Dólar sobe 0,44%
Ibovespa cai 0,45%, aos 104,2 mil pontos
Após duas sessões de leve recuperação, o Ibovespa voltou a terreno negativo nesta terça-feira, 7, acompanhando o sinal do exterior
Após duas sessões de leve recuperação, o Ibovespa voltou a terreno negativo nesta terça-feira, 7, acompanhando o sinal do exterior. Prevaleceram os comentários hawkish do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, durante audiência no Senado, reforçando a indicação de que a taxa de juros terminal pode ficar além do que se esperava a princípio para os Estados Unidos, no atual ciclo de elevação dos custos de crédito na maior economia do mundo.
Na ponta do Ibovespa nesta terça-feira, destaque para as aéreas Azul (+20,12%) e Gol (+5,67%), junto a CVC (+9,88%), com o setor de viagens ainda refletindo a renegociação de dívidas da Azul, de efeito positivo para a geração de caixa da companhia no ano, observa Matheus Willrich, especialista em renda variável da Blue3. No lado oposto na sessão, Dexco (-6,79%), BRF (-4,17%) e Prio (-3,00%), assim como para as duas ações de Petrobras (ON -3,03%, PN -3,31%).
Considerando os fundamentos - onde o macro (cenário econômico) tem prevalecido sobre o micro (resultados das empresas, em geral resilientes) -, a perspectiva de retomada sustentada da Bolsa permanece incerta, tendo em vista o panorama doméstico como também o externo.
"É o ciclo de aumento de juros mais acelerado dos Estados Unidos, um freio muito brusco. Dificilmente se conseguirá evitar uma recessão, ainda que leve, por lá. A fala do Powell no Senado veio em linha com os últimos sinais do Fed, no sentido de uma taxa de juros terminal a 5,5%", diz Felipe Moura, sócio e analista da Finacap Investimentos, referindo-se à taxa de juros de referência dos EUA, no maior patamar em décadas.
Para o banco ING, a probabilidade de pouso forçado e reversão da política adotada pelo Banco Central americano está crescendo. O ING avalia que Powell assumiu um tom mais "hawkish" em relação ao seus últimos comentários em fevereiro, na participação desta terça-feira no Senado americano.
"Powell sinalizou possibilidade de altas mais fortes na taxa de juros, que é possível aceleração nas próximas reuniões a depender dos dados, elevando a taxa terminal a níveis consideravelmente mais altos do que se imaginava no passado", diz Luiz Adriano Martinez, gestor de renda variável e sócio da Kilima Asset, destacando o efeito, na sessão, sobre os rendimentos dos Treasuries de 2 anos, título mais sensível à perspectiva de curto prazo para a política monetária americana.
Dólar
Após uma manhã morna e de oscilações modestas, o dólar se firmou em alta no início da tarde, sob impacto de discurso duro do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, e encerrou a sessão desta terça-feira, 7, cotado a R$ 5,1927, avanço de 0,44% Apesar da alta hoje, a divisa ainda acumula baixa de 0,62% no mês.
A depreciação do real se deu em meio a uma onda de valorização da moeda americana no exterior. O índice DXY - que mede o desempenho do dólar frente a seis divisas fortes - atingiu o maior nível em dois meses, na casa dos 105,605 pontos, com tombo de mais de 1% do euro. As moedas emergentes e de países exportadores de commodities caíram em bloco. O real, que costuma apanhar em episódios de aversão ao risco, desta vez sofreu bem menos que seus pares, como peso chileno, mexicano e rand sul-africano.
Como ontem, o pregão foi marcado por oscilações estreitas entre mínima (R$ 5,1553) e máxima (R$ 5,2058) e liquidez reduzida. Principal termômetro do apetite por negócios, o contrato de dólar futuro para abril movimentou menos de US$ 10 bilhões. Dados da Warren Rena mostram que ontem os investidores estrangeiros reduziram posição comprada em dólar futuro (que ganha com alta da moeda americana) em 22,3 mil contratos (US$ 1,1 bilhão).
Operadores veem o dólar operando em uma faixa, grosso modo, entre R$ 5,05 e R$ 5,25 no curto prazo. Quando a divisa esboça superar R$ 5,20, há entrada de exportadores e realização de lucros no mercado futuro. Baixas mais expressivas da moeda, por sua vez, levam à recomposição de posições defensivas.
"Estamos vendo o real rodar em uma banda mais estreita, com variações que não chegam a 20 centavos. Mercado parece sem apetite para uma aposta forte para nenhum dos dois lados e oscila nessa faixa, muito sensível ao noticiário político", afirma o economista Bruno Mori, sócio-fundador da consultoria Sarfin, para quem a depreciação menor do real hoje pode estar ligada ao nível mais elevada dos juros no Brasil em relação a pares.
Juros
O mercado de juros esteve relativamente bem comportado ao longo do dia, em comparação ao estresse no exterior e que aqui afetou mais a Bolsa e do câmbio, com taxas em baixa, ainda que em ritmo menor após o testemunho de Powell no Senado dos Estados Unidos. De acordo com Powell, como os indicadores econômicos mais recentes vieram mais fortes do que o previsto, o juro terminal nos Estados Unidos deve ser mais alto que o esperado. Não só cresceram as apostas de que a taxa deve ficar acima de 5,5% no fim do ano, como também se tornou majoritária a expectativa de elevação de 50 pontos-base na reunião de março.
A taxa da T-Note de 2 anos superou 5,00% pela primeira vez desde junho de 2007. Com isso, a inversão na curva entre as T-Notes de 2 e 10 anos atingiu maior amplitude desde 1981, com o spread negativo de mais de 100 pontos-base.
"Powell aproveitou a primeira oportunidade pública que teve para jogar o gato em cima do telhado e passou recibo de que a redução do ritmo de alta para 25 pontos pode ter sido prematura", disse a economista-chefe da MAG Investimentos, Patricia Pereira. A reação limitada da curva, para ela, esteve relacionada à percepção de que os ativos brasileiros estariam "baratos" se o País tiver um bom arcabouço fiscal, "embora hoje não tenha tido nenhuma linha sobre o assunto".
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