Antes do Copom, dólar sobe e se aproxima de R$ 5,10; Ibovespa tem leve alta de 0,21%

Por Agência Estado 08/05/2024 - 18:15

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O dólar subiu no mercado doméstico e esboçou fechar acima de R$ 5,10 na sessão desta quarta-feira, 8, dia marcado por sinal predominante de alta na moeda americana no exterior e avanço das taxas dos Treasuries. O real apresentou o pior desempenho entre as principais divisas emergentes e de países exportadores de commodities, com investidores preferindo adotar uma postura defensiva diante das dúvidas que cercam a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) hoje à noite.

Com mínima a R$ 5,0769 e máxima a R$ 5,1080, o dólar à vista encerrou o pregão em alta de 0,47%, cotado a R$ 5,0913. Nas cinco primeiras sessões de maio, a moeda ainda acumula perdas de 1,95%. Como nos pregões anteriores, a liquidez foi moderada, o que revela postura cautelosa das tesourarias. Principal termômetro de apetite por liquidez, o contrato de dólar futuro para junho movimentou pouco mais de US$ 10 bilhões.

No exterior, o índice DXY - que mede o desempenho do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes - operou em leve alta, com máxima aos 105,644 pontos, em meio a um tombo do iene. As taxas dos Treasuries voltaram a subir. O retorno da T-note de 10 anos se aproximou de 4,50%, em dia de leilão de US$ 42 bilhões com demanda em linha com a média recente.

Sem indicadores relevantes nos EUA hoje, investidores monitoraram declarações de dirigentes do Banco Central Americano. No início da tarde, a presidente do Federal Reserve de Boston, Susan Colin, disse que o nível atual dos juros é "moderadamente restritivo" e alertou para riscos de cortes prematuros da taxa básica.

"O câmbio aqui ficou pressionado pela alta dos Treasuries, com leilão importante de T-note de 10 anos, e pelas incertezas em relação à decisão e aos sinais do Copom sobre o ciclo de corte da taxa Selic", afirma o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicola Borsoi, que prevê redução de 0,25 ponto porcentual hoje e Selic terminal em 10%.

Com fluxo cambial menos positivo neste ano e dúvidas crescentes em torno do compromisso do governo com as metas fiscais, analistas afirmam que o fôlego do real está muito ligado ao diferencial entre juros interno e externo. Não por acaso, a taxa de câmbio chegou a se aproximar de R$ 5,30 em meados de abril quando investidores passaram a trabalhar com apenas um corte de juros nos EUA neste ano.

Dado o aumento das incertezas no exterior, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, veio a público no mês passado para derrubar o forward guidance do Copom, que previa novo corte da Selic em 0,50 ponto porcentual em maio. Apesar das leituras recentes benignas do IPCA, a maioria do mercado passou prever uma redução de 0,25 ponto hoje.

Para o economista-chefe da Nova Futura, o quadro macroeconômico abre espaço para manutenção do ritmo de 0,50 ponto, mas as incertezas no quadro externo sugerem que o BC deve adotar uma postura mais cautelosa e optar pelo 0,25 ponto. A reação da taxa de câmbio, observa Borsoi, depende tanto da magnitude do corte quanto da sinalização do Copom para seus próximos passos.

"Com essa visão de que a inflação continua forte nos EUA, se o Copom optar por corte de 0,50 ponto, o câmbio aqui vai sofrer. Toda aquela história de 'carrego' vai se esvaziar um pouco", diz Borsoi, em referência ao estreitamento do diferencial de juros interno e externo. "Um corte de 0,25 ponto, mas com promessa de ciclo mais longo também pode pesar no câmbio. Se a redução for de 0,25 ponto com sinais de que o ciclo está terminando, o dólar pode vir para baixo".

Ibovespa

O Ibovespa se manteve em torno da estabilidade em boa parte da tarde, mas tendeu ao positivo no fechamento, em alta de 0,21%, aos 129.480,89 pontos, com giro a R$ 21,1 bilhões na sessão. Tanto o volume diário como a variação moderada do índice da B3 se enquadram na cautela que precede a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), nesta noite, que pode trazer corte de 0,25 ou de meio ponto porcentual para a Selic, em deliberação possivelmente dividida.

Nesse contexto de maior incerteza sobre a trajetória da taxa de juros doméstica, em meio à recente retomada de preocupações sobre a direção das contas públicas - reforçadas pela catástrofe natural no Rio Grande do Sul, em dimensão ainda não quantificável -, o dólar à vista avançou 0,47% nesta quarta-feira, a R$ 5,0913, em viés de alta também para a curva de juros doméstica na sessão.

Da mínima à máxima desta quarta-feira, o Ibovespa oscilou dos 128.048,04 aos 129.564,28 pontos, saindo de abertura aos 129.210,15. Na semana, o Ibovespa ganha 0,76% e, no mês, avança 2,82%, limitando a perda do ano a 3,51%.

No cenário externo, observa a Guide Investimentos em nota, "a abordagem mais cautelosa do Fed o colocou fora de sincronia com os bancos centrais na Europa, que já iniciaram o afrouxamento monetário".

"Hoje, o Riksbank da Suécia iniciou seu ciclo de cortes, afrouxando a política monetária pela primeira vez em oito anos", acrescenta a casa, observando que a decisão do BC sueco vem na esteira de deliberação semelhante do BC da Suíça, que havia se antecipado aos pares europeus com um corte de juros em março.

Aqui, à tarde, com agenda de dados esvaziada na sessão e foco no que o Copom trará à noite, o Ibovespa conseguiu firmar sinal positivo do meio para o fim da sessão, renovando máximas do dia discretamente - no melhor momento, +0,27% -, com boa contribuição de Petrobras (ON +1,06%, PN +1,53%), o que se contrapôs à perda de 0,91%, no fechamento, para a ação de maior peso no índice da B3, Vale ON. Contribuindo para o avanço de Petrobras, os preços do Brent e do WTI subiram hoje, após dados sobre os estoques dos EUA terem fortalecido a expectativa por demanda.

Na ponta ganhadora do Ibovespa nesta quarta-feira, destaque para os frigoríficos Marfrig (+11,18%) e BRF (+11,17%), após o balanço da BRF no primeiro trimestre. "A empresa aprovou programa de recompra de ações, o que deu impulso adicional aos seus papéis e também aos da Marfrig", acrescenta André Luiz Rocha, operador de renda variável da Manchester Investimentos. No lado oposto do índice, destaque para a queda de 5,88% em Pão de Açúcar, após os resultados trimestrais, entre Petz (-6,02%) e Telefônica Brasil (-5,63%) no fechamento do dia.

Juros

As taxas dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) caminham para encerrar o pregão em alta, com avanços mais intensos na ponta longa da curva, diante da expectativa de que o Comitê de Política Monetária do Banco Central, o Copom, reduzirá a Selic em 0,25 ponto porcentual, desviando do caminho telegrafado em março, que apontava corte de 0,50 ponto.

A avaliação dos investidores é de que, desde a última reunião do colegiado, houve mudanças relevantes no cenário econômico.

Nos Estados Unidos, a resistência da inflação e do mercado de trabalho à pressão negativa dos juros levou o mercado a apostar num período maior sem cortes nos juros. No Brasil houve o afrouxamento da meta fiscal de 2025 e, mais recentemente, a perspectiva de aumento nos gastos públicos e efeito inflacionário das enchentes no Rio Grande do Sul. Além disso, a tensão entre Israel e Irã ganhou relevância, com ataques diretos, ainda que pontuais, entre os dois países, com impacto nos preços do petróleo.

Todos estes fatores devem contribuir para aumentar o conservadorismo do Copom na condução da política monetária. Há, no entanto, expectativa de que a decisão do colegiado não seja unânime.

"A decisão dividida pode gerar um pouco de volatilidade nos próximos dias", disse Marcelo Bolzan, planejador financeiro e sócio da The Hill Capital, que espera um corte de 0,25 ponto na reunião de hoje, com divergência entre os membros do Copom.

"Se a gente tem uma decisão unânime, fica melhor, porque está claro que existe uma coesão", afirmou Bolzan, acrescentando que isso seria verdadeiro inclusive no caso de a decisão ser um corte de 0,50 ponto porcentual. "O mercado assimilaria melhor do que um de 0,25 ponto com comitê mais dividido."

Carlos Lopes, economista do banco BV, está na ala minoritária do mercado, que espera uma redução de 0,50 ponto porcentual na Selic. Ele aponta que o quadro macroeconômico e geopolítico, de fato, passou a ter elementos que ensejariam uma redução menos intensa da taxa, mas que ao longo das últimas semanas o nível de incerteza trazido por estes elementos diminuiu bastante.

Segundo Lopes, a maior dúvida do mercado no momento gira em torno de qual será o nível terminal da Selic ao fim do atual ciclo de corte, e a interpretação do mercado sobre qual será este patamar terá mais peso sobre a precificação da curva de juros do que outros fatores ligados à decisão de hoje do Copom.

"Hoje, o que está precificado nas curvas de juros é uma taxa final um pouco acima de 10%. É uma taxa elevada. Teria bastante espaço ainda para reduzir", diz Lopes. O banco BV prevê que a Selic termine este ano em 9,00% e atinja um piso de 8,50% em 2025.

A taxa do contrato de DI para janeiro de 2025 subiu a 10,210%, de 10,209%, enquanto a taxa para janeiro de 2026 teve alta para 10,450%, de 10,418%. A taxa para janeiro de 2027 avançou a 10,785%, de 10,716%, enquanto a do contrato para janeiro de 2029 fechou a 11,275%, de 11,190%.


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