Ibovespa cai 1,12% e recua 1,70% no mês; dólar fecha abril com alta de 3,53%

Por Agência Estado 30/04/2024 - 18:15

ACESSIBILIDADE


A expectativa para a reunião de política monetária do Federal Reserve em dia de feriado no Brasil, amanhã, resultou em cautela para os negócios com ativos domésticos nesta última sessão de abril, com câmbio e juros futuros em alta, e Bolsa em baixa. Enquanto o dólar à vista subiu 1,51%, a R$ 5,1923 no fechamento, o Ibovespa caiu 1,12%, a 125.924,19 pontos, entre mínima de 125.855,79 e máxima de 127.351,62 nesta terça-feira, em que saiu de abertura a 127.351,57, quase idêntica ao ponto mais alto do dia. Na semana, o índice recua agora 0,48% e, no ano, cede 6,16%. O giro financeiro subiu um pouco na sessão, para R$ 23,7 bilhões.

Em abril, o Ibovespa acumulou perda de 1,70%, após recuo de 0,71% em março. Desde fevereiro e março de 2023, o índice não emendava duas perdas mensais. Nos quatro primeiros meses de 2024, conseguiu acumular ganho apenas em fevereiro, de 0,99%, vindo de mergulho de 4,79% em janeiro. Em dólar, o Ibovespa chega ao fim de abril a 24.252,10 pontos, com o dólar à vista em forte avanço no mês, de 3,53%. No fim de março, na moeda americana, o Ibovespa estava em 25.542,54 pontos, vindo de 25.946,71 pontos e de 25.874,40 pontos, respectivamente, em fevereiro e janeiro.

Dentre as ações de maior peso no índice, Vale e Petrobras conseguiram acumular ganhos em abril: no intervalo, Vale ON avançou 4,04%, enquanto Petrobras ON e PN subiram, respectivamente, 18,66% e 15,60%. Hoje, a ação da mineradora fechou em baixa de 0,95% e as da petroleira - no dia seguinte ao relatório de produção -, com perda de 0,63% e 0,31%, pela ordem. Entre os grandes bancos, apenas Santander, que trouxe resultados trimestrais hoje, conseguiu fechar abril no positivo, com avanço de 2,63% no mês e de 2,74% na sessão. No setor, destaque para a queda de 9,42% acumulada em abril por Itaú PN, uma das ações de maior peso no Ibovespa - e que hoje fechou em baixa de 1,88%, na mínima do dia, assim como BB (ON -0,47%).

Na ponta da carteira teórica nesta última sessão do mês, além de Santander, destaque para Cemig (+2,03%) e Eletrobras (PNB +0,82%, ON +0,61%), com os investidores optando por migrar recursos para alguns papéis mais "táticos" e "defensivos", como os de empresas do setor de utilities, diz Charo Alves, especialista da Valor Investimentos, destacando a cautela em véspera de deliberação e de novos sinais do Fed, eventualmente mais "duros". No lado oposto do Ibovespa, nomes associados ao ciclo doméstico ou sensíveis a juros, como Magazine Luiza (-6,21%), Casas Bahia (-6,16%) e Yduqs (-4,95%).

Na agenda interna nesta véspera de feriado do Dia do Trabalho, dados referentes à Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, do IBGE, mostraram taxa de desemprego a 7,9% no primeiro trimestre de 2024, resultado abaixo da mediana das expectativas do mercado, observa Inácio Alves, analista da Melver.

A leitura da Pnad Contínua, segundo ele, indica um aquecimento da economia, com possível impacto para a expectativa de inflação. O efeito imediato se refletiu hoje nas taxas de juros, acrescenta o analista, destacando a alta em todos os vértices da curva, o que contribuiu para a pressão sobre o Ibovespa na sessão.

A curva de juros nos Estados Unidos também avançou nesta véspera de deliberação e de comunicação do Fed sobre a taxa de referência americana. Os rendimentos dos Treasuries ganharam novo fôlego após a divulgação de aumento do custo do emprego no relatório ADP, o que contribuiu para reforçar a cautela do mercado global, pré-Fed, aponta Guilherme Jung, economista da Alta Vista Research.

"O catalisador foi o índice de custos do emprego nos Estados Unidos, que aumentou 1,2% no primeiro trimestre e 4,2% na base anual, superando estimativas. Adicionou cautela e contribuiu para reavaliação das chances de flexibilização monetária" na maior economia do mundo, acrescenta Jung, destacando que o relatório da ADP - tido como uma proxy, ainda que frouxamente correlacionada aos dados oficiais, do payroll - surge na semana seguinte a dados que mostraram "aquecimento das pressões sobre os preços no primeiro trimestre".

Dólar

O dólar à vista subiu com força na sessão desta terça-feira, 30, e voltou a se aproximar do nível de R$ 5,20. Dados acima do esperado de custo de emprego nos EUA, na véspera da decisão de política monetária do Federal Reserve, levaram a um fortalecimento global da moeda americana e à alta firme das taxas dos Treasuries.

O real amargou o terceiro pior desempenho entre as divisas emergentes e de exportadores de commodities mais relevantes. Operadores afirmam que a busca por dólares foi turbinada pelo fato de o mercado local estar fechado amanhã, em razão do feriado do Dia do Trabalho. Eventuais sinais do Fed sobre os rumos dos juros americanos serão absorvidos pelos ativos domésticos apenas na quinta-feira, 2.

Com máxima a R$ 5,1938 à tarde, em sintonia com o exterior, o dólar à vista encerrou a sessão em alta de 1,51%, cotado a R$ 5,1923 - nível mais alto de fechamento em dez dias. A moeda encerra abril com ganhos de 3,53%, maior valorização mensal desde agosto do ano passado (4,69%). Com isso, a divisa já avança 6,98% no ano. Pela manhã e no início da tarde, houve também pressão provada por questões técnicas, com a rolagem de posições no segmento futuro na virada de mês e a disputa pela formação da última taxa ptax de abril.

Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes, em especial o euro e o iene, o índice DXY voltou a supera os 106,000 pontos, com máxima aos 106,229 pontos. A taxa da T-note de 2 anos, mais ligada às expectativas para o rumo dos juros neste ano, superou a barreira de 5% e atingiu o maior nível em cinco meses.

Segundo o head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, o clima de tensão na véspera da reunião de política monetária do Fed se exacerbou após a divulgação de dados mostrando aumento de custo de mão de obra nos EUA, o que sugere pressões inflacionárias à frente. "As taxas dos Treasuries subiram com o mercado precificando apenas um corte de 25 pontos até dezembro", afirma Weigt.

O tesoureiro observa que o real vinha até nos últimos dias se valorizando em relação ao peso mexicano, com a perspectiva de menos cortes da taxa Selic após declarações mais duras do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ao longo de abril. "Mas o comportamento do real volta agora a ficar muito atrelado ao movimento dos Treasuries. Vamos ver como será o tom do Fed amanhã", afirma Weigt.

É dado como certo que o Banco Central americano vai anunciar a manutenção da taxa básica na faixa entre 5,25% e 5,50%. As atenções se voltam ao comunicado da decisão e, sobretudo, à entrevista coletiva do presidente do Fed, Jerome Powell. Não haverá revisão das projeções dos dirigentes do BC americano para a taxa de juros. Em março, a maioria projetava três reduções de 25 pontos-base em 2024.

Monitoramento do CME Group mostrou que as chances de corte de juros em setembro passaram a ficar abaixo de 50% hoje. O quadro mais provável é de apenas uma redução de 25 pontos-base neste ano, mas a possibilidade de manutenção da taxa básica em 2024 subiu para 25%.

Pela manhã, o Departamento de Trabalho americano informou que o índice de custo de emprego dos EUA subiu 1,2% no primeiro trimestre de 2024 ante o quarto trimestre de 2023, acima das previsões (0,9%). O temor de aumento das pressões inflacionárias fez investidores deixarem em segundo plano a queda da confiança do consumidor americano em abril e dados abaixo do esperado do índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) dos Estados Unidos medido pelo Instituto para Gestão da Oferta (ISM, na sigla em inglês) de Chicago.

"Esse dado do custo de emprego é um banho de água fria na expectativa de desaceleração da inflação neste ano e fez o dólar ganhar força no mundo todo", afirma o chefe de renda variável da Criteria, Thiago Pedroso, ressaltando que os indicadores sugerindo perda de força da atividade nos EUA acabaram não tendo peso na formação dos preços.

Juros

Os juros futuros fecharam a sessão em forte alta nesta terça-feira, 30, refletindo o aumento de posições de hedge, na medida em que os ativos locais só poderão reagir ao resultado do encontro de amanhã do Federal Reserve quinta-feira, pós-feriado no Brasil. Este ajuste foi ainda fomentado pelo avanço dos rendimentos dos Treasuries e do dólar, além de dados firmes do mercado de trabalho no Brasil. Desse modo, a curva termina abril com forte ganho de inclinação, alimentado pelo crescimento das incertezas sobre o ciclo de corte de juros nos Estados Unidos e piora de percepção de risco fiscal.

No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 estava em 10,315%, de 10,155% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026, saltava de 10,39% para 10,65%. O DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 11,01% (de 10,76%) e o DI para janeiro de 2029, taxa de 11,53% (de 11,30%).

Já se sabia que a sessão seria difícil, em função do fechamento do mercado brasileiro amanhã, dia de decisão do Fed, mas ainda assim o nível de ajuste promovido na curva surpreendeu. Somado a isso, o expressivo giro de contratos - só no DI janeiro de 2025 era de 1,36 milhão - sugere movimentos de stop loss por parte dos vendidos.

A esperada cautela antes do Fed por si só já justificaria uma postura mais defensiva, mas acabou sendo exacerbada pelo resultado do índice de custo de emprego dos EUA, que subiu 1,2% no primeiro trimestre, ante previsão de 0,9%. Os rendimentos dos Treasuries dispararam, com yield da T-Note de 2 anos se firmando acima dos 5% e o da T-Note de 10 anos batendo máximas a 4,69%. Outro vetor negativo para os juros foi o câmbio, com o dólar escalando novamente para perto dos R$ 5,20.

Esse contexto remete a declarações recentes do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, admitindo o risco de reduzir a dose de corte da Selic, atualmente de 0,50 ponto porcentual, se o aumento da incerteza global persistir.

Na Kínitro Capital, o gestor de portfólio Mauricio Ferraz relata o caráter bastante técnico da sessão desta sexta-feira, pautado pelos ajustes antes do Fed. "A expectativa é de um tom bastante duro, com o Fed reforçando a ideia de que não deve começar a reduzir juro enquanto os dados não confirmarem que a inflação está convergindo para as metas", disse. O fato de não haver desta vez a divulgação do gráfico de pontos aumenta a subjetividade das interpretações da mensagem do Fed, o que também eleva a cautela.

Ferraz destaca que as turbulências externas afetam demais os ativos emergentes, sobretudo o câmbio, o que somado ao risco fiscal e dados de atividade forte no Brasil, acabam limitando o espaço de atuação do BC. "A inflação está ok, mas o BC tem adotado uma postura mais hawkish, indicando que o orçamento de cortes que tinham parece estar mudando", disse.

A agenda doméstica foi carregada de dados indicando um mercado de trabalho fortalecido, o que serve de alerta para a inflação de serviços. A Pnad Contínua mostrou que a taxa de desemprego foi de 7,9%, abaixo da mediana de 8,1% e perto do piso da projeções (7,8%), com aumento tanto na renda média quanto da massa salarial. Já o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) apontou criação de 244.315 carteiras assinadas em março, acima da mediana das estimativas, de 190 mil postos.


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