Bastidores da câmara
Indecisos salvam mandato de Glauber apesar da pressão de Arthur Lira
Divisão no centrão e articulação da esquerda reduziram votos pela pena máxima
A atuação de deputados indecisos foi decisiva para evitar a cassação do mandato de Glauber Braga (PSOL-RJ) na Câmara. Após semanas de pressão, inclusive do ex-presidente da Casa Arthur Lira (PP-AL), o plenário optou por uma punição mais branda: suspensão por seis meses. A troca da cassação pela sanção temporária foi aprovada por margem estreita, e a suspensão acabou confirmada em seguida por placar mais amplo.
Parlamentares que resistiram à pena máxima alegaram o risco de criar precedente de cassação para um deputado sem condenações judiciais. Segundo relatos de bastidores, quando a votação do requerimento de encerramento da discussão indicou queda no apoio à cassação, a oposição avaliou que insistir poderia resultar em derrota completa, aceitando a suspensão como alternativa viável.
A decisão foi viabilizada por uma articulação liderada pela bancada do PSOL, que dialogou com deputados de perfil menos ideológico em siglas do centro. Partidos do centrão liberaram suas bancadas, permitindo votos fora da orientação das lideranças, o que dividiu os blocos e dificultou alcançar os 257 votos necessários para a cassação. A oposição, por sua vez, não atuou de forma unificada. Parte do PL manteve a defesa da cassação, enquanto legendas como União Brasil, PP e Republicanos se dividiram entre votos favoráveis e contrários à suspensão.
Glauber respondia a processo por agressão a um integrante do MBL no estacionamento do Congresso. O caso estava pronto para deliberação desde abril e aguardava definição havia oito meses. A opção pela suspensão provocou reação de Arthur Lira, que criticou publicamente a condução da votação e a postura do atual presidente da Câmara, Motta. Em conversas com aliados, Lira afirmou que a Casa perdeu organização e autoridade. O psolista é um desafeto histórico do ex-presidente, que teria patrocinado o processo disciplinar.
O episódio ocorreu em meio a novos atritos no plenário. Dias antes, Glauber ocupou a cadeira da presidência e foi retirado à força pela Polícia Legislativa, por ordem de Motta, em ação que resultou em feridos e registros de ocorrência por lesão corporal. Parlamentares da esquerda acusaram a presidência de agir com rigor seletivo, ao comparar a resposta policial com a condução negociada de um motim da direita ocorrido recentemente, sem punições.



