O 13º aniversário da ‘Revolução de 64’
No décimo terceiro ano do aniversário da “revolução de 64”, governantes pelo país buscavam exaltar os feitos dos generais no manjado anúncio de obras, com muitos gestos de bajulação. Em Alagoas, o governador Divaldo Suruagy anunciou em 31 de março de 1977 a construção de centros sociais urbanos – espécie de descentralização dos trabalhos do governo.
Os centros sociais urbanos funcionariam em Maceió, Atalaia, Palmeira dos Índios, Arapiraca, São Miguel dos Campos e Delmiro Gouveia. Suruagy também anunciou uma segunda fase destes centros sociais: Penedo, Porto Calvo, Santana do Ipanema, União dos Palmares, Batalha e Viçosa. Para colocar em prática o programa, temperado de ações milagreiras, o governador encaminhou para a Assembleia Legislativa um projeto para contrair empréstimos junto à Caixa Econômica Federal de Cr$ 25 milhões.
Sim, a justificativa era atender o povo e seus anseios etc, etc. Mas havia também uma sintonia nacional: o presidente Geisel havia anunciado o programa nacional de centros sociais urbanos para “propiciar às comunidades urbanas brasileiras, de forma integrada, multissetorial, todo um conjunto de atividades e serviços, considerados da mais ‘alta relevância social e da maior significação humana’”.
Resumo: Geisel procurava dar um ar mais pop aos militares no poder, construindo locais de lazer, mas também atendimento médico, treinamento profissional, busca de emprego e assistência jurídica. Pontos de Maceió que estavam habilitados para receber estes centros: no Santo Eduardo, Jacintinho, Jatiúca, Chã de Bebedouro.
Chama a atenção do projeto de lei encaminhado pelo governador para a Assembleia Legislativa que, na definição das áreas consideradas prioritárias para a execução deste programa, citava-se a necessidade delas, mas não dizia quais. O cidadão tinha de fazer um exercício de interpretação: os locais escolhidos eram os mais pobres. Segundo o programa o objetivo era atender “áreas urbanas periféricas dos grandes centros urbanos com predominância de populações de níveis de renda média e inferior”.
E no caso das áreas localizadas nos grandes e médios conjuntos habitacionais, o foco eram os estabelecimentos conhecidos do público e outros equipamentos de uso comunitário. Alguns desses locais precisavam apenas de adaptação. Ou seja, eles existiam, mas o terreno precisava ser doado e o prefeito avisado sobre as prioridades de Brasília.
Os empréstimos federais chegaram. Os centros sociais urbanos, de fato, saíram do papel. Não, porém, com a pompa e circunstância como estava escrito. O tempo passou, os empréstimos federais continuam cheios de apelos sociais. Na prática, os problemas continuam. Mas o dinheiro sempre beneficia alguns. A maioria? Nem tanto.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA