Sarney quase extinguiu Produban na ‘canetada’
A história do Produban, o antigo banco estadual de Alagoas, sempre esteve ligada a farto dinheiro distribuído para poucos e interferência direta dos governadores sobre quem deveria (ou não) receber empréstimos muitas vezes impagáveis, assumidos pelo banco que, no final das contas, era do próprio governo.
Os maiores devedores sempre foram os usineiros. O Banco Central decretou a extinção do Produban em março de 1997. A dívida foi assumida pelo Estado, ou seja, todos os alagoanos. E quitada em 2021.
Antes disso, porém, o presidente José Sarney teve uma queda de braço com o governador em exercício Moacir Andrade. Estamos em uma época de transição: Fernando Collor era o governador, encararia as urnas para ser eleito, em 1989, presidente da República.
Collor era ferrenho crítico de Sarney que, por sua vez, virou o maior defensor do fim do Produban. Documentos confidenciais do governo federal, tornados públicos, mostram que o então chefe da nação quase extinguiu o banco na canetada.
Não contava com a reação de Moacir Andrade, que reuniu amplo apoio político dentro e fora de Alagoas, além de setores da sociedade civil organizada, como o Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Ufal, sindicatos, Federação das Indústrias, etc.
Havia uma convergência de interesses. Estimava-se que 1.600 funcionários do banco seriam demitidos e o mercado de trabalho alagoano não teria como absorver tanta gente da noite para o dia. Além disso, a própria realidade local era de extrema pobreza e piorada pelas condições do país: hiperinflação, desemprego, planos econômicos desastrosos.
A sugestão comum para o caso Produban era que Sarney reestudasse a medida, como, por exemplo, intervenção através do Banco Central. “Prejuízos irreparáveis”, dizia a Associação das Empresas do Mercado Imobiliário de Alagoas, a Ademi, ao encaminhar carta endereçada ao presidente, em novembro de 1988; “achar solução não traumática para o problema”, cobrava o DCE, também em correspondência encaminhada a Sarney, em 21/11/1988.
O deputado federal Vinícius Cansanção também apelou ao presidente da República e mostrou que outros bancos nos estados, também em situação semelhante ao Produban, não precisaram ser extintos. “Convém ressaltar que as referidas intervenções surtiram efeitos positivos, pois todas elas já foram suspensas”, disse.
Como se vê, Sarney adotava um tratamento diferente para a Alagoas do opositor Collor. Mas a situação evoluiu mais do que se esperava.
Um memorando do governo federal mostra que os funcionários do Produban, em 1989, resolveram não colaborar com o processo de liquidação levado adiante por Sarney. Os liquidantes do Banco Central se sentiam ameaçados, Moacir Andrade colocava dificuldades, os funcionários do banco não entregavam os disquetes para o acesso à memória das contas. O Ministério da Justiça ordenou que a Polícia Federal desse segurança ao grupo liquidante. Os seguranças não vieram, os liquidantes deixaram Alagoas e ficaram em Brasília, à espera de novas ordens.
E Collor venceu as eleições em 1989. Lógico: ele não colocou um fim no Produban.
Ele duraria ainda mais uma década, até combalir exausto em 1997, o ano da queda de Divaldo Suruagy.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA