caos em brasília
Após derrota do governo, aliados de Lula dizem sentir falta de Arthur Lira
Crise envolvendo o IOF expõe falhas na articulação de Hugo Motta
A derrubada do decreto que aumentaria o IOF reacendeu tensões entre o governo Lula e a presidência da Câmara dos Deputados. A articulação do atual presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), pegou o Planalto de surpresa e impôs à gestão petista uma das maiores derrotas deste terceiro mandato. Nos bastidores, líderes da base governista passaram a lembrar com saudosismo do antecessor, o alagoano Arthur Lira (PP).
“Que saudades do Lira”, resumiu uma liderança do PT, destacando que, apesar do estilo autoritário, Lira “cumpria acordos e entregava resultados”. A crítica a Motta se intensificou após a votação relâmpago, realizada em uma semana tradicionalmente esvaziada em Brasília por conta dos festejos juninos. O Planalto esperava mais tempo para tentar evitar o revés.
Além do prejuízo político, a equipe econômica estimava perder R$ 10 bilhões com a queda do decreto. A falta de comunicação com o presidente da Câmara agravou a situação: Motta não atendeu ligações da ministra Gleisi Hoffmann (Secretaria de Relações Institucionais) nem respondeu a mensagens do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no dia da votação.
A base aliada também criticou o rompimento de um acordo informal para adiar a votação. O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), classificou o episódio como "perigoso" e disse que o Congresso estava rompendo com práticas tradicionais de construção de consensos. A última vez que um decreto presidencial foi derrubado pelo Legislativo foi em 1992, meses antes do impeachment de Collor.
Apesar das comparações entre Motta e Lira incomodarem os dois, aliados asseguram que ambos mantêm diálogo próximo. Nos bastidores, a avaliação é que o Planalto precisa recalibrar sua articulação política, sob risco de novas derrotas em votações-chave e maior desgaste institucional com o Congresso. Com informações do O Globo.