SEM TRANSPARÊNCIA
Dino suspende pagamento de R$ 4,2 bi em emendas parlamentares
Ministro aponta irregularidades em repasse de recursos indicados pelo Congresso e quer investigação
O ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou nesta segunda-feira (23) a suspensão do pagamento de R$4,2 bilhões em emendas parlamentares. A decisão inclui ainda um pedido para que a Polícia Federal (PF) abra inquérito para apurar irregularidades na liberação desse montante.
A medida foi tomada em resposta a um pedido do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), que alegou problemas na destinação das chamadas "emendas de comissão", mecanismo pelo qual valores são alocados a projetos de parlamentares. Segundo o partido, há indícios de desvios, obras superfaturadas e falta de fiscalização.
A modalidade não é de pagamento obrigatório e as emendas de comissão são indicadas pelos colegiados temáticos da Câmara e do Senado. O partido questionou a parte da liberação de R$ 7,6 bilhões. Na decisão, o ministro cita o ofício enviado por 17 líderes partidários ao governo federal solicitando a liberação do pagamento de 5,4 mil emendas de comissão, sem identificação dos autores. A medida foi questionada por diversas ações; entre elas, o pedido do PSol.
Em sua decisão, segundo a CNN Brasil, Dino enfatizou que práticas como desvios de verbas e obras malfeitas são incompatíveis com a ordem constitucional e os princípios da administração e das finanças públicas.
“Não é compatível com a ordem constitucional, notadamente com os princípios da Administração Pública e das Finanças Públicas, a continuidade desse ciclo de denúncias, nas tribunas das Casas do Congresso Nacional e nos meios de comunicação, acerca de obras malfeitas; desvios de verbas identificados em auditorias dos Tribunais de Contas e das Controladorias; malas de dinheiro sendo apreendidas em aviões, cofres, armários ou jogadas por janelas, em face de seguidas operações policiais e do Ministério Público”, escreveu o ministro.
Dino concedeu à Câmara o prazo de cinco dias para que publique as atas das reuniões das comissões que tiveram emendas aprovadas. Os documentos deverão ser encaminhados à Secretaria de Relações Institucionais, comandada por Alexandre Padilha.
O magistrado determinou, ainda, que o pagamento das emendas só poderá ser liberado quando as atas chegarem ao Planalto e se seguirem os critérios de transparência e rastreabilidade definidos pelo STF. As emendas de 2025 só poderão ser autorizadas caso os requisitos sejam cumpridos.
“Os recentes ‘cortes de gastos’ deliberados pelos Poderes Executivo e Legislativo tornam ainda mais paradoxal que se verifique a persistente inobservância de deveres constitucionais e legais – aprovados pelo Congresso Nacional – quanto à transparência, rastreabilidade e eficiência na aplicação de bilhões de reais”, diz o ministro.