ECONOMIA

Dólar cai 0,48% no dia, mas fecha semana de Copom com alta de 3,05%

Ibovespa tem perda de 0,89%, a 119.507,68 pontos
Por Estadão Conteúdo 05/08/2023 - 04:20
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Dólar e Real, relação de altos e baixos
Dólar e Real, relação de altos e baixos

Após três pregões consecutivos de valorização, em que ameaçou fechar acima de R$ 4,90, o dólar à vista recuou na sessão desta sexta-feira, 4. Segundo operadores, houve um movimento natural de ajuste de posições e realização de lucros em meio ao enfraquecimento da moeda norte-americana no exterior, em especial na comparação com divisas emergentes pares do real como pesos mexicano e colombiano.

Dados mistos do relatório de empregos (payroll) nos EUA, mas com geração de vagas abaixo do esperado em julho, deram força a apostas de que não haverá nova alta dos juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) em setembro. As taxas dos Treasuries recuaram após a escalada dos últimos dias.

Com mínima a R$ 4,8471 na primeira etapa de negócios, o dólar diminui o ritmo de perdas ao longo da tarde em sintonia com seu comportamento lá fora e a piora das bolsas em Nova York. No fim do dia, a divisa era cotada a R$ 4,8753, em baixa de 0,48%. Termômetro do apetite por negócios, o contrato de dólar futuro para setembro teve giro razoável, acima de US$ 12 bilhões.

Apesar do refresco nesta sexta, o dólar à vista encerra a semana com valorização de 3,05%. Nos quatro primeiros pregões de agosto, houve ganhos de 3,08%, após queda de 1,25% em julho. Em relação aos pares, o real sofreu mais que os pesos mexicano e chileno na semana, mas teve desempenho superior ao registrado por peso colombiano e rand sul-africano.

Analistas veem um movimento de realização de lucros com divisas emergentes de países latino-americanos, que já embarcaram - caso de Brasil e Chile - ou estão prestes a embarcar em um ciclo de redução de juros, na contramão da tendência para a política monetária nos países desenvolvidos. Por aqui, a decisão do Copom na quarta-feira, 2, de reduzir a Selic em 0,50 pontos-base e contratar mais reduções da mesma magnitude contribui, segundo analistas, para parte da depreciação da moeda brasileira.

O diretor de Tesouraria do banco de câmbio Braza Bank, Bruno Perottoni, observa que pelo menos metade da baixa do real na quinta-feira pode ser atribuída à reação dos investidores ao comunicado do Copom. Mais do que a decisão em si, de corte de 0,50 ponto porcentual, trouxe desconforto a contratação de reduções seguidas de 0,50 ponto.

"Esse fato de cravar cortes seguidos de 0,50 jogou gasolina no mercado. Esse ímpeto de reduzir juros pode dar uma estressada no câmbio, uma vez que Estados Unidos e Europa mantêm taxas altas", afirma Perottoni.

O tesoureiro do Braza Bank chama a atenção para o fato de que a votação dividida e a mudança na composição da diretoria no fim do ano, com troca de dois diretores, sugerem alteração na gestão da política monetária.

Terminam neste ano os mandatos dos diretores Fernanda Guardado (Assuntos Internacionais e Gestão de Riscos Corporativos) e Maurício Moura (Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta), dois dos que votaram nesta semana por queda de 0,25 ponto. Dois novos diretores indicados pelo governo Lula - Gabriel Galípolo (Política Monetária) e Aílton Aquino (Fiscalização) optaram pelo corte de 0,50 ponto, no que foram acompanhados pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto.

"Considerando cenário de alta de juros lá fora, se esse novo Copom levar a Selic para menos de 10%, para algo como 8% ou 7%, vai haver uma mudança na atratividade do carry trade, o que terá reflexos no mercado de câmbio", afirma Perottoni, que espera mais explicações sobre o rumo da política monetária na ata do comitê na semana que vem.

Taxas de juros


Os juros futuros ficaram perto da estabilidade nos vencimentos de curto prazo nesta sexta-feira, enquanto os demais recuaram, com a curva retomando o movimento de "flattening" abandonado na quinta-feira. O alívio nos prêmios de risco veio do exterior, mais precisamente do forte fechamento da curva dos Treasuries e da queda generalizada do dólar, após o relatório de emprego nos Estados Unidos ter reforçado a percepção de que o Federal Reserve fará uma pausa no ciclo de aperto monetário na reunião de setembro. As taxas curtas tiveram oscilação mais limitada pelo compasso de espera pela ata do Copom, na terça-feira.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 12,470%, de 12,447% na quinta-feira, e a do DI para janeiro de 2025, em 10,48%, de 10,46%. Ainda no miolo, a taxa do DI para janeiro de 2026 se mantinha abaixo de 10%, a 9,93% (9,96% na quinta). O DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 10,07%, ante 10,10% no ajuste anterior. A do DI para janeiro de 2029 cedeu de 10,58% para 10,53%.

No balanço da semana do Copom, os DIs devolveram prêmios mais ou menos em bloco, com longas e curtas caindo em torno de 15 pontos-base, em relação aos níveis da última sexta-feira. Se na quinta-feira o ganho de inclinação da curva, especialmente pela pressão de alta na ponta longa, foi provocado em parte pelo exterior, nesta sexta-feira, esse mesmo ambiente internacional foi o fator que ajudou os juros a recuarem por aqui. O yield da T-Note de dez anos voltava a 4,04% no fim da tarde, enquanto o retorno do T-Bond de 30 anos estava abaixo de 4,20%.

"O gatilho é externo, com o payroll surpreendendo para baixo pelo segundo mês consecutivo", resume o economista-chefe do PicPay, Marco Caruso, lembrando que o Federal Reserve vinha colocando muito peso nos dados de mercado de trabalho em seus discursos "hawkish". "A chance de alta de juro nos EUA em setembro já era baixa e caiu mais. A leitura é que os bancos centrais dos países desenvolvidos estão chegando ao teto", complementou.

Foram criados 187 mil postos de trabalho nos EUA em julho, ante consenso de 205 mil, e dados dos meses anteriores foram revisados para baixo. Do ponto de vista das apostas para a política monetária, esse recorte parece ter prevalecido ante o do aumento acima do esperado dos salários e da queda do desemprego.

Nesse contexto, o mercado acabou deixando nesta sexta em stand by o desconforto visto na quinta-feira com a piora de percepção de risco inflacionário após o corte de 0,5 ponto porcentual, que muitos no mercado consideraram "mal explicado" no comunicado. Por isso, é grande a expectativa pela ata do Copom.

"A despeito do comunicado ser enfático ao se comprometer com a manutenção no mesmo ritmo de 50 pontos, a aposta de 75 pontos para alguma decisão do Copom entre setembro e dezembro ficará na curva", estima o sócio gestor e economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, que vê probabilidade mais elevada de que a taxa básica possa atingir um dígito até o final de junho de 2024, dada a previsão de chegada de mais dois diretores para intensificar a ala dovish.

Bolsa


O Ibovespa chegou a ensaiar reação nesta quarta sessão de agosto, mas não conseguiu evitar o sinal que prevaleceu nas três anteriores, negativo, pressionado nesta sexta-feira, em especial, pela má recepção aos balanços trimestrais de dois pesos-pesados do índice, Petrobras (ON -4,20%, PN -2,98%) e Bradesco (ON -4,77%, PN -6,65%). Ao final, a referência da B3 mostrava perda de 0,89%, a 119.507,68 pontos, tendo chegado no melhor momento, no começo da tarde, a 121.442,02 pontos, então em alta moderada na sessão.

O dia foi misto e ao final também negativo em Nova York, onde os índices acumularam perdas entre 1,11% (Dow Jones) e 2,85% (Nasdaq) na semana, com cautela reforçada desde o rebaixamento da nota de crédito dos Estados Unidos pela Fitch.

Aqui, o Ibovespa encerrou o intervalo de cinco sessões da semana em baixa de 0,57%, após ter fechado a semana anterior bem perto da estabilidade (-0,02%).

Com perdas ao longo das quatro primeiras sessões de agosto, o índice recua 2,00% nesta abertura de mês, limitando o avanço do ano a 8,91%. Reforçado como na quinta-feira, o giro financeiro foi a R$ 30,3 bilhões nesta sexta-feira, em que o Ibovespa saiu de abertura aos 120.585,58 e tocou, na mínima do dia, 119.215,02 pontos. Pouco acima disso, aos 119,5 mil pontos, teve nesta sexta o menor nível de fechamento desde 20 de julho, então aos 118 mil.

De certa forma, o pós-Copom foi uma decepção relativa, tendo em vista que o BC, mesmo que dividido, entregou redução de juros no limite superior da expectativa do mercado, com o corte da Selic em meio ponto porcentual, o que deve se repetir na próxima reunião do Comitê conforme a sinalização dada no comunicado. O apetite por risco, contudo, não veio, e isso ficou evidente desde a quinta, em particular no comportamento das ações de grandes bancos.

Além da cautela externa, que dificulta o apetite por risco em ativos domésticos, algumas nuances não passaram despercebidas desde a noite da última quarta-feira - o que alimenta, em parte, incerteza sobre a trajetória de queda dos juros à frente. No caso dos bancos, há a questão ainda em aberto quanto ao fim da distribuição de JCP (juros sobre capital próprio), sinal que tem sido reiterado pelo governo recentemente. Mas também pesa sobre o setor o efeito das incertezas sobre o ritmo de redução dos juros, quando ainda pendem dúvidas sobre quanto o governo conseguirá arrecadar, de fato, para fazer frente ao compromisso de equilíbrio fiscal.

Na própria noite em que elogiou a decisão do Copom de cortar a Selic em meio ponto porcentual, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fez referência a "problemas de arrecadação", observa Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, notando também que a questão do fim do JCP segue em cima da mesa. "Mesmo com a contratação de novos cortes, indicada pelo Copom, deve-se preservar nos próximos meses um patamar contracionista para a política monetária", ressalva o analista.

Rachel de Sá, chefe de Economia da Rico Investimentos, chama atenção para a retirada, na noite de quarta-feira, de referências à questão fiscal no comunicado pós-Copom, com relação ao balanço de riscos. "Nas comunicações anteriores, o Copom vinha destacando riscos associados à possibilidade de uma inflação acima do esperado e, neste comunicado, diminuiu um pouco as referências nesse sentido. Não se falou mais sobre a questão fiscal, ou sobre a desancoragem das expectativas de longo prazo. Os principais riscos agora, na visão do Copom, estão relacionados à inflação global e à inflação de serviços", acrescenta.

O campo minoritário que emergiu na reunião desta semana, dos diretores que advogavam ritmo mais cauteloso para a queda da Selic - que se iniciaria, no entendimento dessa ala, com uma redução de 0,25 ponto na última quarta-feira -, faz crer que uma perspectiva 'dovish' possa ganhar força ao fim do mandato de dirigentes considerados mais ortodoxos e duros com relação aos juros, como Fernanda Guardado - uma perspectiva que começa a entrar no radar do mercado, e que pode trazer um grau maior de volatilidade para a curva de juros.

Assim, com cautela externa e um grau de incerteza significativo em relação ao horizonte doméstico, o Ibovespa não conseguiu escapar à decepção decorrente, nesta última sessão da semana, em especial dos lucros de segundo trimestre apresentados na quinta à noite por Petrobras e Bradesco, que seguraram a ponta negativa do índice, nesta sexta, ao lado de Carrefour Brasil (-6,76%). No lado oposto, destaque para Dexco (+6,37%), BRF (+6,10%), Lojas Renner (+5,77%) e Marfrig (+5,66%).

Um leilão de 49,065 milhões de ações do Carrefour movimentou R$ 600 milhões na B3 na manhã desta sexta. O vendedor dos papéis, de acordo com fontes, foi o fundo americano Advent. A ação saiu ao preço inicial de R$ 12,16, em um leilão que durou uma hora, feito pela corretora do Itaú.

"Os resultados de Petrobras e Bradesco não animaram o mercado. O Bradesco revisou para baixo o 'guidance' de receita advinda das operações de crédito, na carteira ampliada, para os próximos trimestres. Petrobras não trouxe resultados tão fora do esperado, mas que tampouco animaram, com o mercado ainda atento à mudança na política de dividendos, com distribuição menor, o que traz certo mau humor com relação ao papel", diz Paulo Luives, especialista da Valor Investimentos.

O quadro de distribuição das expectativas do mercado financeiro para o desempenho das ações no curtíssimo prazo mostrou poucas mudanças no Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira em relação à pesquisa da semana passada. Entre os participantes, a expectativa de alta para o Ibovespa subiu de 57,1% para 63,64%, no melhor nível em três semanas. Os que preveem estabilidade são 27,27%, de 28,57% na pesquisa anterior. A fatia dos que acreditam em queda caiu de 14,29% para 9,09%.

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