escândalo no inss

Queiroz participou de reunião em que governo foi alertado sobre fraude

Novo ministro estava presente quando denúncias sobre irregularidades foram ignoradas
Por Redação 03/05/2025 - 11:02
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Para o lugar de Lupi, o presidente convidou Wolney Queiroz
Para o lugar de Lupi, o presidente convidou Wolney Queiroz

O novo ministro da Previdência Social, Wolney Queiroz, esteve presente em uma reunião do Conselho Nacional de Previdência Social (CNPS) em que o então titular da pasta, Carlos Lupi, foi alertado sobre possíveis irregularidades nos Acordos de Cooperação Técnica (ACTs) firmados entre entidades associativas e o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). As suspeitas envolvem a cobrança indevida de mensalidades diretamente nos benefícios de aposentados e pensionistas.

A denúncia, feita por Tonia Galleti, representante do Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi), foi apresentada em 12 de junho de 2023. Ela pediu que o assunto fosse incluído na pauta da reunião, mas o pedido foi negado. Na ocasião, Galleti reforçou a importância da discussão diante das “inúmeras denúncias feitas” e sugeriu a apresentação de dados sobre a quantidade de entidades com ACTs, o crescimento no número de associados nos 12 meses anteriores e uma proposta de regulamentação para garantir maior segurança ao sistema.

O então ministro Carlos Lupi, que presidia a sessão, admitiu a relevância do tema, mas alegou que não havia condições de tratá-lo de imediato, solicitando que fosse pautado como primeiro item da próxima reunião. Lupi também informou que medidas estavam sendo tomadas, como o início da utilização de tokens para autenticação dos descontos.

Wolney Queiroz, presente na reunião, também pediu a palavra para tratar de outra questão ligada à segurança do sistema: a convocação do presidente da Dataprev, Rodrigo Assunção, para prestar esclarecimentos. Segundo a ata, Wolney relatou ter sido orientado a conversar pessoalmente com Assunção antes de formalizar o convite para a reunião seguinte.

Apesar da gravidade das denúncias, o tema não voltou à pauta nas reuniões posteriores. Na reunião seguinte, a ausência de Galleti contribuiu para o silêncio sobre o assunto. Meses depois, a suspeita de fraude nos descontos ganhou os holofotes com a série de reportagens publicadas pelo portal Metrópoles a partir de dezembro de 2023. As matérias revelaram que as arrecadações de entidades por meio de descontos em benefícios haviam chegado a R$ 2 bilhões em um ano, mesmo com milhares de processos judiciais acusando essas associações de fraudar filiações. Em diversos casos, aposentados alegaram nunca ter tido contato com as entidades, mas ainda assim tiveram valores entre R$ 45 e R$ 77 descontados mensalmente.

As reportagens também expuseram os empresários por trás das associações envolvidas e apontaram que a prática gerava lucros milionários. As denúncias resultaram na exoneração do diretor de Benefícios do INSS, André Fidelis, em julho de 2024. Em abril de 2025, o escândalo culminou na Operação Sem Desconto, deflagrada pela Polícia Federal com base em 38 reportagens do Metrópoles. A ação levou à abertura de inquérito e abasteceu investigações da Controladoria-Geral da União (CGU). As consequências chegaram ao alto escalão do governo: Alessandro Stefanutto, então presidente do INSS, foi demitido, seguido pelo ministro Carlos Lupi, substituído oficialmente por Wolney Queiroz em 2 de maio.

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