SÉRIE A

Entenda como o Brasileirão vem dominado pelos mesmos times nos últimos anos

Atualmente, o Brasileirão consagrou 17 campeões diferentes.
Por Redação 24/05/2024 - 15:40
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Reprodução CBF TV/YouTube
O que se viu nos últimos 8 anos é a tendência de uma nova era com o domínio de duas equipes
O que se viu nos últimos 8 anos é a tendência de uma nova era com o domínio de duas equipes

A imprensa nacional vendeu por muito tempo o slogan do Brasileirão como ‘o campeonato mais disputado do mundo’, aproveitando-se da herança do torneio de décadas passadas, quando efetivamente a taça de campeão passou por diferentes estados do país, chegando inclusive às mãos de Sport, Coritiba e Guarani de Campinas.

Porém, o que se viu nos últimos 8 anos é a tendência de uma nova era com o domínio sobressalente de duas equipes: Palmeiras e Flamengo. Até o maior desafiante tem sido o mesmo: o Galo. Além do diagnóstico preocupante, a pergunta que fica é: será que o Brasileirão ficará nas mesmas mãos pelos próximos anos?

O Brasil e os ’13 clubes que brigam pelo título’

Atualmente, o Brasileirão - em todas suas configurações desde 1937 - consagrou 17 campeões diferentes. Ao comparar-se com outros países, a variedade equipara-se à Alemanha e à França e supera Espanha e Portugal. Porém, perde para Inglaterra e Itália, mas vale pontuar que os europeus têm mais anos de história, com competições inclusive iniciando-se ainda no século XIX.

O ‘Clube do 13’ da década de 1980 construiu a ideia de que o Brasil tem mais de uma dezena de clubes ditos como ‘grandes’. De fato, também graças às dimensões continentais do país, o cenário nacional conta com equipes extremamente populares e, consequentemente, tradicionais.

Na esteira disso, um grande jargão da crônica esportiva brasileira diz que, a cada começo de campeonato, há pelo menos 10 equipes brigando pelo título, bem diferente da Espanha com Real e Barcelona ou do Bayern de Munique na Alemanha, por exemplo. Porém, essa ‘verdade’ do passado não acontece há um bom tempo.

O enfraquecimento do futebol brasileiro

Até por volta dos anos 1980, os clubes brasileiros detinham mais poder para formar seus jogadores e mantê-los em solo nacional. Assim, era possível até ver bons nomes espalhados por clubes menores e jogando por lá durante anos até a transferência para um gigante do próprio cenário da primeira divisão.

Ao longo da década de 1990, a Zona do Euro e a organização dos países europeus em ligas fortaleceu o futebol no Velho Continente, aumentou consideravelmente as cifras e começou a atrair os principais jogadores do mundo. A partir dos anos 2000, novos mercados como o asiático e o norte-americano intensificaram os investimentos para buscar os atletas brasileiros.

A mudança de mercado foi decisiva para o futebol brasileiro. Em primeiro lugar, não é mais possível manter os grandes destaques, que saem cada vez mais jovens. O dinheiro das vendas dos garotos precisa ser utilizado para buscar contratações cada vez mais caras e com salários altos. Se em uma época as equipes funcionavam como ‘clubes’, agora precisam existir como ‘empresas’, vivendo constantemente em meio a negociações.

Com esse cenário, os tradicionais jogos políticos no futebol brasileiro começaram a enfrentar desgaste. Por isso, boa parte das equipes vêm passando por problemas relacionados às irresponsabilidades financeiras de seus gestores e à uma necessidade de manter uma estrutura de governança que não parece funcionar mais. Foi o que aconteceu com Santos, Corinthians, Cruzeiro e Vasco, entre outros.

A recuperação financeira de Flamengo e Palmeiras

Se em outras épocas o título de campeão brasileiro passou por várias mãos em um curto período de tempo, de 2016 para cá, ficou concentrado nas mãos de duas equipes: Flamengo e Palmeiras. Com exceção ao Corinthians em 2017 e ao Galo em 2021, todos os outros títulos ficaram nas mãos do rubro-negro e do alviverde.

E a organização financeira nos bastidores é a principal explicação para tamanha dominância. De fato, Flamengo e Palmeiras passaram por escândalos políticos e crises financeiras como os seus concorrentes. O Verdão, inclusive, foi rebaixado para a Série B duas vezes apenas no Século XXI.

Em 2012, o Flamengo apresentava dívidas superiores a R$700 milhões com uma renda de pouco mais de R$200 milhões. A gestão Eduardo Bandeira de Mello fez uma contenção de gastos pesada e investiu em aumentar a renda com a força da torcida. Em 2023, o time bateu bem mais de R$1 bilhão de arrecadação com menos de R$100 milhões em dívidas.

O Palmeiras teve anos ruins na primeira década de 2000 e quase caiu pela terceira vez em 2014. Porém, já nessa época, o time começava uma reestruturação financeira com o presidente Paulo Nobre. Ao fim daquela temporada, fechou a parceria com a Crefisa, uma relação comercial benéfica para ambos os lados.

Assim, Palmeiras e Flamengo tomaram a dianteira ao deixarem para trás a desorganização financeira e utilizarem os recursos disponíveis de maneira inteligente e planejada. Para os paulistas, o caminho foi a gestão segura de Paulo Nobre, o novo estádio e a parceria com a Crefisa. Do lado carioca, o diferencial foi o período ‘mão-de-vaca’ de Bandeira de Mello com a força da torcida à nível nacional.

O domínio de Palmeiras e Flamengo na mídia esportiva brasileira

Após acumular fracassos nos anos de 2017 e 2018, o Flamengo montou um super time em 2019 sob o comando de Jorge Jesus. Com a chegada de Abel Ferreira em 2020, o Palmeiras consolidou a Era Crefisa com campanhas mais consistentes. Desde então, os times dominam completamente o cenário da mídia esportiva quando se fala sobre protagonismo competitivo.

Quem assiste programas na TV ou na internet sobre o assunto pelos últimos 5 anos já percebeu que Flamengo e Palmeiras comandam os palpites dos jornalistas e analistas de futebol. Nas redes sociais a rivalidade ganhou ainda mais força. Cariocas e paulistas não disputam apenas taças, mas também negociações de jogadores e influência política nos bastidores.

Ao longo da década de 2020, justamente o período de consolidação da dupla, o universo esportivo brasileiro ganhou novos parâmetros para análises futebolísticas: as casas de apostas. O mercado que estampa boa parte dos times brasileiros é bastante contundente ao apontar as maiores forças por meio das variações probabilísticas das odds.


prognóstico para a edição do Brasileirão de 2024 explicita ainda mais o protagonismo de Flamengo e Palmeiras tão retificado pelos comentaristas esportivos. A consistência de ambos não está apenas no campo de jogo, mas também nos decimais dos valores. E a manutenção da mesma estrutura no torneio é tanta que até o maior concorrente da dupla é o mesmo dos últimos anos.

O Flamengo atualmente é o grande favorito, visto que casas como a Bodog pagam odds próximas de 3.00 para o título carioca. Na maior parte dos sites, o Galo empatou com o Verdão na odd 5.00, mas algumas casas como a Sportingbet subiram as odds do Palmeiras para 5.75 com os tropeços no começo do torneio. Inclusive, para os especialistas, a mudança na cotação pode indicar um bom momento para a aposta nos paulistas.

Tudo porque o Palmeiras não deve perder competitividade, a exemplo do que aconteceu em 2023, quando o Botafogo liderou o torneio, mas foi o alviverde que levantou a taça, mostrando a intensa vivacidade psicológica da equipe comandada por Abel Ferreira.

Quem pode brigar pelo Brasileirão 2024?

O grande concorrente da dupla, o Atlético Mineiro, vem passando justamente pelo mesmo período de recuperação financeira. Agora em formato de SAF, o Galo começou a equilibrar as contas e a equacionar as dívidas, mantendo também um elenco muito forte com nomes como Hulk, Paulinho e Gustavo Scarpa.

Quem se fortaleceu recentemente foi o Internacional, com odds 10.00 em casas como a bet365, mas ainda bem distante da dupla e do próprio Atlético. Apesar de contar com um bom time, as recentes tragédias climáticas no Rio Grande do Sul podem impactar no desempenho colorado.

O Athletico Paranaense de Cuca é uma das grandes surpresas das primeiras rodadas, mas é colocado como ‘azarão’ com odds acima dos 20.00. Por fim, São Paulo e Botafogo completam a lista das equipes que mais podem mexer com a hegemonia alviverde e rubro-negra, mas também bem distante dos líderes.

Portanto, mais uma vez, Flamengo e Palmeiras devem protagonizar a briga pelo título, com o Galo correndo por fora como principal concorrente. Um grande fator que pode alterar a temporada é o calendário, visto que o Brasileirão não vai parar durante a Copa América, retirando alguns craques de cena por quase 10 rodadas.

E quem briga para os próximos anos?

A hegemonia de protagonismo de Flamengo e Palmeiras – e talvez Galo – não deve acabar tão cedo. E o que resta para os outros clubes? Efetivamente, organizar a casa e retomar a competitividade. As recentes discussões sobre SAF e austeridade financeira dão certa esperança ao cenário, que ainda sofre com problemas crônicos.

O Botafogo de John Textor fez uma campanha surpreendente em 2023, apesar do enfraquecimento na reta final. De toda maneira, tem sido um clube mais sólido e organizado com o trabalho do empresário. O São Paulo, por sua vez, retomou o caminho dos títulos com a Copa do Brasil, mas está longe de ser uma potência financeira.

O atual campeão da América, Fluminense, também sofre com as dívidas e ainda apresenta um elenco que precisará de uma grande reformulação longo em breve. Por outro lado, o Bahia com o Grupo City investiu em jogadores e agora tem o aval da principal rede de clubes de futebol do planeta.

Outra equipe que deve se reforçar muito em breve é o Cruzeiro, motivado pelo seu novo dono, o empresário Pedro Lourenço, que pretende retomar o protagonismo celeste. Na região sul do Brasil, o Athletico faz um bom trabalho no Paraná, o que já deu resultados recentes com os títulos de Sul-Americana.

O Corinthians e o Vasco são os maiores problemas. O alvinegro do Parque São Jorge conta com possibilidades semelhantes ao Flamengo em termos de público consumidor, mas vem sofrendo de dívidas e de uma profunda inconstância política que dificulta vislumbram de um bom futuro a curto prazo.

O Vasco passa por problemas ainda mais graves, retomando o controle da SAF por meio de liminar jurídica em uma intensa disputa contra a 777. A dupla Internacional e Grêmio faz boa gestão, mas tratando-se do futuro próximo, as consequências das enchentes no Rio Grande do Sul podem se refletir também no futebol.

De longe, o Red Bull Bragantino luta para conseguir protagonismo, ainda que com bastante recurso financeiro. Por fim, o Santos encaminha o retorno à Série A, organizando a casa e com as especulações de movimentações ainda mais ousadas, como uma volta de Neymar Jr.

Conclusão: existe fórmula mágica?

Portanto, é possível vislumbrar um cenário otimista para o futebol brasileiro em termos de equalização do protagonismo. Porém, muitos clubes ainda terão que superar barreiras profundas para consolidarem-se novamente. Em termos de Brasileirão, diferentemente de um torneio de mata-mata, é preciso ter muita consistência para disputar as longas 38 rodadas.

Para montar um elenco com tantas opções para aguentar o calendário extenso, é preciso organizar as finanças e manter um mínimo panorama de paz política internamente. Nesse sentido, cada clube buscará o caminho de acordo com suas próprias histórias e tradições, mas a ‘fórmula mágica’ não fugirá muito de controlar os gastos e utilizar os recursos da maneira mais inteligente possível.

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