Projeto patrimonialista
O presidente da Câmara dos Deputados vai aos poucos se livrando da sombra de Arthur Lira, que mesmo depois de passar o bastão para Hugo Motta vinha interferindo diretamente nos assuntos da Casa e pautando matérias do seu interesse pessoal e dos comparsas do Centrão.
Após tentar chantagear o governo na relatoria da MP do Imposto de Renda, Lira perdeu a confiança do presidente Lula e deve perder os cargos públicos que comanda na Caixa, Codevasf e em outras estatais federais. É o começo do fim de um projeto político tipicamente patrimonialista.
Em Alagoas, Lira ainda mantém alguma liderança no interior por conta das emendas secretas, mas seu reinado começa a ruir por descumprimento de acordos políticos e traição aos aliados de primeira hora. Gilberto Gonçalves e Jó Pereira são exemplos do comportamento individualista de Arthur Lira.
O ex-prefeito de Rio Largo rompeu os laços de lealdade que mantinha com Lira desde criancinha. GG quer ser deputado estadual, no lugar da filha Gabi, mas Arthur Lira o escalou para integrar a chapa do PP a deputado federal. Aparentemente, disputar a Câmara dos Deputados seria um gesto de reconhecimento ao trabalho do ex-prefeito, mas GG descobriu que Lira quer usá-lo como candidato-escada para eleger o filho Álvaro.
Com risco de condenação por improbidade, Gonçalves fará qualquer negócio por um mandato de deputado e fechou questão em sua candidatura estadual. Lira não gostou da ideia e exigiu de GG a lealdade dos tempos em que o deputado enchia os cofres da prefeitura com recursos das emendas, sem nenhum controle. Enquanto isso, a PF deu segmento às investigações sobre o desvio de recursos das emendas secretas enviadas por Lira ao ex-prefeito.
Além dos votos do ex-prefeito de Rio Largo, Arthur Lira deve perder também o apoio da família Pereira, que se sente traída por Lira ter lançado a candidatura do filho Álvaro a deputado federal em detrimento do projeto da prima Jó Pereira de substituir Lira na Câmara Federal.
Assim como Gilberto Gonçalves, a ex-deputada deve rejeitar a condição de candidata- -escada para eleger o filho de Arthur Lira, que sequer atingiu a maioridade para concorrer a um mandato de deputado. Patrimonialista e centralizador, Lira vai fechando as portas para os aliados e abrindo espaço para uma derrota nas urnas.



