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Odilon Rios

Jornalista, editor do portal Repórter Nordeste e escritor. Autor de 4 livros, mais recente é Bode Pendurado no Sino & Outras Crônicas (2023)

Conteúdo Opinativo

Para derrubar Vargas, PCB planejou explodir teatro

19/04/2025 - 06:00
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Um dos planos mais ousados do Partido Comunista Brasileiro, o PCB, para derrubar Getúlio Vargas da presidência e neutralizar o avanço dos integralistas incluía a explosão do Theatro Sete de Setembro em Penedo, além de locais onde os integralistas estavam hospedados na cidade. O ano era 1935. A oposição a Getúlio Vargas organizou levantes em Natal, Recife e Rio de Janeiro. Era a Intentona Comunista, um movimento nacional e organizado para reagir ao avanço totalitário do presidente da República que, naquele mesmo ano, baixou a lei número 38, de 4 de abril. Conhecida como a Lei de Segurança Nacional, punia com prisão reuniões ou manifestações contra o presidente.

Um dos principais alvos era o PCB ou simpatizantes do comunismo. Eles haviam organizado a Aliança Nacional Libertadora, a ANL, em resposta à Ação Integralista Brasileira, de inspiração fascista e também chamada “camisas verdes”.

Em 1935 os camisas verdes organizavam o seu primeiro congresso em Penedo. Uma semana antes, membros do PCB planejaram explodir o Theatro Sete de Setembro, local do congresso, e lugares onde os camisas verdes estavam hospedados.

Parte da trama seria executada por pessoas de Maceió e Penedo, mas, para não levantar suspeitas, um penedense entraria no Tiro de Guerra, pertencente ao Exército, deixaria a porta aberta e facilitaria a entrada do pessoal responsável por levar as armas. Enquanto isso, alguém desligaria o fornecimento de energia elétrica na cidade, outro grupo roubaria o Banco do Brasil enquanto parte do pessoal explodiria, com dinamite, o teatro e locais onde estavam os camisas verdes.

A dinamite veio de Maceió, de caminhão, dirigido por Davi Mendonça. Ele recebeu uma caixa de papelão, embrulhada em dois papéis. Era dinamite. Recebeu ordens para levar os explosivos a Penedo, para a casa de Aloysio Braga.

Braga, segundo o Tribunal de Segurança Nacional, era o cabeça do movimento. De última hora, a ideia foi abortada porque tanto o PCB quanto os simpatizantes se dividiram a respeito da eficácia do plano. A dinamite foi enterrada dentro de uma panela, na residência de Aloysio Braga, em Penedo.

O tribunal concluiu que não havia provas nem contra o grupo nem contra Aloysio e optou pela absolvição. Das 21 pessoas que foram acusadas de subversão, algumas denunciaram tortura policial para confissões, mas as investigações também concluíram que não havia como comprovar os maus tratos.

Em depoimento, Aloysio confessou que era comunista na juventude, admitiu que havia uma trama para explodir o congresso dos integralistas, mas disse que seu papel era apenas retirar uma peça do motor que fornecia energia elétrica em Penedo, levando ao apagão da cidade. Agora, porém, era um homem convertido a Deus e, ao saber do plano, “que tomou todas as providencias a fim de evitar fosse derramado o sangue de brasileiros inutilmente para satisfação de indivíduos perversos que vivem de explorar a massa proletária na sua grande maioria ignorante e inconsciente”, sendo que “já dois anos que reingressou em nova vida, vida normal de cidadão brasileiro e cristão, vivendo de seu trabalho honesto em boa harmonia com todos e cumprindo seus deveres filiais”, conforme trecho do depoimento que consta no processo 779, cuja sentença saiu em 21/9/1939.

Dois anos após o plano que não deu certo, Getúlio Vargas inventou que o Brasil seria invadido pelos comunistas e deu um golpe de Estado.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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