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Dólar e Real, relação de altos e baixos
Após dois pregões de queda firme, em que acumulou desvalorização de 2,47% e esboçou romper o piso de R$ 4,85, o dólar à vista subiu na sessão desta quinta-feira, 24. O dia foi marcado por sinal predominante de alta da moeda norte-americana no exterior e queda dos preços de commodities metálicas.
As taxas dos Treasuries voltaram a subir em meio a dados positivos da economia dos Estados Unidos, falas de dirigentes do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) e expectativa pelo discurso, na sexta-feira, 25, do presidente do BC dos EUA, Jerome Powell, no Simpósio de Jackson Hole.
Com oscilação de pouco mais de três centavos entre a mínima (R$ 4,8557) e a máxima (R$ 4,8867), o dólar à vista encerrou o pregão em alta de 0,51%, cotado a R$ 4,8802. O dólar futuro para setembro, principal termômetro do apetite por negócios, movimentou pouco mais de US$ 10 bilhões. A divisa agora acumula queda de 1,77% na semana e avanço de 3,19% em agosto.
"Depois de certa euforia ontem com a aprovação ontem do arcabouço e o apetite ao risco lá fora, hoje os mercados estão se ajustando, com dólar caindo e Bolsa em baixa. O comportamento dos Treasuries é a principal referência", afirma o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, para quem o arcabouço fiscal não traz a segurança fiscal necessária para uma queda mais forte do dólar. "Por enquanto, o dólar está respeitando a banda de R$ 4,80 e R$ 5,00, com liquidez reduzida nos últimos dias".
No campo político, o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT), afirmou que o pacote de medidas saneadoras da equipe econômica pode ultrapassar em 2024 os R$ 150 bilhões de receitas extras previstas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para cumprir a meta de déficit zero no ano que vem. Nos cálculos divulgados nesta quinta pelo parlamentar, a arrecadação extra pode atingir até R$ 205 bilhões no ano que vem.
Lá fora, o índice DXY operou em alta firme ao longo da sessão, com ganhos em relação ao euro e ao iene, e tocou o nível do 104,000 pontos na máxima. Entre moedas emergentes, destaque para a alta de mais de 5% da lira turca, após o Banco Central da Turquia elevar sua taxa de juros de 17,5% para 25%, bem acima do esperado.
Na véspera da fala de Powell em Jackson Hole, investidores digeriram declarações cautelosas de dirigentes do BC norte-americano. O presidente do Fed de Filadélfia, Patrick Harker, disse que "provavelmente" não haverá novas altas de juros, mas que a política monetária deve se manter em nível restritivo por "algum tempo", com taxa básica congelada pelo menos até o fim deste ano. Já a presidente da distrital de Boston, Susan Collins, alertou que, apesar de "sinais promissores" no combate à inflação, pode haver novas elevações dos juros.
"Após a pausa ontem, a taxa de juros de 10 anos nos EUA voltou a subir, o que fortalece o dólar. Existe muita expectativa pela fala do Powell amanhã, porque a percepção é de juros altos por mais tempo, com a economia americana ainda aquecida", afirma o economista Piter Carvalho, da Valor Investimentos.
Taxas de juros
Os juros futuros fecharam a sessão desta quinta-feira, 24, em baixa, na contramão do avanço do dólar e dos retornos dos Treasuries. A sessão até começou com pressão de alta sobre a curva, atribuída a questões técnicas e ajustes pré-leilão do Tesouro, mas que logo perdeu força, passada a operação. Num dia sem agenda relevante, o pano de fundo para o bom desempenho do mercado continua sendo a melhora da percepção de risco político e fiscal após a aprovação do arcabouço na Câmara, que desencadeou uma correção da escalada recente das taxas. As curtas oscilaram perto dos ajustes anteriores, com o mercado à espera do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo - 15 (IPCA-15) na sexta-feira.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 12,390%, menor desde 7/4/2022 (12,125%), de 12,396% no ajuste de quarta-feira, e a do DI para janeiro de 2025 caiu de 10,43% para 10,40%. O DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 10,16%, de 10,20%, e a do DI para janeiro de 2029 caiu de 10,70% para 10,68%.
As taxas começaram o dia em alta moderada, alinhadas à tendência vista na curva norte-americana e com o mercado corrigindo parte do rali da quarta-feira, em meio ainda a ajustes para o que poderia ser a oferta do Tesouro em prefixados. Mesmo num ambiente até então de pouco apetite pelo risco, a instituição conseguiu colocar um bom lote de papéis, vendidos integralmente. Após o leilão, os DIs zeraram a alta e passaram a rondar a estabilidade, apesar da manutenção da pressão sobre os Treasuries e sobre o câmbio, com os investidores se desfazendo de posições de hedge no derivativo.
O estrategista de renda fixa da BGC Liquidez Daniel Leal explica que, pela manhã, além das posições montadas para o leilão, é natural que depois da expressiva queda de quarta-feira o mercado comece o dia realizando um pouco dos lucros. Passado o ajuste mais técnico, voltou a prevalecer o alívio vindo do cenário político e fiscal.
"Parece que os ruídos entre Legislativo e Executivo foram amenizados e a Câmara mostra preocupação com a área fiscal", afirma Leal, referindo-se aos ajustes feitos pela Casa no texto que veio do Senado.
Embora a aprovação do texto na Câmara tenha sido bem recebida, especialistas mantêm ressalvas sobre a capacidade do governo arrecadar o necessário para o cumprimento das metas de primário estipuladas no novo marco fiscal, em especial a de zerar o déficit em 2024.
Por isso, as taxas renovaram mínimas ao longo da tarde na esteira das estimativas traçadas pelo líder do governo na Câmara, visto como bastante próximo do presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL). Ele calcula que o pacote de medidas saneadoras da equipe econômica pode ultrapassar em 2024 os R$ 150 bilhões de receitas extras previstas pelo ministro Fernando Haddad, para cumprir a meta de déficit zero no ano que vem.
Nos cálculos divulgados nesta quinta pelo parlamentar, a arrecadação extra pode chegar até R$ 205 bilhões no ano que vem, considerando a possível retomada do voto de qualidade do Carf, a ser votada no Senado na semana que vem, o fim da subvenção do ICMS aos Estados, taxação das apostas esportivas, além da tributação dos fundos.
Bolsa
Com poucos novos catalisadores para orientar os negócios nesta quinta-feira, o Ibovespa conseguiu sustentar a linha dos 117 mil pontos no fechamento da sessão, nível que chegou a conceder na mínima do dia, aos 116.847,66 pontos. No encerramento, a referência da B3 mostrava perda de 0,94%, aos 117.025,60 pontos, devolvendo parte dos ganhos que havia acumulado nas duas sessões anteriores, no que foi sua primeira sequência positiva do mês.
Em agosto, que termina na próxima quinta-feira, o índice ainda cede 4,03%, limitando a alta do ano a 6,64%. Na semana, o Ibovespa avança 1,40%, buscando sustentar recuperação parcial no intervalo, vindo já de quatro recuos na série semanal.
Em dia de cautela também em Nova York, onde o destaque negativo ficou com o Nasdaq (-1,87%), o Ibovespa operou em baixa praticamente ao longo de toda a sessão, em que a máxima (118 135,57) quase correspondeu à abertura (118.135,08). O giro financeiro desta quinta-feira voltou a se enfraquecer, a R$ 19,3 bilhões.
Para André Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital, o Ibovespa passou nesta quinta por uma "correção técnica", após ter subido "mais de 3% em apenas dois dias, recuperando toda a queda que teve nos 5 ou 6 dias anteriores".
Conforme observa Gabriela Sporch, analista da Toro Investimentos, "o calendário econômico esteve mais vazio hoje, desde a manhã, com os investidores à espera do simpósio de Jackson Hole".
"Os dados do mercado de trabalho hoje pedidos semanais de auxílio-desemprego vieram um pouco mais fortes do que se esperava, o que eleva a expectativa para o que o presidente do Fed, Jerome Powell, poderá falar amanhã em Jackson Hole", diz Felipe Leão, especialista da Valor Investimentos.
O desempenho moderadamente positivo do setor de utilities (Eletrobras ON +1,39%, PNB +1,38%) foi o contraponto à retração do setor financeiro, em grandes bancos como Bradesco (ON -1,99%, PN -2,40%), BB (ON -1,31%) e Itaú (PN -1,16%).
Petrobras não conseguiu sustentar os leves ganhos vistos em parte da tarde, e fechou em baixa (ON -0,25%, PN -0,16%), em dia também negativo para Vale (ON -1,33%), que havia ensaiado recuperação na quarta, com a melhora nos preços do minério de ferro. Após avanço de quase 4% na China na sessão anterior, o contrato mais negociado do minério em Dalian cedeu nesta quinta 0,86%.
Nas cinco sessões até o dia 23, quarta-feira, os preços do minério mostraram recuperação, de volta à faixa de US$ 111 por tonelada em Dalian, em meio ainda à expectativa pela adoção de medidas de estímulo, especialmente aos setores imobiliário e de infraestrutura, na China.
Na ponta perdedora do Ibovespa nesta quinta-feira, destaque para as aéreas Azul (-5,31%) e Gol (-4,57%), enquanto Raízen (+3,32%), Alpargatas (+2,28%) e IRB (+2,02%) puxaram a fila ganhadora na sessão, à frente das duas ações de Eletrobras. As ações de sucroalcooleiras, como Raízen, na ponta do índice nesta quinta-feira, reagiram positivamente ao ruído de que a Índia deve proibir a exportação de açúcar.
"Vamos nos aproximando de um fim de agosto negativo para a Bolsa, marcado pelo aumento dos rendimentos dos títulos dos Estados Unidos, possível rebaixamento da China pela Fitch, devido ao momento econômico, e consequentemente saída de capital estrangeiro do Brasil, em direção a ativos de menor, ou 'livres', de risco", diz André Luiz Rocha, operador de renda variável da Manchester Investimentos.
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