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Relatório recomenda inclusão dos Flexais na área do mapa de risco de Maceió

Estudo técnico da UFES e de instituições internacionais aponta instabilidade do solo em Bebedouro
Por Redação 03/11/2025 - 08:51
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Reprodução/Instagram/MUVB
Moradores dos Flexais pedem realocação imediata
Moradores dos Flexais pedem realocação imediata

O geólogo e professor universitário Marcos Eduardo Hartwig, do Departamento de Geologia da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), participou da elaboração do Relatório Independente produzido e assinado por cientistas do GFZ Helmholtz Centre Potsdam, Leibniz University Hannover, University of Leipzig (Alemanha), INPE e UFES (Brasil), que analisa o processo de afundamento do solo em Maceió decorrente da exploração de sal-gema pela Braskem. O documento foi enviado ao Ministério Público Federal em Alagoas (MPF/AL) e responde a questionamentos sobre a metodologia e as conclusões técnicas do estudo.

Segundo o relatório, elaborado com base em dados fornecidos pela Defensoria Pública do Estado de Alagoas (DPE/AL), o fenômeno de subsidência continua ativo e não há, até o momento, indícios claros de estabilização. A análise envolveu o uso de tecnologias de interferometria radar (MT-InSAR), monitoramento GNSS (Global Navigation Satellite System), dados geológicos e de campo, além de imagens obtidas por satélite e registros locais. O grupo científico identificou movimentos verticais e horizontais acumulativos em diferentes setores de Maceió, inclusive em áreas fora dos limites atualmente considerados críticos pela Defesa Civil.

O documento detalha que o pesquisador Marcos Hartwig realizou trabalho de campo em agosto deste ano, com visitas a regiões selecionadas pela DPE/AL, registros fotográficos e entrevistas com moradores. Pesquisadores estrangeiros também visitaram Maceió — Magdalena Vassileva e Mahdi Motagh estiveram na cidade em 2022, e Motagh retornou em 2023, a convite da Defesa Civil municipal. Entre os resultados, o relatório destaca a necessidade de atualização do Mapa de Linhas de Ações Prioritárias, elaborado pela Defesa Civil, pois a chamada bacia de recalques — área afetada pela subsidência — se estende além dos limites demarcados. Mesmo em regiões com deslocamentos verticais inferiores a 5 milímetros por ano, os pesquisadores observaram danos estruturais em imóveis construídos sobre solos de baixa capacidade de suporte. O estudo recomenda que essas áreas sejam incorporadas ao mapa de risco, uma vez que os deslocamentos, ainda que lentos, são cumulativos ao longo do tempo e continuam ativos.

Uma das principais conclusões diz respeito à comunidade dos Flexais, em Bebedouro, apontada como área vulnerável a múltiplos processos geológicos. O relatório descreve que a parte baixa da comunidade está sobre depósitos flúvio-lagunares, sujeitos a alagamentos por sua proximidade com a Lagoa Mundaú, enquanto a parte alta repousa sobre a Formação Barreiras, sujeita à erosão e movimentos de massa. Foram identificados deslocamentos verticais e horizontais ativos, o que levou os pesquisadores a recomendar que os Flexais sejam incluídos na Zona 00 do mapa de risco, destinada a áreas que necessitam de evacuação e indenização.

O relatório explica que o movimento do solo nessa região está associado à convergência das cavidades subterrâneas de dissolução de sal, provocadas pela mineração, e que essa interação intensifica a instabilidade local. O documento observa ainda que edificações com padrões construtivos mais simples tendem a sofrer danos mais severos mesmo diante de pequenas movimentações do terreno. No conjunto de recomendações, o estudo orienta que o monitoramento de superfície seja mantido continuamente até que haja comprovação de estabilização. Propõe a instalação de refletores de canto (corner reflectors) em áreas demolidas para assegurar pontos fixos de medição, o uso de imagens de radar de alta resolução para detectar microdeslocamentos e a ampliação da rede de antenas GNSS nos bairros Bom Parto e Bebedouro, onde o deslocamento ocorre predominantemente na direção das cavidades subterrâneas.

O relatório também recomenda a instalação de fissurômetros em imóveis afetados, tanto nas zonas monitoradas quanto nas áreas periféricas, para acompanhar a evolução das rachaduras e fissuras. Além disso, propõe a criação de um mapa de níveis de danos por domicílio, inspirado em metodologia adotada em Calatayud, na Espanha, que permitiria classificar os imóveis conforme o grau de comprometimento estrutural e risco geotécnico. 

Hartwig destaca que o caso de Maceió é único no Brasil, o que exige o cruzamento de dados nacionais e internacionais. Por isso, o relatório inclui um capítulo específico com referências a métodos estrangeiros de avaliação de danos em edificações e menciona normas brasileiras como a ABNT NBR 16747 e diretrizes do Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia (IBAPE) como referência para futuras inspeções. 

Confira relatório na íntegra na Galeria de Arquivos



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