A operação da PF contra os terroristas da extrema direita
Grupos de extrema direita prometiam ações mais violentas contra o fim da ditadura militar. Em 30/04/1981, setores tanto do Exército quanto da Polícia Militar do Rio de Janeiro explodiram uma bomba no Riocentro com o objetivo de atingir 20 mil pessoas. O plano deu errado. Mas pairava o medo no ar.
Também contrários à redemocratização, os terroristas da Falange Pátria Nova – uma das organizações da extrema direita – destruíram com bombas, no dia 28/04/1981, bancas de jornais em Belém, no Pará.
Em 25/05/1981, o médico Alvancir Lima, que morava em Maceió, recebeu três cartas fotocopiadas assinadas pelo grupo em sua casa, no bairro da Pajuçara. A carta dizia que: “NOSSO ideal é manter o Brasil democrático nacionalista”. Exigia segredo. Explicava que “nossas bombas são um santo remédio aos recalcitrantes”. Cobrava uma “contribuição” de 250 mil cruzeiros. Caso recusasse, sua família poderia sofrer represálias. “Creio que você é uma pessoa sensata. Cremos que você preza por sua vida e a dos seus familiares. Seja prudente, atencioso e discreto. Você receberá outras duas comunicações iguais a esta”.
Na carta, a Falange Pátria Nova elaborou um plano para a entrega do dinheiro: em 29/05/1981, às 22:30, Alvancir deveria seguir, sozinho e a pé, pela rua João Pessoa, no sentido Correios-Hotel Beiriz. Em frente ao hotel, haveria uma lixeira, onde ele deveria colocar a quantia, que deveria estar trocada em notas de mil cruzeiros e ensacada em um envelope amarelo de tamanho médio.
Ele seguiu as exigências, menos uma: avisou à Polícia Federal, que montou a Operação Pátria Nova, começando às oito da noite no dia da entrega do envelope:
• 18 horas: Alvancir recebeu a terceira e última correspondência da Falange Pátria Nova, escrita em máquina de escrever elétrica;
• 20 horas: início da Operação Pátria Nova, da PF;
• 22h15: Alvancir saiu de casa com o envelope amarelo. Seguiu a rota indicada pela FPN e deixou o pacote na lixeira em frente ao Hotel Beiriz. Em seguida, voltou para casa;
• 5 horas da manhã, de 30/05/1981, a PF deu a operação como encerrada.
Ninguém apareceu para resgatar o dinheiro na lixeira. Os federais procederam com a retirada do envelope, enquanto um carro da PF ficou na porta da casa do médico até às 18 horas do dia 30/05/1981.
Outro episódio com ameaça de bomba e assinado pela extrema direita é registrado no livro Explosões Conservadoras: atentados de extrema-direita na abertura da ditadura civil-militar (1980-82), de Airton de Farias.
Em São Luís do Quitunde, litoral norte alagoano, no ano de 1980 as paredes da escola estadual Messias de Gusmão foram pichadas com ameaças: “tem uma bomba nesse grupo para expludir amanhã”, escrito deste jeito, com erro de português. Foi encontrada também uma bandeira nacional rasgada e tingida de vermelho. “Conforme a imprensa, a cidade praticamente parou com a ameaça, com burburinho e medo da população. A diretora da escola suspendeu as aulas, e o secretário de segurança de Alagoas, Coronel José de Azevedo Amaral, o comandante do 59º Batalhão de Infantaria Motorizada, Coronel Francisco Demiurgo, e agentes da Polícia Federal se deslocaram para São Luís do Quitunde na intenção de verificar a procedência das ameaças e tranquilizar as pessoas”, relata o livro.
Tanto as ameaças quanto os atentados consumados levaram o país para a redemocratização. A ditadura não conseguiu o que queria.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA