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Collor, Cazuza e lambada: Como era o Brasil na época de Rainha da Sucata?

Enquanto Collor enfrentava protestos e críticas, o país vivia um contraste de emoções
Por Redação 12/11/2025 - 05:58
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Divulgação
Regina Duarte como "Maria do Carmo", em Rainha da Sucata
Regina Duarte como "Maria do Carmo", em Rainha da Sucata

Em 1990, o Brasil vivia um momento de grandes transformações. Fernando Collor de Mello, recém-eleito presidente da República em votação direta — a primeira após o fim da ditadura militar —, assumia o Planalto com promessas de modernizar o país e combater a inflação. No entanto, o que marcou seu início de governo foi o polêmico Plano Collor, que confiscou as poupanças de milhões de brasileiros e mergulhou o país em uma crise sem precedentes.

A medida, anunciada em março daquele ano, trocou o cruzado novo pelo cruzeiro e congelou saldos bancários acima de 50 mil cruzeiros, deixando famílias e empresas sem acesso ao próprio dinheiro. A decisão foi justificada como tentativa de conter a hiperinflação, mas gerou revolta popular e um impacto imediato na economia, no comércio e até na cultura.

A turbulência econômica chegou também à ficção. A novela “Rainha da Sucata”, escrita por Silvio de Abreu e exibida pela TV Globo entre abril e outubro de 1990, precisou ser reescrita às pressas por causa do confisco. Para justificar a fortuna da protagonista Maria do Carmo (Regina Duarte), o autor alterou cerca de 30 capítulos, explicando que ela havia investido o dinheiro em uma construção e, assim, escapado do bloqueio dos depósitos.

Enquanto Collor enfrentava protestos e críticas, o país vivia um contraste de emoções. Ayrton Senna conquistava seu bicampeonato mundial de Fórmula 1, mas o Brasil chorava as mortes de Zacarias, dos Trapalhões, e de Cazuza, símbolo da geração que enfrentava a Aids. No exterior, o mundo assistia à libertação de Nelson Mandela e à reunificação da Alemanha, enquanto a Guerra do Golfo começava a redefinir a geopolítica global.

O governo Collor também abalou o setor cultural. Com o fechamento da Embrafilme e o fim de políticas de fomento, a produção cinematográfica brasileira praticamente parou. Ainda assim, “Lua de Cristal”, estrelado por Xuxa, tornou-se um fenômeno, levando milhões de espectadores aos cinemas.

Na música, o sertanejo dominava com “Evidências”, de Chitãozinho e Xororó, e “Pense em Mim”, de Leandro e Leonardo. A lambada e o axé embalavam as pistas, enquanto Mariah Carey e Madonna conquistavam as paradas internacionais. Era um país em transição — entre o sonho de prosperidade e a realidade de um plano econômico que redefiniu o cotidiano dos brasileiros.

Trinta e cinco anos depois, o período segue lembrado não apenas pela novela que refletiu o espírito da época, mas por um governo que marcou o início conturbado da redemocratização e deixou uma cicatriz profunda na memória econômica do país.


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