colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

Inversão de valores que não vem de hoje

08/09/2024 - 06:00

ACESSIBILIDADE


Quando este país elegeu Bolsonaro, um deputado de terceira classe, extremista de direita, golpista desde sempre, com ligações suspeitíssimas com o crime organizado do Rio de Janeiro e completamente despreparado para governar sequer a cozinha da casa dele, o que ocorreu foi mais um recado do eleitor brasileiro aos políticos profissionais deste país.

O surgimento e crescimento eleitoral de um Pablo Marçal da vida, um “outsider” da política, com vínculos com o crime organizado e a bandidagem digital e sabe-se lá mais o quê, é subproduto claríssimo dessa insatisfação do eleitor com a política e os políticos brasileiros em geral, com as raríssimas – e cada vez mais raras – exceções de sempre, cuja “performance” negativa tem mantido este país acorrentado a um discurso ufanista cada vez mais distante de “país do futuro”, quando na prática o que se vivencia por estas paragens é o pior de um subdesenvolvimento campeão mundial de desigualdades.

Não é estranho que os “Marçais” da vida que ganham a vida vendendo “prosperidade” nas redes sociais assumam posição de destaque social, uma vez que o Estado – gerido pela esquerda ou pela direita – corroído pela corrupção generalizada, quase nada tem a oferecer de perspectivas futuras para a gigante massa de cidadãos pobres e remediados dessa Nação.

Não é difícil fazer o raio-X do extremismo neste país e suas sonháticas utopias sociais, sejam elas de esquerda ou de direita, que sempre serviram de lastro para os discursos políticos, mas que são de pouca valia para encher a barriga de comida, para permitir ao cidadão uma vida decente. É isso que os tem levado para os “Marçais”.

O que os políticos e seus marqueteiros ainda não entenderam (mas os “Marçais”, sim) é que daqui para a frente “influencers”, subcelebridades, vendedores de prosperidade (do tipo enriqueça, não importa a maneira) em geral, rasos de pruridos éticos, sociais, religiosos ou outros quaisquer passarão a ter papel importante na política (e não como coadjuvantes de políticos profissionais).

Eles, os bandidos, as gangues de rua, a máfia das drogas e da prostituição já fazem parte desse universo cada vez mais fétido da política nacional. Na semana passada relembramos uma frase célebre de Ulysses Guimarães quando instado a opinar sobre a qualidade da então legislatura (da década de 1980), ao que ele, com toda a sua expertise política, respondeu: está achando ruim essa? Espere pra ver as próximas...

Acertou na mosca.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


Encontrou algum erro? Entre em contato