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Odilon Rios

Odilon Rios é jornalista, editor do portal Repórter Nordeste e escritor. Autor de 4 livros, mais recente é Bode Pendurado no Sino & Outras Crônicas (2023)

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O 13º aniversário da ‘Revolução de 64’

28/09/2024 - 06:00

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No décimo terceiro ano do aniversário da “revolução de 64”, governantes pelo país buscavam exaltar os feitos dos generais no manjado anúncio de obras, com muitos gestos de bajulação. Em Alagoas, o governador Divaldo Suruagy anunciou em 31 de março de 1977 a construção de centros sociais urbanos – espécie de descentralização dos trabalhos do governo.

Os centros sociais urbanos funcionariam em Maceió, Atalaia, Palmeira dos Índios, Arapiraca, São Miguel dos Campos e Delmiro Gouveia. Suruagy também anunciou uma segunda fase destes centros sociais: Penedo, Porto Calvo, Santana do Ipanema, União dos Palmares, Batalha e Viçosa. Para colocar em prática o programa, temperado de ações milagreiras, o governador encaminhou para a Assembleia Legislativa um projeto para contrair empréstimos junto à Caixa Econômica Federal de Cr$ 25 milhões.

Sim, a justificativa era atender o povo e seus anseios etc, etc. Mas havia também uma sintonia nacional: o presidente Geisel havia anunciado o programa nacional de centros sociais urbanos para “propiciar às comunidades urbanas brasileiras, de forma integrada, multissetorial, todo um conjunto de atividades e serviços, considerados da mais ‘alta relevância social e da maior significação humana’”.

Resumo: Geisel procurava dar um ar mais pop aos militares no poder, construindo locais de lazer, mas também atendimento médico, treinamento profissional, busca de emprego e assistência jurídica. Pontos de Maceió que estavam habilitados para receber estes centros: no Santo Eduardo, Jacintinho, Jatiúca, Chã de Bebedouro.

Chama a atenção do projeto de lei encaminhado pelo governador para a Assembleia Legislativa que, na definição das áreas consideradas prioritárias para a execução deste programa, citava-se a necessidade delas, mas não dizia quais. O cidadão tinha de fazer um exercício de interpretação: os locais escolhidos eram os mais pobres. Segundo o programa o objetivo era atender “áreas urbanas periféricas dos grandes centros urbanos com predominância de populações de níveis de renda média e inferior”.

E no caso das áreas localizadas nos grandes e médios conjuntos habitacionais, o foco eram os estabelecimentos conhecidos do público e outros equipamentos de uso comunitário. Alguns desses locais precisavam apenas de adaptação. Ou seja, eles existiam, mas o terreno precisava ser doado e o prefeito avisado sobre as prioridades de Brasília.

Os empréstimos federais chegaram. Os centros sociais urbanos, de fato, saíram do papel. Não, porém, com a pompa e circunstância como estava escrito. O tempo passou, os empréstimos federais continuam cheios de apelos sociais. Na prática, os problemas continuam. Mas o dinheiro sempre beneficia alguns. A maioria? Nem tanto.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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