a queda de jair
Collor inspira capítulo político: Bolsonaro revive o ‘não me deixem só’
Jornalista compara o isolamento do ex-presidente ao desamparo vivido por Collor
O jornalista Xico Sá comparou o momento vivido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro à solidão política que marcou o fim do governo de Fernando Collor de Mello, em 1992. Em artigo publicado neste domingo, 9, pelo ICL Notícias, Xico escreve que Bolsonaro “revive o ‘não me deixem só’ de Collor”, agora cercado por acusações, afastamentos e o risco iminente de prisão.
“Com o bafo do impeachment no cangote, em 1992, o então presidente Fernando Collor de Mello soltou um grito desesperado às margens do Lago Paranoá: ‘Não me deixem só’. Acabaria abandonado até pelos mais fiéis conterrâneos da República das Alagoas”, relembra o jornalista.
Segundo Xico Sá, o paralelo se repete mais de trinta anos depois. Às vésperas de ser preso, Bolsonaro se vê isolado, abandonado por antigos aliados e até pela ala mais fervorosa do bolsonarismo. “O ex-presidente condenado agora sente o silêncio e o tratamento frio dos principais representantes da extrema direita”, escreve o articulista, citando o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) como um dos que se distanciaram do ex-líder.
-
estratégia
Defesa de Bolsonaro usa caso Collor para tentar evitar prisão na Papuda
-
justiça
Collor vira precedente na defesa de Bolsonaro para evitar prisão na Papuda
-
DINHEIRO
TV de Collor tem dívida de R$ 800 mil com a RF; prazo para pagar acaba hoje
-
ameaças do PCC
Lira também foi alvo de vigilância de facção, diz CPI do Crime Organizado
A coluna destaca que a própria família de Bolsonaro reconhece o isolamento. Os filhos do ex-presidente, segundo Xico, “se queixam da traição de figuras ilustres da extrema direita”, entre elas Níkolas Ferreira (PL-MG) e Ana Campagnolo (PL-SC). O deputado Eduardo Bolsonaro teria reagido chamando Tarcísio de “o candidato do Sistema” e compartilhando um texto em que se lê: “Nikolas quer se livrar do Bolsonaro de vez. Ele está liderando uma dissidência, e vários políticos mais jovens estão com ele. O problema é o de sempre: ‘temos que nos descolar do Bozo sem perder o eleitor’. Eles querem continuar sendo eleitos pelos bolsonaristas, mas não querem mais prestar contas ao Bolsonaro.”
O jornalista observa que até o apoio religioso, pilar da antiga base bolsonarista, “sofreu abalos”. Segundo ele, há um “afastamento lento e gradual” do pastor Silas Malafaia, da Igreja Vitória em Cristo, e uma reaproximação do bispo Robson Rodovalho, fundador da Sara Nossa Terra, que esteve na casa de Bolsonaro no dia 6 de novembro. “Para quem imaginava ser resgatado pelo apoio da massa enfurecida nas ruas, Bolsonaro chega à véspera da prisão experimentando do mesmo desprezo que impôs a diversos ex-aliados da sua jornada política”, escreve Xico.
Em tom ácido, o jornalista cita também a provocação do ex-deputado Julian Lemos (União-PB), que ironizou a falta de reação popular em defesa do ex-presidente: "Vamos falar a verdade, só o fato de Bolsonaro estar calado, Xandão merecia um transplante capilar.” Ao final, Xico Sá conclui que Bolsonaro tenta repetir o último ato de Fernando Collor, que, antes de ser afastado, exibiu atestados médicos para adiar o inevitável: “Sem povo na rua e sem apoio dos próprios soldados na trincheira, só resta ao ex-presidente tentar o mesmo caminho de Collor — usar o atestado médico para evitar a Papuda e cumprir pena em casa.”



