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Odilon Rios

Jornalista, editor do portal Repórter Nordeste e escritor. Autor de 4 livros, mais recente é Bode Pendurado no Sino & Outras Crônicas (2023)

Conteúdo Opinativo

Silvestre ameaça Família Palmeira

12/07/2025 - 06:00
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Disputar as eleições contra Silvestre Péricles era estar cara a cara com o terror. Moacir Palmeira era criança e acompanhava o pai, Rui, em visitas eleitorais pelo interior de Alagoas e durante as campanhas. Já brigado com dois irmãos, Silvestre era conhecido pelo temperamento violento, agressivo. E nas eleições partia literalmente para o tudo ou nada. Rui era pai de seis filhos. E Silvestre costumava espalhar recados, como mandar queimar a casa de inimigos políticos. Capangas e policiais comandavam os ataques. Alguns destes recados eram destinados a Rui. Dona Gabi e o marido tinham esquemas de emergência: retiravam os filhos de casa e espalhavam cada um entre amigos ou os avós das crianças. A casa nunca foi queimada. Mas as ameaças sempre existiram.

Moacir lembra que a casa do pai vivia cheia durante o dia, pessoas se reuniam com o pai formulando pedidos. À noite eram os encontros políticos, a biblioteca exposta, leitura em voz alta de trechos de livros, música ao piano, tocado por um amigo de Rui. “A política estava no dia a dia”, diz Moacir. Visitas também de amigos como os escritores Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, José Lins do Rego. O avô materno de Moacir era Inácio Gracindo, casado com uma filha de Euclides Malta, na época governador de Alagoas. Mas o avô paterno era oposição ao governador e liderou uma revolução para destituir Euclides. O avô e Rui eram filiados ao Partido Socialista. Curioso: isso em uma família de herdeiro de donos de engenho.

Falar sobre política era obrigatório na casa dos Palmeira. Tanto por uma questão de sobrevivência – forma de se defender dos ataques de Silvestre Péricles – como também explicar aos filhos pensamentos divergentes num mesmo espaço. O pai tinha tradição anticlerical, a mãe era católica. Moacir estudou no Rio de Janeiro, no Marista, de viés católico.

André Papine de Góes, comunista, era um dos melhores amigos de Rui, apoiador da ditadura. André teve o mandato parlamentar cassado, o PCB entrou na lista de partidos proibidos e André passou a viver na clandestinidade. Sumiu do convívio dos Palmeira, apesar de ser assunto no dia a dia. Rui votou contra a cassação de parlamentares comunistas. Preservou a amizade com Papine.

Contradição também nas formas de pensar e agir dos filhos de Rui. Moacir sempre gostou de política, nunca quis ser um e virou cientista social e político. O irmão Vladimir virou líder da passeata dos 100 mil contra a ditadura. O outro irmão, Guilherme, foi governador e apoiador dos militares no poder.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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