DIVERSIDADE
Estudante que denunciou transfobia celebra criação de cotas trans na Ufal
Nefertiti Souza diz que decisão é “um passo histórico”, mas cobra políticas de permanência
A notícia de que a Universidade Federal de Alagoas (Ufal) vai adotar cotas para pessoas trans nos cursos de graduação chegou a Nefertiti Souza como um alívio e também como um símbolo de reparação. A decisão foi tomada pelo Conselho Universitário da Universidade Federal de Alagoas (Consuni) na última terça-feira, 4.
Em julho deste ano, a estudante de História denunciou nas redes sociais ter sido vítima de transfobia institucional ao fazer sua matrícula na Ufal: mesmo com todos os documentos retificados, o sistema acadêmico registrou seu nome morto. “Um erro que não é apenas técnico: é violência, é negligência, é desumanidade travestida de burocracia”, escreveu na época.
Meses depois, a mesma universidade aprova por unanimidade uma política de cotas trans, decisão que seguirá para o Ministério da Educação até o fim de novembro e deve valer já no Sistema de Seleção Unificada (Sisu) de 2026. O reitor Josealdo Tonholo comemorou a aprovação: “Eu acho que a gente vai dar um salto ímpar na história da Universidade", disse.
“Ficamos muito felizes com essa notícia, porque é uma pauta que a gente luta desde 2019. Outras universidades já tinham avançado e agora a Ufal começa a caminhar nesse sentido. É um passo importante para garantir a democracia social da educação”, afirma Nefertiti.
Para ela, a medida representa mais que uma conquista de acesso: é um reconhecimento da luta e da presença de pessoas trans dentro da universidade. “Apesar das dificuldades, a gente não vai se calar nesses espaços. A Ufal precisa ser uma universidade de todos, todas e todes”, diz.
Apesar do avanço, a estudante faz um alerta: a criação das cotas não basta se não vier acompanhada de políticas de permanência estudantil.
“A cota sem políticas públicas para permanência um projeto sem muita [eficácia]. É importante pensar em bolsas específicas, ampliação das residências e em medidas que garantam que essas pessoas consigam se manter e se formar".
Hoje, segundo a Pró-reitoria de Graduação da Ufal, pelo menos 20 instituições federais já têm cotas para pessoas trans. Agora, a Ufal vai integrar este grupo. Para quem já enfrentou o preconceito dentro dos muros da própria universidade, esse passo representa mais que uma política: é um sinal de mudança.
“Todo mundo merece ser bem acolhido e bem recebido na Universidade Federal. Essa decisão mostra que a gente está começando a ser visto como parte dela”, resume Nefertiti.
O avanço na Ufal ocorre em um contexto de maior visibilidade para os direitos da população trans no país. Desde 2019, o Supremo Tribunal Federal (STF) equipara a transfobia ao crime de racismo, e ofensas individuais também podem ser punidas como injúria racial, com penas que chegam a cinco anos de reclusão em casos de divulgação ampla.
Além disso, tramita no Congresso o Projeto de Lei 717/25, que propõe criminalizar especificamente a transfobia, prevendo pena de dois a quatro anos de prisão, podendo chegar a 30 anos se o ato resultar em morte.



