Intolerância religiosa

Denúncias triplicam após criação de delegacia especializada em Alagoas

Estrutura inaugurada em 2022 reforçou a rede de proteção às vítimas
Por Redação 21/11/2025 - 06:51
A- A+
Pei Fon/ Agência Alagoas
Religiões de matriz africana são maioria nos registros oficiais da Polícia Civil
Religiões de matriz africana são maioria nos registros oficiais da Polícia Civil

A criação da Delegacia Especial dos Crimes contra Vulneráveis Yalorixá Tia Marcelina, em 2022, provocou uma mudança profunda no enfrentamento à intolerância religiosa em Alagoas. Desde que passou a funcionar no Complexo de Delegacias Especializadas (CODE), em Maceió, o número de denúncias triplicou: foram 9 registros em 2022 e 29 em 2024, de acordo com dados da Polícia Civil.

Para autoridades estaduais, o aumento não representa piora no cenário, mas sim o resultado da ampliação da rede de acolhimento e da confiança das vítimas em buscar ajuda. Antes da delegacia, casos de preconceito raramente chegavam ao conhecimento da polícia, em razão do medo, da vergonha e da falta de canais especializados.

Por trás das estatísticas estão histórias como a de Mãe Nadja Cabral, Ekedy de Oxum, artesã e presidente da Undeke Alagoas. Negra, mãe solo e avó, ela relata ter sofrido agressões e humilhações apenas por usar um turbante. “Minha religião não é moeda de troca. Quem me ama precisa aceitar minha fé, meus turbantes e meu trabalho pelo meu povo”, afirmou.

A delegacia, inaugurada no primeiro ano da gestão do governador Paulo Dantas, reúne policiais, psicólogos e assistentes sociais especializados no atendimento a religiões de matriz africana e a outros grupos vulneráveis. A unidade tornou-se referência no Nordeste no combate à intolerância religiosa, ao racismo, à homofobia e a outras formas de violência motivadas por preconceito.

“A delegacia foi criada para oferecer um espaço seguro, onde as pessoas se sintam vistas e respeitadas. O aumento das denúncias mostra que há confiança no Estado e que as vítimas sabem que terão resposta”, disse a delegada titular, Rebecca Cordeiro.

O Governo de Alagoas também passou a articular ações educativas e preventivas com a Secretaria de Direitos Humanos, o Núcleo de Integridade da Informação e organizações da sociedade civil, com foco no enfrentamento à desinformação religiosa — considerada uma das principais causas de preconceito, especialmente no ambiente digital.

Para o secretário de Segurança Pública, Flávio Saraiva, a criação da delegacia representa “um símbolo de respeito, acolhimento e coragem para transformar o silêncio em denúncia”. O secretário de Direitos Humanos, Marcelo Nascimento, acrescenta que a unidade fortalece o direito constitucional à liberdade religiosa e oferece um canal oficial para que vítimas possam ser acolhidas e protegidas.

A intolerância religiosa é crime previsto na Lei nº 7.716/1989. A Delegacia Yalorixá Tia Marcelina atende de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h, no CODE, em Mangabeiras, e recebe denúncias pelo telefone (82) 3315-8272, com sigilo garantido.


Encontrou algum erro? Entre em contato