Eleições
Pastor João Luiz no ranking dos religiosos mais ricos do país
Candidato a vereador é alvo de nova denúncia de uso da fé para angariar votosCandidato a vereador por Maceió, João Luiz Rocha, o Pastor João Luiz (PP), da Igreja do Evangelho Quadrangular, figura entre os dez religiosos mais ricos do Brasil que estão disputando as eleições municipais deste ano. Segundo levantamento da Agência Pública, as mais de 7 mil lideranças religiosas que estão se candidatando somam um patrimônio total de R$ 826 milhões. Desses, 98 declararam possuir bens acima de R$ 1 milhão, totalizando cerca de R$ 200 milhões em patrimônio declarado.
O levantamento utilizou dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e considerou políticos que declararam o sacerdócio como principal ocupação ou que usam títulos religiosos no nome de urna, como pastor, padre, babalorixá, entre outros. Contudo, identificar todas as candidaturas de lideranças religiosas não é simples, já que alguns utilizam uma identidade religiosa em discursos e campanhas, mas não declaram seus títulos ao TSE.
Um exemplo em âmbito nacional é a senadora Damares Alves (Republicanos-DF), que é pastora, mas se registrou apenas como advogada. No caso do Pastor João Luiz, que está com 72 anos, ele ficou em nono lugar no top 10 do levantamento que levou em consideração a fortuna dos religiosos que disputam as eleições este ano.
Esta semana o candidato a vereador também foi destaque nacional por um suposto crime, um que já teria cometido no passado: o abuso religioso.
A lista da ‘fértuna’
O ranking dos dez religiosos mais ricos que estão concorrendo nas eleições municipais deste ano é liderado por Saulo Fonseca Padilha, o Pastor Saulo Padilha, vereador em Santo Antônio de Pádua (RJ), com um patrimônio de R$ 18.099.386,17. Em seguida, está Aldo Tartari, o Pastor Aldo Tartari, vice-prefeito de Paragominas (PA), com R$ 10.984.816,28. Na terceira posição, Edivaldo Borges Gomes, conhecido como Irmão Edivaldo, vereador em Ourilândia do Norte (PA), possui R$ 8.375.000,00.
Heli Braz Januário, o Pastor Heli Braz, vice-prefeito de Itupiranga (PA), está na quarta posição com um patrimônio de R$ 5.820.500,00, seguido por João Batista Ribeiro, o Profeta, prefeito de Paulistana (PI), com R$ 5.066.156,16. Reginaldo Adelino Fortes, o Irmão Dino, vereador em Duque de Caxias (RJ), tem um patrimônio de R$ 4.471.037,10 e ocupa a sexta posição.
Em sétimo lugar está Carlos Alberto Miranda da Costa, o Irmão Carlos, vereador em Açailândia (MA), com R$ 4.080.000,00. Logo após, em oitavo, Antônio Soares de Oliveira, o Pastor Antonio, vereador em Niquelândia (GO), com R$ 4.002.142,48. Na nona posição, o Pastor João Luiz, vereador em Maceió (AL), aparece com R$ 3.637.315,16. Fechando o ranking, Wanderley Sousa Santos, o Irmão Doda, prefeito de Santa Terezinha do Tocantins (TO), com bens no valor de R$ 3.573.000,00.
Denúncia de pressão
Um áudio atribuído ao pastor vem causando polêmica. Na gravação, que circula amplamente nas redes sociais e foi divulgada pelo site Fuxico Gospel, João Luiz é ouvido pressionando outros pastores a votarem nele nas próximas eleições municipais. No áudio, o pastor é categórico: “Quem não apoiar, eu mando para outro lugar”. Ele menciona o estatuto da denominação religiosa, afirmando que este orienta os pastores a darem suporte aos candidatos oficiais da igreja. O líder religioso também sugere que aqueles que não seguirem as diretrizes estabelecidas podem ser transferidos para outras regiões, insinuando possíveis represálias. João Luiz criticou o desempenho eleitoral da igreja em pleitos anteriores, mencionando uma queda significativa no número de votos. “Nas duas últimas eleições de vereador, nós tivemos aqui no Tabuleiro 2.500 votos; na última, 318”, diz ele, atribuindo a redução à falta de “esforço” e “trabalho” por parte dos pastores.
Em resposta às recentes acusações, o candidato utilizou seu Instagram para publicar mensagens que parecem direcionadas aos acontecimentos. Além da campanha, João Luiz compartilhou conteúdo religioso, incluindo uma postagem que afirma: “Deus vai lhe honrar onde tentaram lhe diminuir”. Em vídeo publicado na mesma plataforma, ele comentou diretamente a matéria do Fuxico Gospel, classificando-a como uma tentativa de difamação. “Tudo o que o crente e cristão não pode fazer, é acreditar em fuxico. Bom dia, e vamos pra guerra”, declarou ele. A postagem recebeu apoio de seus seguidores. “Sabemos quem o Senhor é!”, comentou um seguidor. “Já ganhou com certeza”, escreveu uma internauta, expressando confiança na vitória do candidato.
Em maio deste ano, o prefeito JHC (PL) nomeou o neto do pastor da Igreja do Evangelho Quadrangular em Alagoas para um cargo comissionado na Secretaria Municipal de Gestão de Pessoas e Patrimônio (Semge). João Luiz Rocha, de 20 anos, é homônimo do avô. Ele recebeu o cargo de Assessor II, Símbolo DAS-2, com salário de R$ 2.300.
CRESCIMENTO DO PATRIMÔNIO
Durante o período em que esteve na Câmara de Maceió, nos anos 90, Pastor João Luiz presidiu a Casa no biênio 1996/1998. Também atuou como 2º secretário e presidiu as comissões de Direitos Humanos, e da Criança e Adolescente da Casa. Contudo, conforme disponível no site do DivulgaCand, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em 2004, então filiado ao PMDB (atualmente MDB), nas eleições para a Câmara Municipal o religioso ainda não declarou qualquer bem.
Em 2008 foi reeleito vereador, mas pelo DEM, partido ao qual havia se filiado. Neste período, João Luiz já havia acumulado um patrimônio considerável, avaliado em R$ 532.761,62, incluindo lojas e apartamentos em Maceió e no Balneário Camboriú, Santa Catarina, seu estado natal. Dois anos depois, em 2010, tentou uma vaga na Assembleia Legislativa de Alagoas, mas terminou a eleição como suplente, ainda pelo DEM. Nesse intervalo, seu patrimônio já havia crescido para R$ 1.139.172,33. Em 2012, ele foi novamente eleito vereador de Maceió, mas com uma leve queda no valor dos bens, que totalizavam R$ 1.115.796,32.
Em 2014, conseguiu uma cadeira na Assembleia Legislativa, ainda pelo DEM, mesmo com uma nova redução patrimonial, declarando R$ 1.100.089,29. Mas sua trajetória política também foi marcada por reveses. Em 2016, por seis votos a um, a Justiça Eleitoral de Alagoas cassou o mandato de deputado estadual do Pastor João Luiz e o condenou a oito anos de inelegibilidade por abuso de poder religioso e econômico, além do uso indevido de meios de comunicação. Apesar das adversidades, o pastor não desistiu. Em 2018, então filiado ao PRTB, tentou novamente ingressar na Assembleia, mas teve a candidatura barrada pela Lei da Ficha Limpa. Entretanto, seu patrimônio continuou a crescer, atingindo R$ 3.107.693,30. Em 2020, tentou retornar à Câmara Municipal de Maceió pelo PRTB, mas não obteve sucesso, ficando como suplente.
Agora em 2024, Pastor João Luiz voltou a se candidatar a vereador em Maceió, desta vez pelo PP, partido do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira. Seu patrimônio, segundo a Justiça Eleitoral, cresceu para R$ 3.637.315,16. Entre seus bens, destacam-se apartamentos em áreas nobres de Maceió, como Ponta Verde e Cruz das Almas, além de investimentos financeiros e veículos de luxo, como um BMW avaliado em R$ 269.950,00. A lista completa de seus bens declarados inclui fundos de investimento, aplicações em renda fixa e diversos imóveis à beira-mar na capital alagoana.