PANDEMIA

Casos de covid em Alagoas podem ser três vezes maior que o informado pela Sesau

Pasta apura irregularidades cometidas por farmácias e laboratórios na notificação da doença
Por Bruno Fernandes 04/02/2022 - 13:48
Atualização: 04/02/2022 - 13:52
A- A+
Agencia Brasil
Apenas 96 estabelecimentos são conveniados à Abrafarma em Alagoas
Apenas 96 estabelecimentos são conveniados à Abrafarma em Alagoas

A quantidade de casos totais e diários de pessoas infectadas pelo novo coronavírus em Alagoas pode ser três vezes maior do que o divulgado oficialmente todos os dias pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), que passou a apurar na última semana o cometimento de irregularidades cometidas por farmácias e laboratórios particulares por não estarem notificando o Ministério da Saúde e à própria pasta o resultado dos exames realizados.

A autorização da utilização dos testes rápidos em farmácias, por exemplo, ocorreu por meio da publicação da Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) da Anvisa nº 377/2020, que entrou em vigor em 29 de abril de 2020 e cuja vigência cessará automaticamente a partir do reconhecimento pelo Ministério da Saúde de que não mais se configura a situação de Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional declarada pela Portaria GM/MS nº 188/2020.

Segundo a Sesau, de acordo com a Lei 6259/75, os profissionais e serviços de saúde são obrigados a realizar a notificação compulsória de doenças. “A ausência desta notificação configura crime e a Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) está tomando as providências cabíveis para a apuração do cometimento das irregularidades”, informou a pasta após um alerta feito pela infectologista do Hospital Universitário de Alagoas, Raquel Guimarães, sobre subnotificações.

“Estamos no pico da doença causada pela variante Ômicron. Temos muitos casos dentro dos laboratórios, consultórios, farmácias e esses casos não são notificados. Eles passam despercebidos do sistema público porque a notificação não se dá, embora exista uma obrigação. Os casos não são notificados porque não se tem esse costume ainda em farmácias de pequeno porte, por exemplo”, explica a infectologista ao EXTRA.

Em Alagoas, apenas 96 estabelecimentos são conveniados à Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma) e apenas estes possuem “obrigação” exigida também pela própria associação de realizar a notificação ao Ministério da Saúde por meio de um sistema interno, porém, assim como em todo o Brasil, qualquer farmácia em Alagoas está autorizada a realizar testes rápidos para a covid-19, o que pode ocasionar casos de subnotificação, explica a associação.

Ainda segundo a Abrafarma, são vários os fatores que podem levar a subnotificações e a falta de notificações pelos estabelecimentos não conveniados à associação pode ser considerada uma das hipóteses.

“Desde que as farmácias foram autorizadas a implementar esse serviço de teste rápido, os estabelecimentos associados à Abrafarma enviam ao Ministério da Saúde o balanço sobre os casos detectados nas redes e que posteriormente são repassados às Secretarias de Saúde estaduais. A autorização não foi concedida à entidade em si e qualquer farmácia está apta a realizar os testes, mesmo que não esteja associada à Abrafarma”.

Vale ressaltar que levantamento divulgado esta semana pela Abrafarma aponta que o índice de positivos para covid-19 subiu para 59% nos testes de farmácias realizados entre 10 a 16 de janeiro em Alagoas. Os números não apontam qual é a variante responsável pelas infecções: os testes são desenvolvidos para identificar o coronavírus, e não suas cepas. Apesar disso, outros dados apontam que a Ômicron já causa recordes pelo mundo e se tornou a cepa predominante no Brasil.

O EXTRA tentou contato com a associação que representa os laboratórios privados de Alagoas, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.

Pico da Omicron em Alagoas

Sobre o que considera ser o pico da doença em Alagoas, a infectologista Raquel Guimarães afirma que dois fatores presentes em outros países, principalmente europeus, também estão ocorrendo no estado: a falta de vacinação e a simplicidade da doença causada pela nova variante.

“As pessoas não estão se vacinando com a intensidade que precisava se fazer, não estão fazendo as doses de reforço e um outro fator é que hoje ela é uma doença muito simples e que pode facilmente ser confundida com uma gripe leve ou simplesmente não apresentar sintomas, facilitando ainda mais sua transmissão”, detalha a especialista.

Raquel lembra que uma característica da variante é ser bastante transmissível e pouco invasiva no ponto de vista de produzir sintomas e afirma que essa nova onda deve passar a partir de março.

“Não chega a ser a imunização de rebanho, mas vai acontecer o esgotamento de pessoas suscetíveis à doença em determinadas regiões, o que poderia ser resolvido mais rapidamente com vacinação em massa, que também combate a forma grave da doença”.

Publicidade


Encontrou algum erro? Entre em contato