SAÚDE MENTAL

Suicídio entre policiais militares cresce em Alagoas

Três agentes cometeram suicídio em 2024 no estado, frente a um único caso registrado em 2023
Por Adja Alvorável 26/07/2025 - 06:00
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Ascom PM-AL
Aumento dos casos de suicídio entre policiais alagoanos preocupa especialistas e mobiliza ações de acolhimento na corporação
Aumento dos casos de suicídio entre policiais alagoanos preocupa especialistas e mobiliza ações de acolhimento na corporação

Alagoas registrou um aumento nos casos de suicídio entre policiais em 2024, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2025, divulgado na quinta-feira, 24. O estado passou de um caso em 2023 para três neste ano, todos entre policiais militares da ativa. Apesar do número absoluto parecer pequeno, o crescimento proporcional coloca Alagoas entre os estados com maior alta no país.

A estatística contrasta com a tendência nacional. A taxa de suicídios, que apresentou uma variação de -8% de 2023 para 2024, de 137 mortes para 126, segundo o anuário. Ou seja, enquanto o Brasil apresentou leve redução, Alagoas seguiu na contramão. As maiores altas ocorreram no Distrito Federal (400%), Alagoas (200%) e Ceará (100%).

A taxa de suicídio entre policiais da ativa no estado subiu de 0,1 para 0,3 por mil profissionais entre 2023 e 2024. Embora esteja dentro da média nacional, o avanço acendeu um alerta.

"Essas mortes são cada vez mais resultantes de suicídio, o que nos leva a questionar de que forma as condições de trabalho desses profissionais têm impactado seu bem-estar e saúde mental", aponta o relatório.

Outro dado que chama atenção é que os três suicídios registrados em 2024 em Alagoas ocorreram entre policiais militares. Nenhum caso foi registrado entre integrantes da Polícia Civil no estado.

O levantamento ressalta ainda que a PM, por atuar no policiamento ostensivo e em situações de confronto direto, tende a sofrer maior pressão psicológica e risco de esgotamento.

Saúde mental em foco dentro da corporação

A Polícia Militar de Alagoas mantém o Centro Integrado de Assistência (CIA), antiga CAS, que reúne psicólogos, assistentes sociais e capelães religiosos. O grupo atua com foco preventivo e de acolhimento emocional, oferecendo desde escuta individual até programas estruturados.

Um deles é o Programa de Valorização da Vida e Prevenção ao Suicídio, que combina informação, identificação de fatores de risco, atendimento psicossocial e acompanhamento de policiais com ideação suicida.

“Sabemos o quanto a atividade policial pode ser estressante. Em sua essência, trata-se de um trabalho que expõe o profissional ao risco de adoecimento mental", afirmou a major Amanda Salomão, psicóloga do CIA, durante a campanha Setembro Amarelo 2024. “Focar nos fatores de proteção para a saúde mental […] são práticas que garantem tanto qualidade de vida quanto saúde mental”.

A história da 2º sargento Fernanda Viana ilustra o impacto que o acolhimento pode ter. Em setembro de 2015, ela perdeu quatro colegas, entre eles, dois amigos próximos, na queda de um helicóptero do Grupamento Aéreo. O luto a abalou profundamente. “Senti-me frágil, com medo, e cheguei a pensar que nunca mais conseguiria atuar como policial militar".

O atendimento do CIA foi decisivo. Por meio do Programa de Prevenção ao Transtorno de Estresse Pós-Traumático, voltado a policiais expostos a eventos traumáticos, ela foi acompanhada de forma contínua. Com o tempo, não apenas se recuperou emocionalmente como também se formou em psicologia e hoje atua na própria equipe de assistência.

“Deixei de ser cuidada e passei a ocupar o lugar de quem cuida. Eu não conhecia esse lugar de cuidado até precisar dos serviços”, disse a sargento, que se diplomou em psicologia em 15 de julho deste ano.

Apesar de contar com estrutura de acolhimento, o tabu ainda é um desafio. Muitos policiais resistem a procurar ajuda por medo de parecerem fracos ou não estarem aptos ao serviço. O caminho, segundo os profissionais envolvidos, é promover uma cultura institucional de acolhimento, escuta e cuidado contínuo, onde admitir sofrimento não é sinal de fraqueza, mas de coragem.

Onde e como buscar ajuda

Além do CIA, a Polícia Militar oferece suporte psicológico por meio da Diretoria de Saúde, que realiza atendimentos a militares ativos, inativos e seus dependentes. Qualquer policial pode procurar ajuda diretamente, ou ser incentivado por colegas, chefes imediatos ou comandantes.

Os atendimentos do CIA acontecem na sede, no bairro da Pitanguinha, em Maceió, além de polos regionais (NAPS). Os contatos e horários estão disponíveis nos canais oficiais da corporação.

Outra frente de atuação é o Escuta SUSP, programa nacional de apoio psicológico online aos profissionais de segurança. Em agosto, Alagoas formalizou sua participação na iniciativa, viabilizada pelo Ministério da Justiça em parceria com universidades federais.

Contatos úteis para policiais em Alagoas

CIA (Centro Integrado de Assistência)

📍 Rua Antônio Gerbase, 276 – Pitanguinha, Maceió
📞 (82) 98833-4160
📱 Instagram: @cas.pmal
🕘 Atendimento: seg, qua e sex – 9h às 17h | ter e qui – 7h às 17h

Capelanias

  • Católica: (82) 98119-1202
  • Evangélica: (82) 98827-7372

Diretoria de Saúde (DS)

📞 (82) 98833-4165 | (82) 98833-4160

📱 Instagram: @ds.pmal

Escuta SUSP

🖥 Inscrições e atendimento online pelo portal do Ministério da Justiça: gov.br/mj


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