PATRIMÔNIO CULTURAL
Teatro Deodoro completa 114 anos de lutas e glória
Semana de espetáculos marca comemorações do mais importante espaço cultural de Alagoas
Construído sob o estilo neoclássico, o Teatro Deodoro foi erguido no lugar de uma igreja devotada a Nossa Senhora da Conceição. O projeto do templo religioso ficou apenas nos alicerces e a ocupação de um solo santificado por uma casa de diversão ganhou a fama de que o lugar seria amaldiçoado e desabaria no dia da inauguração. Alguns fatos aconteceram para reforçar a ideia, a exemplo de o arquiteto que executou a obra, Luiz Lucariny, falecer antes de ver seu projeto terminado.
Superstições à parte, em 15 de novembro de 1910, quando foi inaugurado, muita gente ficou em casa com medo que a profecia se concretizasse. Já se vão 114 anos de lutas, provações e glórias de um teatro que há mais de 100 anos doa seu palco e toda imponência para a arte e cultura alagoana e do país em geral.
Inaugurado no dia em que marcava os 21 anos da Proclamação da República como uma espécie de homenagem ao proclamador, o marechal Deodoro da Fonseca, o Teatro Deodoro viveu momentos importantes e passou por algumas agonias. Na década de 1930 fechou pela primeira vez e até chegou a ser aproveitado como cocheira para os animais que participavam da limpeza pública da cidade. Resistiu a algumas reformas e com o apogeu da sétima arte virou cinema, para logo voltar à finalidade inicial. Em seu Salão Nobre já funcionaram a Biblioteca Pública, a Câmara dos Vereadores de Maceió e a Justiça Federal.
Em 114 anos de existência, o Deodoro é sinônimo de doação: às artes, ao improviso, às batalhas e as glórias. Assistiu sonhos se realizarem, aplaudiu e foi aplaudido. A cada dia conta uma nova história, recepciona atores, companhias teatrais e grandes nomes da música popular e erudita. Graças à sua grandiosidade e relevância tem colocado Maceió na rota de circulação de importantes espetáculos nacionais.
O encantamento pelo Deodoro é diário. Seja cada vez que as cortinas vermelhas se abrem, seja na emoção de cada apresentação no palco ou até mesmo ao passar em frente ao prédio, com parada obrigatória para um registro de fotos e vídeos. O Deodoro, de fato, é território alagoano que abraça o mundo.
SUCESSIVAS REFORMAS DESDE 1933
Em 1933, depois de 23 anos de inaugurado, o prédio passou por uma rápida restauração. Em 1946 recebeu novo reparo. A terceira restauração aconteceu em 1954 após um incêndio, sendo reinaugurado em 1957. Em 1975 houve mais uma intervenção e a tal maldição teimava em continuar. O período mais crítico da casa de espetáculos começou em 1988 quando foi interditado, permanecendo fechado para uma reforma que durou 10 anos. Funcionou de 1998 até o final de 2007 quando voltou a ser fechado para obras, reabrindo em 2010. Em 2014 o teatro voltou a cerrar suas portas pelo período de dois meses.
Situado no coração de Maceió, em 2014 o gigante cresceu. Ganhou ao seu lado o Complexo Cultural Teatro Deodoro para incentivar e apoiar o estudo, a pesquisa e a formação continuada. Bem antes, em 1972, recebeu o anexo Teatro de Arena Sérgio Cardoso. Não é à toa que o lugar guarda importantes capítulos da história e muitos ainda estão por vir.
E quando se abrem as cortinas vermelhas do teatro e se inicia um novo espetáculo a magia acontece. Assim é o gigante das artes. Ele acolhe e diverte. Surpreenda-se com as histórias vividas pelo Teatro Deodoro em 114 anos de existência. Ele tem muito a nos contar.
Mais de 1.500 alunos assistem a eventos de homenagem ao teatro
Para comemorar seus 114 anos, o Teatro Deodoro ofereceu ao longo desta semana – 11 a 14 de novembro – uma vasta programação gratuita, que teve a participação de mais de 1.500 alunos das modalidades de ensino fundamental, médio e EJA (Educação de Jovens e Adultos). Em cada evento, os 650 assentos do teatro foram preenchidos por aplausos, sorrisos e muita alegria. O Deodoro esbanjou requinte e o aconchego do lugar como maneira de agradecer tamanha homenagem.
Patrimônio cultural do estado de Alagoas, o Teatro Deodoro foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em 2008 e comemora mais um aniversário regado de muito amor e devoção à cultura alagoana.
Este ano, a festa contou com grandes nomes locais e nacionais em sua história, onde a Diretoria de Teatros do Estado de Alagoas (Diteal) promoveu quatro dias de atividades em diversos horários, como forma de abranger diferentes comunidades e públicos, possibilitando ainda mais o acesso igualitário à cultura do estado de Alagoas.
Para a grandiosa festa, a Diteal buscou várias parcerias ao longo do ano para oferecer, também, atividades gratuitas e abertas que não se limitaram apenas ao aniversário do equipamento cultural, como os eventos Diversidade Cultural na Diteal e Semana Alagoana do Teatro. Afinal, o Teatro Deodoro é, mais do que tudo, uma forma de devolver à sociedade toda a riqueza cultural que o estado de Alagoas tem a oferecer.
“Realizamos mais uma programação recheada de muita arte para comemorar o aniversário dos 114 anos do Teatro Deodoro, nosso teatro centenário, nosso patrimônio cultural do nosso estado, contemplando a arte - como música, dança, teatro, circo e poesia - e tendo quatro dias de muita troca entre os nossos artistas locais, os nossos alunos da rede municipal e estadual de ensino, e mais uma vez contando com a presença de todos os alagoanos para prestigiar a arte e o nosso Teatro Deodoro”, comemorou Nidiane Oliveira, gerente artística e cultural da Diteal.
A semana de comemorações foi aberta pelo ballet da alagoana Maria Emília Clark, trazendo a culminância Duplici. A produtora Patacuri - Cultura e Formação Ameríndia trouxe o espetáculo musical Chico de Assis conta Jorge de Lima e a Invenção da Poesia, narrando parte da biografia e curiosidades. E teve muito mais, encerrando a semana festiva com o espetáculo Fabulando Dois Homens, segundo espetáculo da trilogia “Colapsar” (2019) e que se constitui como continuidade do projeto poético em dança proposto pelo artista Reginaldo Oliveira, discutindo a afetividade masculina.
Sam Menezes, diretor e presidente da Diteal, faz um passeio por mais de um século do Deodoro e apresenta sua importância para o meio cultural. “Com a sua preservação, ao longo dos anos, pôde fomentar o seu papel, oferecendo cultura à sociedade alagoana, com seus espetáculos locais e nacionais. Fomenta também a economia, é importante dizer. Estimulando a cultura, a criatividade, a inovação e a integração, o Teatro Deodoro é um espaço de inclusão, por desenvolver a sensibilidade, a diversidade, e assim com seu papel junto à sociedade, sendo um palco para todos”, afirmou.
E assim as cortinas se fecharam com aplausos para mais um ano de arte, cultura e vida do Teatro Deodoro. Que as glórias não cessem de vir!



