após prisão de bolsonaro

Direita brasileira tenta se reorganizar e revive comparação com era Collor

Analistas apontam falta de estrutura partidária e incertezas sobre liderança para 2026
Por Redação com Estado de Minas 01/12/2025 - 07:32
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Anderson Riedel/PR
Fernando Collor e Jair Bolsonaro
Fernando Collor e Jair Bolsonaro

A prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro expôs um impasse que vinha se acumulando no campo da direita: a fragilidade de um movimento estruturado em torno de uma liderança personalista, mas sem sustentação em partidos fortes. Para cientistas políticos, o episódio escancara uma crise de organização e identidade e levanta dúvidas sobre a competitividade do setor na eleição presidencial do próximo ano.

Bolsonaro foi eleito em 2018 pelo então pequeno PSL, sigla que depois se uniu ao DEM para formar o União Brasil. A trajetória lembra a de Fernando Collor, que chegou ao Planalto em 1989 filiado ao PRN, legenda de pouca expressão à época e que mais tarde se tornaria o PTC.

Otávio Catelano, doutorando em ciência política pela Unicamp, afirma que a comparação com a esquerda ajuda a dimensionar o problema. Segundo ele, o PT construiu desde sua origem uma base partidária sólida e ligada a movimentos sociais, o que garantiu capacidade de organização mesmo em momentos de crise. “O candidato mais viável da esquerda sempre foi o candidato do PT”, observa.

No campo da direita, essa função nunca esteve concentrada em um partido específico, nem mesmo no PL, que cedeu estrutura a Bolsonaro. Catelano lembra que a direita sempre foi fragmentada, marcada por siglas pequenas e pouco integradas. A ascensão do bolsonarismo criou um polo unificador, porém sustentado quase exclusivamente no capital político do ex-presidente. “Temos, pela primeira vez desde 2018, o bolsonarismo sem Bolsonaro. O eleitor não sabe quem é o líder”, afirma.

A eleição municipal de São Paulo, segundo o pesquisador, já deu sinais dessa falta de orientação. Embora Bolsonaro tenha apoiado um candidato, Pablo Marçal assumiu um discurso mais alinhado ao público bolsonarista, dividindo o campo conservador. “Aquela tripartição mostra como pode ser o bolsonarismo sem Bolsonaro nos próximos anos”, diz Catelano. Para Vítor Sandes, professor de ciência política da UFPI, a direita vive um momento decisivo. Ele avalia que a prisão de Bolsonaro criou um vácuo de liderança e obrigará o campo conservador a definir quem herdará sua influência. Embora preso, o ex-presidente ainda deve atuar como apoiador. “Mesmo preso, Bolsonaro tende a apoiar alguém”, afirma.

Sandes também aponta que temas tradicionais do conservadorismo devem ganhar força, especialmente a segurança pública, área em que o governo Lula enfrenta dificuldades. Para ele, o assunto pode ser explorado como ponto de desgaste do governo e bandeira eleitoral da direita. Apesar da dispersão, os analistas veem movimento de reorganização. Catelano afirma que a definição de um nome ainda no primeiro semestre será crucial para manter competitividade. Sandes avalia que a lógica pragmática deve prevalecer: “O eleitor pode entender que é momento de união para tentar derrotar o governo”.

Com Bolsonaro impedido de concorrer, a direita chega à disputa de 2026 sem um líder consolidado. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), aparece como o nome mais forte, mas sua candidatura depende de costuras com a família Bolsonaro e outros segmentos conservadores. Ronaldo Caiado (União Brasil) e Romeu Zema (Novo) também articulam alianças para se viabilizarem. Para os especialistas, o campo conservador terá de testar novas lideranças e reorganizar prioridades, especialmente na área de segurança pública, enquanto busca uma alternativa capaz de manter o eleitorado unido e competitivo.


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