Análise: ameaça de guerra regional é a atual tática de governos impopulares da UE

Por Sputnik Brasil 28/05/2025 - 19:30
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Análise: ameaça de guerra regional é a atual tática de governos impopulares da UE

A falta de apoio popular motivou o anúncio feito nesta segunda-feira (26) pelo chanceler alemão, Friedrich Merz, de que Reino Unido, França, Alemanha e EUA cancelaram restrições para que Kiev ataque território russo com armas de longo alcance.

De acordo com especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil, a insistência de alguns países europeus em seguir atiçando o conflito na Ucrânia deve-se a uma tática antiga de desviar assuntos indigestos da população insatisfeita com governantes, forjando uma ameaça de guerra.

Um dos analistas ouvidos pela Sputnik Brasil, o especialista em segurança internacional Héctor San-Pierre comentou que a decisão monocrática da Alemanha é prova disso:

"Os únicos que querem [uma guerra], aparentemente, são algumas lideranças que têm debilidade de legitimidade política interna [...] o próprio chanceler alemão conseguiu se manter depois de várias engenharias internas. Então, não são situações de legitimação como para entrar em uma guerra. Não estão entendendo o que significa uma guerra", opinou ele.

Saint-Pierre comentou ainda que o belicismo desses países também evidencia a irresponsabilidade desses governos. "Dá a impressão de que os líderes europeus são os que estão brincando com o fogo".

Ele observou que o suposto apoio de 51% da população alemã ao envio de mísseis Taurus para a Ucrânia, como apontou uma pesquisa nesta semana, é fruto dessa falta de consciência de que a liberação do uso desses mísseis pode ocasionar uma guerra na região com armas nucleares.

"Há uma ingerência direta da Europa, que parece não saber o que está acontecendo, nem tem ideia das consequências que pode gerar isso e é mais motivada pelas debilidades institucionais e políticas das lideranças europeias [...] Justamente a Grã-Bretanha, a França e a Alemanha são governos bastante contestados internamente e que talvez procurem em uma guerra, em um confronto, uma coesão interna".

A chancelaria russa já respondeu que Moscou vai interpretar qualquer ataque com mísseis Taurus contra alvos russos como participação direta de Berlim no conflito. O especialista em segurança internacional alertou que as consequências podem representar um tiro no pé que vai afetar o planeta como um todo.

"Os líderes normalmente se mantêm em refúgio, não são alvejados, mas aquela sociedade vai ter que ir à frente de combate e vai ser gravíssimo".

O analista geopolítico Hugo Albuquerque também salientou em entrevista à Sputnik Brasil que a postura inconsequente desses países europeus dá aval à Rússia para responder à altura a Alemanha e centros de operação em território alemão.

"Em tese se autoriza uma resposta russa em território alemão, o que é muito grave para a humanidade [...] A Rússia tem de interpelar a Alemanha se é uma declaração de guerra formal e o comando militar da OTAN tem de informar se entrou diretamente no conflito, porque indiretamente não resta a menor dúvida que ela tem uma grande participação", opinou o especialista.

Para Albuquerque, os sinais da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) são evidentes de que não há interesse em acabar com o conflito na Ucrânia:

"Ainda que a Rússia mostre boa vontade, os sinais que vêm da Europa, mas também dos EUA, indicam que a OTAN planeja manter o conflito", disse ele.

Por outro lado, Saint-Pierre sinalizou que a própria OTAN pode frear esse processo, visto que há membros que não estão dispostos a entrar em uma guerra com a Rússia.

"Há líderes importantes dentro da União Europeia que são contra a entrada em uma guerra. Imaginem, por exemplo, a Turquia entrando nessa guerra. A Turquia é um ator importante nessa região, desde o ponto de vista geopolítico, por seus controles no mar Negro. Duvido que a Turquia entre nesse conflito", ponderou.

O especialista em defesa também afirmou que a Rússia há muito tempo está se preparando para um eventual confronto com a OTAN ou com alguns setores da Europa, inclusive nuclear, desde que a OTAN foi se expandindo para o leste.

Rodolfo Latterza, analista geopolítico e de conflitos militares, autor do livro "Guerra na Ucrânia: Análises e perspectivas. O conflito militar que está mudando a geopolítica mundial", também foi ouvido pela Sputnik Brasil sobre o tema.

Ele salientou que o regime alemão é "altamente vinculado a lobistas ligados ao complexo industrial militar" e o país já depositou muito dinheiro do orçamento público no fornecimento de apoio econômico e militar à Ucrânia.

"O governo alemão vai apostar na continuidade do conflito, como forma justamente também de satisfazer os lobistas do complexo industrial militar, principalmente da empresa Rheinmetall, que tem fortes conexões com as cúpulas partidárias atualmente no governo alemão".

De acordo com Latterza, o sistema de mísseis Taurus não deve mudar a natureza do conflito, tendo em vista que as forças ucranianas, com o apoio de especialistas britânicos e franceses, já utilizam o Storm Shadow/Scalp há muito tempo, e a defesa aérea russa conseguiu fazer as adaptações adequadas para abater esses sistemas de mísseis.

"As Forças Armadas alemães não possuem grande quantidade de inventário. Não serão fornecidos muitos Taurus, portanto serão ataques mais simbólicos à infraestrutura militar e crítica russa. Logicamente irá gerar danos, mas eu não creio que vá ocasionar uma mudança estratégica no panorama do conflito."

Laterzza também avaliou que o recente posicionamento da Alemanha, Inglaterra e França deve criar uma instabilidade em relação a alguns países europeus que não concordam com a continuidade do fornecimento militar de armas à Ucrânia, como Hungria e Eslováquia.

"Isso vai mostrar mais divisões, certamente, dentro da OTAN e da União Europeia [...] pode criar um desgaste progressivo político do governo alemão, tendo em vista que as soluções econômicas, sociais, industriais que o país necessita para superar sua crise não serão resolvidas, isso tende a criar um desgaste progressivo".


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