MEIO AMBIENTE
Semiárido brasileiro adquire condição climática similar à do deserto
Degradação em ritmo acelerado e as secas intensas nos últimos 30 anos aceleram o processoA mudança do clima acelerada pela ação humana está encaminhando o Semiárido brasileiro ao processo de desertificação. A seca e a aridez já são sinais de que a região pode, sim, ter uma condição climática similar à de um deserto. O panorama foi apontado pelo mapeamento do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), segundo o qual nos últimos 30 anos a aridez afeta boa parte do estado da Bahia, além de áreas de Pernambuco, Paraíba e Piauí.
De acordo com o meteorologista Humberto Barbosa, fundador e coordenador do Lapis, é um processo em constante expansão e a degradação em ritmo acelerado e as secas intensas aceleram o processo. “São necessárias medidas para conter o processo de degradação das terras, é o caminho para combater a desertificação”, afirmou Barbosa. A análise revelou que embora o processo de degradação das terras tenha ocorrido em ritmo acelerado na região, do ponto de vista do avanço da ciência de monitoramento, a coleta de dados e informações ainda está atrasada.
Segundo o especialista, a metodologia antiga é insuficiente para dar conta das mudanças na região, tanto do ponto de vista climático quanto do acelerado processo de degradação das terras. “Apesar dos avanços, as metodologias usadas para delimitar as terras secas ainda estão em construção. O Semiárido é dinâmico, não é só aplicar a metodologia da UNCCD [Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação] para definir suas características. É uma região ainda pouco conhecida em suas características climáticas”, ressaltou. Para o autor do estudo, as chuvas estão sendo reduzidas pela degradação das terras secas do Brasil e o caso é grave, pois é um sistema que se retroalimenta.
“No Semiárido, as secas aumentam a degradação das terras, que por sua vez reduzem as chuvas”, descreveu o pesquisador. E foi usando recursos da ciência de monitoramento e dados de satélites que Barbosa identificou uma categoria especial, as chamadas secas repentinas (flash droughts), até então inéditas na pesquisa brasileira. O resultado está no artigo Flash Drought and Its Characteristics in Northeastern South America during 2004–2022 Using Satellite-Based Products.
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