefin) classificou a iniciativa — apelidada informalmente de “Bet da Caixa” — como uma ameaça à saúde financeira da população.
A proposta do banco público prevê operar tanto em canais digitais quanto em casas lotéricas, com expectativa de arrecadação entre R$ 2 bilhões e R$ 2,5 bilhões já em 2026. A notícia surpreendeu até o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que pediu explicações sobre o projeto.
Para o presidente da Abefin, Reinaldo Domingos, o envolvimento de instituições financeiras em atividades de apostas fere a missão social dos bancos. “Como representantes dos profissionais de educação financeira do país, manifestamos repúdio à decisão. Não se trata de atacar o governo, mas de questionar a concessão de uma atividade que não deveria estar atrelada a instituições financeiras”, afirmou.
Domingos argumenta que o sistema bancário deve proteger o patrimônio dos cidadãos e promover o equilíbrio econômico. “O sistema financeiro é um grande aliado da sociedade: gera empregos, protege recursos e viabiliza políticas sociais, como habitação e transferência de renda. Transformar essa função em uma plataforma de apostas corrompe seus valores e sua missão”, disse.
A entidade defende que o foco dos bancos deveria ser o incentivo à educação financeira, por meio de campanhas de consumo consciente, planejamento orçamentário e prevenção ao endividamento. “O papel de um banco vai além de movimentar dinheiro. Ele deve orientar as pessoas para decisões financeiras responsáveis, gerando impacto positivo real na sociedade”, destacou Domingos.
A Abefin também alerta para os riscos sociais da nova aposta estatal, especialmente para famílias em situação de vulnerabilidade. “Já há relatos de benefícios sociais sendo usados em jogos de azar. Se bancos públicos entrarem nesse mercado, haverá uma dilapidação ainda maior dos recursos das famílias mais pobres. É preciso preservar a integridade do sistema financeiro brasileiro”, afirmou.
A associação pede que o Banco Central se manifeste sobre a compatibilidade de uma plataforma de apostas com a missão das instituições financeiras. Para a entidade, o caminho mais responsável seria fortalecer a educação financeira comportamental, assegurando que o sistema bancário continue cumprindo seu papel social e econômico no país.



