Collor temia dossiê do SNI
Um ano antes da disputa presidencial de 1989, Fernando Collor iniciou seu périplo pelo país em busca de apoio e votos na decisão – já tomada por ele – de ir às urnas.
Collor escolhe o então presidente José Sarney como o inimigo mais poderoso a ser enfrentado. Aos poucos, foi conseguindo destaque, era convidado a eventos pelo país e recebido com aplausos. Mas um relatório secreto do Serviço Nacional de Informações, o SNI, ameaçou colocar abaixo toda a pré-campanha do então governador de Alagoas.
Collor foi a Brasília na tentativa de ser recebido pelo chefe do SNI na época, Ivan de Sousa Mendes. O governador queria saber se o dossiê era real ou uma mentira. O conteúdo era explosivo: um raio X sobre o período em que Collor fora prefeito de Maceió.
Em 19/2/1988, o jornal Zero Hora, do Rio Grande do Sul, registrou que Mendes negou receber o governador. Collor insistia nas explicações. Ligou para o ministro da Casa Civil, Ronaldo Costa Couto. Queria receber uma certidão, onde o SNI declararia não haver dossiês ou investigações internas contra o governador alagoano. Ivan de Souza Mendes negou a certidão. “Vou levar até as últimas consequências”, reclamou Collor, em entrevista à rádio Guaíba, de Porto Alegre, chamando o SNI de nefasto.
O temido dossiê foi divulgado pelo Jornal do Brasil dias antes. E, sim, o SNI tinha alguns – mas não todos – os detalhes sobre boa parte dos funcionários da Prefeitura contratados por Collor e quem acumulava cargos, apesar das contas da gestão municipal caminharem para o colapso e àquela altura sustentadas pelo governo estadual.
A maior dificuldade do SNI, porém, era obter informações da Comissão de Acumulação de Cargos que propositadamente conduzia as investigações internas de forma lenta e prazos de conclusão a perder de vista.
Um telegrama de 1984, porém, diz que o relatório final nem foi produzido pela comissão e ainda havia dificuldade de rastrear quem era quem entre os contratados pelo poder municipal por existirem três ou mais fundações dentro da estrutura do Executivo.
Ainda de acordo com o SNI, o déficit em Maceió em abril de 1984 era de 200 milhões de cruzeiros e dobraria, alcançando 480 milhões em maio do mesmo ano, por causa do reajuste do salário mínimo.
Falar do dossiê para quem se intitulava “caçador dos marajás” parecia um presságio ruim.
Ou nem tanto assim.
Collor virou presidente.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA