Americanos citam pressão da ditadura contra eleição de Muniz Falcão
O governo americano monitorou de perto os desdobramentos da eleição ao Governo de Alagoas em 3/10/1965. E cita a pressão direta de auxiliares do presidente da República sobre a Assembleia Legislativa para impedir que Muniz Falcão assumisse o governo, mesmo obtendo, pela segunda vez, maioria dos votos.
Oito anos antes (18/9/1957), Sebastião Marinho Muniz Falcão deixou de ser governador quando sofreu um processo de impeachment decidido pelos deputados estaduais. A sessão aconteceu cinco dias após (13/9/1957) um tiroteio na Assembleia que matou o deputado Humberto Mendes, sogro de Muniz, e deixou feridos. Os parlamentares votariam o impedimento do governador.
O clima político levou o então presidente da República Juscelino Kubitschek a decretar intervenção em Alagoas. Em 1965, Muniz Falcão voltou a disputar – e ganhou – as eleições ao governo. Obteve 43,9% dos votos. Mas a emenda constitucional número 13 (8/4/1965), assinada pelo primeiro presidente da ditadura militar, o general Castello Branco, exigia maioria absoluta dos votos. Para cumprir a lei, Castello Branco mandou a Alagoas o subchefe da Casa Militar da Presidência, o então coronel Dilermando Gomes Monteiro. Caberia aos deputados ratificar ou não o resultado das eleições. E Muniz tinha apoio para assumir o governo.
Porém, antes da sessão, o coronel se dirigiu aos deputados afirmando que o chefe da Nação respeitaria a decisão se eles fossem guiados pelos interesses do Estado e da Revolução na hora do voto. A citada Revolução é a de 1964, mais tarde reconhecida por pesquisadores como um golpe de Estado que levou os militares ao poder.
O então comandante da Sétima Região, general Antônio Carlos da Silva Muricy, tinha ordens do Quarto Exército de não interferir na decisão dos deputados, mas ele teria continuado a pressionar os parlamentares a rejeitarem a vitória de Muniz, segundo descreve em detalhes um telegrama do Consulado Geral Americano em Recife encaminhado a Washington. A votação foi marcada para 8/11/1965. A Assembleia foi cercada, em esquema especial de segurança, mas não foram registrados incidentes. O secretário de Segurança, general José Alberto Bittencourt, – que era contra Muniz, pressionava os deputados e gerava insatisfação entre os parlamentares – viajou ao Rio de Janeiro. Muniz acompanhava tudo em Maceió, na casa de um parente.
Em votação secreta, 21 parlamentares decidiram não aceitar a vitória de Muniz contra 11 votos a favor, um em branco e dois deputados considerados inelegíveis. Anota o telegrama encaminhado a Washington: “Antes do Segundo Ato Institucional, acreditava-se que a Assembleia estava pronta para ratificar Falcão, em parte devido à crença de que sua vitória no segundo turno era inevitável, e em parte devido ao ressentimento contra a pressão do Secretário de Segurança Bittencourt”.
A ditadura indicou o general João Tubino como interventor federal até a Assembleia decidir quem seria o próximo governador. E o escolhido foi o integralista Lamenha Filho (empossado em 15/8/1966), nomeado por Castello Branco.
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