Conteúdo do impresso Edição 1338

XUCURUS-KARIRIS

Líder indígena denuncia ameaça de morte por fazendeiros

“Para defender meu povo não tenho medo de perder a vida”, afirma Tanawy Xucuru
Por Geovan Benjoino 25/10/2025 - 06:00
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Tanawy Xucuru diz que vai continuar defendendo seu povo a despeito das ameaças
Tanawy Xucuru diz que vai continuar defendendo seu povo a despeito das ameaças

Dizendo-se ameaçado de morte, o líder indígena Tanawy Xucuru, coordenador do Distrito Sanitário de Alagoas, afirma não temer ameaças por defender a demarcação de terras. “Só não admito que joguem a população contra meus filhos”, diz Tanawy, ao convocar a comunidade indígena para uma reunião na aldeia Fazenda Canto no próximo dia 31, véspera do prazo final da Funai para concluir o levantamento das indenizações na terra indígena dos Xukuru-Kariri.

Tanawy Xukuru acrescenta que, caso seja assassinado, seu propósito de lutar em defesa da comunidade indígena de Palmeira dos Índios pode ser repercutido de forma expressiva pelos povos aldeados. “Se tirarem minha vida, minha voz vai ecoar na garganta de cada Xukuru-Kariri”.

O líder indígena disse que o processo demarcatório das Terras Xukuru-Kariri vai continuar até a homologação presidencial, independente de ameaças ou até mesmo de seu assassinato. Tanawy destacou ainda que a animosidade dos posseiros das terras envolvidas na demarcação é estimulada pelos próprios proprietários e por políticos, cujos interesses de poder são evidentes e irrefutáveis.

Segundo Tanawy existe uma campanha difamatória sistemática contra os índios Xukuru- -Kariri, o que tem gerado ameaças diretas ao líder indígena e a seus filhos, segundo ele próprio ao postar um vídeo em seu Instagram. O líder indígena, que enfatizou não temer as ameaças e continua firme em seu propósito, revelou que está sendo protegido 24 horas por agentes da Polícia Federal.

Do lado dos proprietários (chamados de posseiros pela Funai) a indignação é generalizada. Revoltados, eles não se conformam e defendem a suspensão do processo demarcatório, que segundo eles viola o direito adquirido, o direito de propriedade. “Essa demarcação é um absurdo. O governo quer tomar as terras que foram adquiridas legalmente pelos nossos antepassados”, afirma o estudante Roberto dos Santos, filho de um proprietário de uma área inferior a 20 hectares de terra.

Um dos proprietários de terra demarcada admitiu reagir violentamente contra os índios se o processo for efetivado. “Não sairei de minha propriedade, que eu adquiri honestamente. Tenho consciência das consequências, mas estou preparado para qualquer situação adversa, inclusive matar”, disse ao pedir reserva de seu nome.

O clima de tensão é preocupante e os ânimos estão exaltados e o desfecho do processo demarcatório Xukuru-Kariri é imprevisível.

Segundo a Fundação Nacional do Índio (Funai) os 6.927 hectares de terras que foram reconhecidas e demarcadas como de usufruto exclusivo dos índios Xukuru-Kariri de Palmeira dos Índios estão fundamentadas na Constituição da República e legislação infraconstitucional. A Funai enfatiza que os direitos originários indígenas se prolongam na imemorialidade, sobrepondo-se ao registro cartorial de terras, cujo documento é transferido de geração em geração.


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