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Reforma Tributária pode travar pagamentos de empresas em janeiro
72% das empresas ainda não se prepararam para as novas regras fiscaisA menos de 90 dias da entrada em vigor das primeiras exigências da Reforma Tributária, a maioria das empresas brasileiras ainda não se prepararam para as mudanças que vão impactar diretamente o setor financeiro e operacional. Um levantamento da V360, principal plataforma de automação de pagamentos do país, revela que 72% das empresas de médio e grande porte não estão prontas para adaptar seus processos de emissão, recepção e conciliação de notas fiscais.
A reforma unifica tributos sobre o consumo e cria novos impostos: a CBS, o IBS e o IS, alterando completamente como as notas fiscais são emitidas e validadas. As novas versões da NF-e e NFC-e trarão cerca de 200 novos campos, exigindo atualização de sistemas e integração entre áreas fiscais, contábeis, financeiras e de tecnologia.
Segundo especialistas, o impacto pode ser imediato. Se as empresas não se adequarem até janeiro, correm risco de bloqueio de faturamento e impossibilidade de pagar fornecedores, o que pode levar à paralisação das operações e à perda de receita.
“Não se trata apenas de atualizar o ERP. A Reforma exige uma revisão completa de processos. Se a empresa não conseguir emitir e liquidar notas, ela pode simplesmente parar”, alerta Izaias Miguel, co-CEO da V360.
O levantamento mostra ainda que 33,2% das empresas sequer discutiram internamente os impactos da Reforma, enquanto 38,6% apenas iniciaram um diagnóstico preliminar, sem plano de ação definido. Apenas 28,1% já estruturaram uma estratégia de adaptação.
Além da emissão de notas, a etapa conhecida como ingresso fiscal, que envolve o recebimento, validação e pagamento das notas de fornecedores é apontada como uma das mais críticas. “O mercado está concentrado em entender como emitir dentro das novas regras, mas o grande impacto estará em como receber e pagar notas corretamente. Se essa etapa falhar, toda a cadeia trava”, explica Miguel.
Outro ponto de atenção é a adoção das duplicatas escriturais, que passam a ser obrigatórias para comprovação eletrônica das operações comerciais. O estudo indica que 32,7% das empresas ainda não iniciaram o processo de adaptação, e apenas 11,5% já realizam o procedimento de forma automatizada.
Mais da metade das companhias entrevistadas (55,8%) ainda operam com processos fiscais parcialmente estruturados ou dependem de atividades manuais. Essa defasagem aumenta o risco de erros, retrabalho e multas por descumprimento das novas exigências.
“Muitas empresas não previram essa adequação no orçamento de 2025. Se deixarem para agir apenas no último trimestre, podem enfrentar escassez de consultorias e cronogramas inviáveis”, complementa o executivo.
A reforma será implementada de forma gradual até 2033, mas as mudanças nas notas fiscais e no fluxo de pagamentos já entram em vigor a partir de janeiro de 2026. Especialistas reforçam que, sem ajustes tecnológicos e de gestão, o início do novo ano fiscal pode ser marcado por instabilidade e atrasos nas operações.



