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Lira dita o ritmo da Câmara e impõe obstáculos às prioridades de Lula
Deputado mantém protagonismo, com relatório decisivo sobre o Imposto de Renda
Nos últimos meses, a Câmara dos Deputados deixou em segundo plano projetos estratégicos do Palácio do Planalto e concentrou esforços em matérias de interesse corporativo e da oposição. Do total de 42 propostas elencadas como prioridade pela Secretaria de Relações Institucionais em fevereiro, apenas 18 foram aprovadas.
Nesse cenário, a figura do ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL) continua a pesar na condução das votações. Ele é relator do projeto que eleva a faixa de isenção do Imposto de Renda (IR) para quem recebe até R$ 5 mil por mês — considerada a principal aposta eleitoral de Lula para 2026. O atual presidente da Casa, Antonio Motta, reconheceu nesta segunda-feira, 23, que a data da votação dependerá do aval dos partidos e que Lira terá papel central na apresentação do relatório.
"Alinhamos a participação dele (Arthur Lira) no colégio de líderes para detalhar seu relatório. Depende do colégio de líderes (definir a data de votação)", afirmou Motta.
A medida enfrenta obstáculos. A pauta da Câmara pode ser trancada a partir desta terça-feira caso não seja analisado o projeto que recompõe trechos vetados da Lei de Licenciamento Ambiental, em regime de urgência constitucional. Ministros do governo discutem retirar essa urgência para destravar o calendário, mas há receio de que a oposição use o espaço para acelerar a chamada “anistia” aos envolvidos no 8 de janeiro — proposta que o governo tenta evitar.
Enquanto isso, o Planalto pressiona pela aprovação da isenção do IR ainda este ano, para que passe a valer em 2026. A atual faixa de isenção é de R$ 3.036, e a ampliação beneficiaria cerca de 32% dos trabalhadores. A promessa foi feita por Lula na campanha de 2022 e é vista como estratégia crucial para recuperar popularidade.
A dificuldade, porém, está na disputa de prioridades. Líderes do Centrão avaliam que a votação da anistia deve vir antes do IR, enquanto parlamentares petistas defendem travar a pauta justamente para evitar o avanço da proposta de perdão.
"Prefiro que fique trancada por conta da anistia. Não acho que queiram votar o IR esta semana", disse Lindbergh Farias (PT-RJ), líder do partido na Câmara. Além disso, medidas como a MP que cria um programa de gás gratuito para famílias de baixa renda e a MP alternativa ao IOF, considerada essencial para a meta fiscal, também estão em compasso de espera.
Nos bastidores, Lira mantém protagonismo mesmo após deixar a presidência da Casa. Sua articulação foi decisiva na aprovação da PEC da Blindagem, que limita investigações contra parlamentares e acirrou o desgaste entre governo e Congresso. Agora, seu relatório sobre o Imposto de Renda é visto como peça-chave para medir a força do Planalto no Legislativo.