colunista

Alari Romariz

Alari Romariz atuou por vários anos no Sindicato dos Servidores da Assembleia Legislativa de Alagoas e ganhou notoriedade ao denunciar esquemas de corrupção na folha de pagamento da casa em 1986

Conteúdo Opinativo

A primavera chegou

06/10/2024 - 06:00

ACESSIBILIDADE


Está um tempo diferente. As flores reapareceram. A chuva diminuiu. Os pássaros estão cantando. O Nordeste fica mais bonito.

Todos os dias, pela manhã, um bem-te-vi chega na varanda cantando, chamando a companheira. Juntos, vão procurar comida. As jandaias, em bando, sempre às 6h40, vão para o Sul. Religiosamente, às 16h40, regressam para casa.

O mar, nem sempre sereno, faz seu barulho característico e grita na sua linguagem: “Não mexam comigo! Eu me irrito e respondo às agressões!” A lua aparece linda no tempo certo, clareando a praia. Sentamos na varanda e vamos apreciando tanta beleza.

Mas, como nem tudo são flores, aparecem as doenças, emergências, médicos, laboratórios, inseguranças, medo de um futuro diferente. Começamos a rezar, pedindo coragem a Deus para enfrentar as turbulências. As missas, pela TV, nos dão certa segurança, levando-nos a pensar nas leituras da Bíblia. Elas nos fazem lembrar o perdão, a humildade, o respeito pelo próximo. Nem sempre conseguimos seguir o que ouvimos, mas a consciência dói e mexe conosco. Onde erramos? O que precisamos fazer?

Para nos sentirmos mais seguros, chegam os filhos. Os que não podem vir, ligam com frequência. O apoio é grande, entretanto o medo das doenças é maior. Fingimos tranquilidade, mas a cabeça ferve.

Nas idas às clínicas, aos hospitais, encontramos pessoas boas, outras nem tanto. Há médicos amigos que nos ajudam, procuram antecipar o resultado dos exames. Outros são meio esquisitos, não se emocionam com a nossa dor, nossa idade. A maioria é agradável, telefona e nos ajuda no que pode. As atendentes nem sempre são legais. Algumas vezes dão informações erradas. É necessário recorrer ao chefe.

De repente, voltamos para a tranquilidade de nossa casa. Não ouvimos barulho de trânsito, o condomínio é calmo, são poucos vizinhos, alguns amigos e bons auxiliares. É o nosso céu! Pensamos com ansiedade: até quando poderemos ficar juntos no Paraíso da Vovó Alari? A idade avança, as doenças chegam e o perigo da separação nos ameaça. Só Deus para nos ajudar!

Administramos a vida em suas etapas: o namoro, o casamento, a chegada dos filhos, a criação de todos eles, tomando por base praticar o bem. A época do Exército, a época da Assembleia, o tempo do sindicato, a aposentadoria. E insistíamos: vamos viver cada fase com intensidade. Mas a velhice chegou, os filhos saíram de casa, e os dois velhinhos ficaram sós. Mas não perderam a alegria de viver, de viajar, de receber parentes e amigos.

Agradecemos a Deus, todos os dias, por estarmos lúcidos, cuidando de nossas vidas. Parece, contudo, que nosso tempo está acabando e precisamos de muita força para enfrentar a nova fase.

Ainda temos amigos sinceros! Outros nos abandonaram na hora que mais precisávamos. E a “Velhinha das Alagoas” está assustada com a nova fase que está chegando. Mas continuará na luta por dias melhores, conquistando novos amigos, rezando pelos que se foram.

Os filhos são um porto seguro. Evito incomodá-los. Eu e meu companheiro prosseguiremos até o fim sempre com pensamento positivo. Para ajudar os bons velhinhos, a primavera chegou com flores, pássaros e o barulho do mar.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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