EFEITO CORONA
Demissões em Alagoas poderiam ter sido maiores
Decretos estaduais coincidem com ciclo de menor movimento anual no estado
O número de demissões e os impactos na economia em Alagoas poderiam ter sido piores, segundo estudo sobre os impactos da epidemia de Covid-19 na economia alagoana, de autoria do especialista em economia e professor da Universidade Federal de Alagoas Cícero Péricles, divulgado esta semana.
De acordo com o estudo, na semana do primeiro decreto emergencial, em 20 de março, a economia alagoana estava entrando no seu ciclo de menor movimento anual que, tradicionalmente, ocorre entre os meses de março e agosto, quando o período chuvoso influencia o ritmo de vários setores.
Neste período, de março até agosto, o mercado de trabalho alagoano é naturalmente marcado pela estação chuvosa e pelo ciclo de menor movimento, apresentando sua fase de baixo crescimento, refletida no período por mais desligamentos e menos contratações. Para o economista, por essas características regionais, o impacto na economia teria sido muito maior caso o decreto emergencial tivesse coincidido com os meses anteriores de novembro de 2019-fevereiro de 2020 ou posteriores a agosto.
“A doença demorou a chegar no Brasil. Ela foi registrada pela primeira vez no ano passado e a primeira morte em Alagoas aconteceu apenas no final de março. Se isso tivesse acontecido um pouco antes, entre dezembro, janeiro e fevereiro a situação seria bem pior”, explica Cícero Péricles ao EXTRA.
Para o economista, datas como Natal, Ano Novo, Carnaval poderiam ter sido prejudicadas e consequentemente piorando a situação econômica. “Imagina Olinda sem ninguém, por exemplo. Os blocos em Alagoas saíram normalmente. A safra da cana-de-açúcar já tinha acabado. Esse ano o comércio perdeu Dia dos Namorados e Dia das Mães, mas até agosto as coisas devem começar a voltar ao normal”.
“A indústria da construção civil inaugura mais edifícios entre o final e o começo do ano. Consequentemente vende-se muito material de construção pois final de ano também é período de reformas. A safra da cana começa em agosto e geralmente é quando o comércio começa a fazer contratações temporárias”, analisa Cícero Péricles sobre a retomada da economia nos próximos meses.
Para Péricles, no entanto, muita coisa vai depender do Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda. Em Alagoas, 72 mil pessoas foram cadastradas no programa. Nele a empresa é obrigada a pagar dois meses do salário e após esse período o empregado passa a receber o chamado “benefício emergencial”, que tem como base o seguro-desemprego, em parte ou na íntegra, pago pelo governo como compensação. O programa está previsto para encerrar em agosto, mas a expectativa é de que seja mantido.
Outro fator que conseguiu manter a “aparente tranquilidade”, como Cícero Péricles define, foi o Auxílio Emergencial. Dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) revelam que o potencial de beneficiários para Alagoas chegava a 990 mil pessoas. No entanto, foram aprovados, no pagamento da primeira parcela, referente ao mês de abril, apenas 550 mil benefícios.
“Nem todos foram aprovados, mas esse benefício ajudou muita gente. Ajudou também a impulsionar o comércio local e principalmente aos dependentes do programa Bolsa Família. Uma família com uma renda de em média R$ 100 passou a receber R$1.200 e conseguiu comprar mais, mantendo uma certa movimentação no comércio local”, explica.
Apesar de ter contado com um pouco da sorte, durante abril, o primeiro mês totalmente com as atividades paradas, foram registradas 2,7 mil admissões contra 9,8 mil desligamentos em Alagoas, totalizando 7.095 mil empregos formais encerrados, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério da Economia.
Nos quatro primeiros meses do ano foram contratados 27,9 mil trabalhadores no estado, enquanto outros 54,9 mil foram demitidos, gerando o terceiro pior saldo negativo do Nordeste e o oitavo do Brasil. Na região, Ceará (-25,6 mil), Bahia (-37,5 mil) e Pernambuco (-53,5 mil) tiveram perdas mais expressivas que Alagoas entre janeiro e abril.
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