O presidente da Braskem falou, tá falado?
Na semana anterior ao carnaval o presidente da Braskem em declarações ao jornal Valor Econômico afirmou, dentre outras coisas que o ciclo de baixa de mercado da empresa (que já ocorre há três anos) poderá se prolongar. “Não vemos uma recuperação desse ciclo nos próximos cinco anos, provavelmente veremos nos próximos dez", disse ele. Uma sinalização muito ruim para uma das maiores empresas do país que vem acumulando prejuízos nos últimos 3 anos que já superaram os 19 bilhões de reais.
Que, somados ao seu passivo bilionário junto às vítimas privadas do megadesastre que ela provocou em Maceió (que ela esconde e nega, mas existe e será cobrada) gerou uma situação de forte potencial de instabilidade para o negócio. Os dois problemas – graves - demandam rapidez e premência para se encontrar saída.
Nesse sentido, a empresa tem buscado – sem sucesso – comprador. E uma das razões principais para o desinteresse dos investidores tem sido a descoberta de “esqueletos” que a companhia esconde de todos, mercado, acionistas, órgãos fiscalizadores, mídia e investidores potenciais ao esgrimir números muito aquém do total de afetados. 55 mil pessoas contra os mais de 140 mil afetados de forma direta pelo desastre que ela provocou em Maceió. Além de informar que já “resolveu 99,9% dos casos. Uma fake sem tamanho.
Os afetados que ficaram até hoje de fora de qualquer acordo, somam mais de 73 mil pessoas. Quando somados às reinvindicações das 55 mil vitimas (que reclamam dos valores irrisórios recebidos) geram um passivo de mais de duas dezenas de bilhões de reais!
O que chama a atenção nesse caso é que os afetados lutaram até hoje para abrirem negociações diretas com a empresa, mas foram olimpicamente ignorados. Eles que, diga-se de passagem, tem design de proposta ganha-ganha que, adotada, pode eliminar o maior obstáculo para a venda da Companhia. Estranho, muito estranho esse desinteresse.
Até parece que a empresa acha que resolverá o seu problema sem antes equacionar o dos afetados. Seria uma atitude imperial burra ou haveriam outros interesses no âmbito para tal atitude?
Nesse sentido, veja-se a fala do presidente da Braskem na entrevista aqui citada, ao informar que a empresa é a maior contribuinte de ICMS do estado e que o Governo de Alagoas reconhece isso (sic). Quanto à última afirmação, não tenho procuração para responder, cabe ao governo de Alagoas responder as afirmativas cavilosas que a empresa volta e meia retoma em relação à sua importância econômica para Alagoas.
Que nunca teve.
No caso do ICMS, o ex. secretário da Fazenda, Santoro em declaração à Gazeta de Alagoas pouco antes de sua saída do cargo afirmou que o que a empresa recolhia não passava de 80 milhões de reais/ano. O que em números da época, equivalia a cerca de 3% do ICMS arrecado pelo Estado.
Portanto, não tem mágica capaz de fazer uma indústria que parou de explorar o sal-gema de Maceió, de ter aumentado a sua participação arrecadatória. É pura fake. No nosso artigo no livro “Rasgando a Cortina de Silêncios” abordamos essa questão e afastamos quaisquer possibilidades dessa afirmativa ser verdadeira. Lá atrás e agora.
E ilustramos: a empresa e representa menos de 0,8% do PIB de Alagoas e tão somente 0,13% da força de trabalho local com carteira assinada. O Sr. Roberto Ramos, precisa fazer a lição de casa antes de falar bobagens sobre um Estado que recebeu e deu à sua empresa tratamento VIP durante totó o tempo e dela só recebeu seguidos prejuízos.
O que nos remete à dúvida de como as informações sobre Alagoas estão chegando à alta direção da empresa para fazer um presidente dar um show de informações erradas sobre o Caso Braskem, como quando afirma que agora só falta negociar o passivo do governo de Alagoas, sem sequer se referir aos 140 mil afetados privados. Esse sim, o maior problema não resolvido da empresa que ele dirige.
A fala recente do presidente da empresa à mídia denota uma completa alienação quanto ao Caso Alagoas, que é como a Braskem denomina o maior crime ambiental do planeta em área urbana que ela perpetrou (não esquecer que até pouco menos de um ano, a multinacional afirmava em todos os seus comunicados e documentos que o ocorrido em Maceió teria sido um “incidente geológico”! (sic!). Uma afirmativa criminosa e mentirosa.
Ou será que a empresa prefere arriscar pagar mais que o dobro do passivo atual no caso dos afetados optarem por migrar suas reinvindicações para cortes internacionais? Quem está ganhando com isso? Estranha, muito estranha essa atitude.
NB: Como a Braskem sempre tratou as vítimas de Alagoas como criaturas de segunda classe, sem qualquer vestígio de interesse em resolver de fato o problema daquelas pessoas, elas agora resolveram por suas representações tratar diretamente com os investidores interessados na empresa.
No momento, os bancos credores da Braskem para quem enviaram Carta Aberta denunciando o problema que ela esconde, sugerindo tratativas para negociar a proposta que ela sequer se dignou – em qualquer momento – a ouvir e discutir.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA