circuito de fogo
Quilombo Muquém recebe projeto com dança, gastronomia e ancestralidade
Iniciativa é apresentada em quilombos das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste
Um homem negro, “devidamente trajado”, monta seu tabuleiro de baiana, bate a massa do acarajé e frita os bolinhos, oferecendo, junto à comida, suas histórias, sua dança, seus afetos. Essa é a performance do artista baiano Fábio Osório Monteiro, intitulada Bola de Fogo, que percorre quilombos nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
Após apresentações no Pará e em Goiás, o espetáculo de dança chega a Alagoas, no Quilombo Muquém, comunidade remanescente do Quilombo dos Palmares, entre os dias 12 e 16 de novembro.
Enquanto cozinha, Fábio compartilha com a plateia uma narrativa rica que mescla mitos e itãs de origem africana com episódios de sua própria vida. Para ele, o projeto “Circuito de Fogo - Das Ruas aos Quilombos”, vai além da performance e da gastronomia, unindo arte e ancestralidade Brasil afora.
“Com o Circuito de Fogo, não só a performance, mas toda a equipe, mergulha num processo de aquilombamento. Nesta circulação, percebemos que as camadas sociopolíticas que atravessam Bola de Fogo, ganham materialidade a cada comunidade quilombola visitada”, afirma Fábio Osório Monteiro, performer e coordenador geral do projeto.
Considerada a única comunidade remanescente do Quilombo dos Palmares, em Alagoas, o Quilombo Muquém é uma das cinco comunidades tradicionais que recebem o projeto “Circuito de Fogo”.
Sob a liderança de Zumbi, o Quilombo dos Palmares surgiu no final do século XVI e, no auge, chegou a ter 10 mil habitantes. Com a morte de Zumbi, o quilombo se desfez por completo em 1710. Hoje, O Quilombo Muquém é patrimônio da memória afro-indígena do Brasil.
O projeto “Circuito de Fogo - Das Ruas aos Quilombos” será apresentado durante a programação do “Muquém Cultural - Celebrando a Consciência Negra”, marcando o início das ações culturais que acontecem no local.
A abertura será no dia 15 e segue com programação até o dia 19 de novembro e conta com o Concurso da Beleza Negra. Para Dorinha Cavalcante, presidenta da Associação Adapó Muquém, a união dos dois projetos é motivo de celebração.
“É um projeto especial pra gente, de partilha, arte e ancestralidade. O Circuito de Fogo chega trazendo dança, performance, cinema e muito AXÉ, somando forças à nossa celebração anual. A comunidade está cheia de expectativas, pronta para acolher e partilhar saberes, memórias e esperanças. Receber este projeto aqui é afirmar que o Muquém é um quilombo vivo que pulsa e que resiste e cria.”
Das Ruas aos Quilombos
Quando foi criado em 2017, Bola de Fogo era um espetáculo de dança encenado em largos e praças por um homem negro, gay, nordestino, candomblecista e artista, vestido de baiana de acarajé, Patrimônio Imaterial do Brasil. Durante esse processo, Fábio Osório Monteiro, o artista, e o seu público interagem e comem o acarajé feito durante a apresentação.
Em cena, Fábio partilha do espaço com a performance em libras guiada por Cíntia Santos. As Libras, em Bola de Fogo, não são utilizadas apenas como tradução do português para a inclusão da população surda. Mas, transforma a oralidade, meio pelo qual a cultura afro-brasileira e as religiões de matrizes africanas se perpetuou ao longo do tempo, em dança, em movimento que através dos sinais já trazem significados em si.
Além da apresentação da performance, o Circuito de Fogo também realiza atividades nos quilombos, relacionadas à ativismo quilombola, cartografia social, eco-cultivo e sustentabilidade, com troca de saberes e experiências entre a equipe do projeto e os fazedores e fazedoras locais de cultura. Rejane Rodrigues, liderança do Quilombo Quingoma (BA), faz parte da equipe do Circuito de Fogo e é quem também articula as atividades, onde cada uma é pensada junto com a comunidade.
“Por meio da educação popular e da pedagogia quilombola, buscamos fomentar ferramentas que fortaleçam esse movimento ancestral, promovendo autonomia, consciência crítica e valorização dos saberes locais.”
O espetáculo Bola de Fogo foi apresentado em diferentes espaços da cidade de Avignon (França), em oito apresentações, integrando a 59ª edição do Festival Off Avignon, no contexto do Ano Cultural Brasil-França, em julho deste ano. Logo após, a performance passou a integrar o Circuito de Fogo – Das Ruas aos Quilombos, quando iniciou suas atividades percorrendo comunidades tradicionais.
Antes de chegar ao Quilombo Muquém, em Alagoas, o projeto foi apresentado no Quilombo do Rosário, no município de Salvaterra, na região do Marajó, no estado do Pará, entre os dias 29/07 a 03/08; e no Quilombo João Borges Vieira, em Goiás, entre os dias 15 e 19/10; e na Comunidade Ribeirinha da Boa Esperança, no Piauí, entre 29/10 e 02/11. O encerramento da temporada será no Quilombo Quingoma, na Bahia, em dezembro.
O Circuito de Fogo – Das Ruas aos Quilombos é realizado pela ULTIMA Plataforma e Zóio de Jabuticaba, com direção geral e performance de Fábio Osório Monteiro, direção de produção de Gabriel Pedreira, mediação quilombola feita pela liderança Rejane Rodrigues (Quilombo Quingoma).
“Circuito de Fogo – Das Ruas aos Quilombos” integra a programação do Circuito Funarte de Dança Klauss Vianna 2023, parte do Programa Funarte de Difusão Nacional, promovido pela Fundação Nacional de Artes (Funarte), vinculada ao Ministério da Cultura (MinC).



