Mídia: falta de pessoal no BC fragiliza segurança do Pix e acende alerta sobre crimes cibernéticos

Com apenas nove servidores dedicados à segurança do Pix, o Banco Central enfrenta desafios para proteger um sistema que movimenta R$ 2 trilhões por mês. A falta de pessoal, brechas regulatórias e pressão orçamentária expõem vulnerabilidades, enquanto ataques cibernéticos se intensificam.
O Banco Central (BC) conta atualmente com apenas nove servidores responsáveis pela segurança do Sistema de Pagamentos Instantâneos (SPI), que sustenta o Pix — sistema que movimenta quase R$ 2 trilhões por mês entre mais de 160 milhões de usuários. Essa equipe exígua precisa garantir a integridade de 919 participantes, o que gera preocupação entre auditores do BC sobre a insuficiência de pessoal para proteger adequadamente o sistema.
Parte da vulnerabilidade está nos Prestadores de Serviços de Tecnologia da Informação (PSTIs), que conectam instituições menores ao Pix e foram alvo de ataques que causaram prejuízos de R$ 1,5 bilhão. Com apenas dois servidores analisando os pedidos de cadastro dessas empresas, o acompanhamento contínuo é comprometido por outras demandas internas, como a manutenção dos sistemas da autoridade monetária.
Em resposta aos ataques, o BC anunciou novas medidas de segurança, como limite de R$ 15 mil para operações de TED e Pix realizadas por instituições não autorizadas ou conectadas via PSTIs. Também passou a exigir capital mínimo de R$ 15 milhões para credenciamento e antecipou para 2025 o prazo para que instituições não autorizadas solicitem aval para funcionamento.
Segundo a Folha de S. Paulo, funcionários do BC apontam que o avanço do cibercrime, substituindo assaltos físicos por ataques digitais, agrava os riscos. A burocracia para contratação de serviços de tecnologia e segurança também é vista como entrave à garantia de segurança. A Associação Nacional dos Auditores do Banco Central do Brasil (ANBCB) defende a PEC do Pix, que propõe transformar o BC em uma instituição pública com autonomia e poder de polícia, permitindo maior flexibilidade orçamentária e administrativa.
A proposta busca enfrentar a redução de 33% no quadro de servidores nos últimos dez anos. Embora o governo tenha autorizado concursos, dos 100 novos contratados em 2024, seis já pediram demissão. O Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI) afirma que novos concursos estão previstos para 2025 e 2026, mas servidores alertam que a dependência do orçamento federal expõe o BC à influência política.
Em março, o governo liberou R$ 150 milhões para o BC após alerta de que os recursos só durariam até setembro. A verba foi condicionada a investimentos em política monetária e supervisão. Parte dos servidores foi realocada para acelerar a agenda evolutiva do Pix, como o lançamento do Pix parcelado, reduzindo ainda mais a equipe dedicada à segurança.
Ainda segundo a apuração, a Fazenda afirma que o orçamento do BC é discricionário e aponta aumento de 58,6% entre 2024 e 2025. O ministro Fernando Haddad defendeu maior autonomia orçamentária para o BC, destacando que muitas instituições financeiras autorizadas não estão sendo devidamente supervisionadas, o que favorece golpes e fragiliza a infraestrutura do Pix.
No entanto, a limitação de pessoal também afeta a supervisão das 1.919 instituições reguladas pelo BC. Enquanto grandes bancos contam com equipes dedicadas, um único servidor monitora dezenas de fintechs, cenário que contribuiu para casos como o da Soffy e do BK Bank. A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) pediu reforço na fiscalização de instituições menores para evitar que se tornem canais para crimes financeiros, demanda que foi atendida pelo BC.
Por Sputinik Brasil