colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

Vivendeiras de quartel

06/11/2022 - 08:45

ACESSIBILIDADE

Adja Alvorável
Grupo pede intervenção militar após resultado das urnas
Grupo pede intervenção militar após resultado das urnas

Conclusa as eleições do dia 30 de outubro, os apressadinhos de sempre cuidaram de disseminar a ideia de que a “direita” havia elegido o maior número de parlamentares do Congresso Nacional. E que o futuro presidente, de esquerda, teria problemas para tocar as suas propostas de governo por conta da oposição aguerrida que o esperava no parlamento e blá, blá, blá...

E muita gente engoliu a lorota como verdadeira, inclusive a imprensa que não só engoliu a patranha como tratou de divulgá-la extensamente, com análises, dados e tudo que se tem direito, dada a alta importância do tema para o país. Só que não... Quem divulgou tamanha fake ou nada conhece de política nacional ou tem outros interesses por detrás da maliciosa versão.

Se não vejamos: alguém aí acredita que figuras como Artur Lira (que se antecipou a todos para declarar-se pós-eleição em rede nacional a Lula, logo ele um dos mais ativos defensores de Bolsonaro...) e Ciro Nogueira? Os dois mandachuvas do PP fariam oposição alguma vez na vida?; E Gilberto Kassab, presidente do PSD (que já tem conversa marcada com Lula para mudar de lado)?; E Marcos Pereira, presidente do republicanos e alter ego do Bispo Macedo (que aliás, já se apressou a “perdoar o diabo” Lula depois de eleito); E Luciano Bivar, presidente do PSL (que já avisou aos quatro ventos que nunca será oposição a Lula, embora tenha eleito uma bancada majoritariamente de oposição (sic!).

Sabem quantos parlamentares de “direita” (sic!) eles elegeram para o Congresso? Nem precisa contar para saber que aí está a maioria das excelências das duas casas parlamentares. E olhe que na lista nem inseri o indefectível Valdemar da Costa Neto, presidente do PL, partido pelo qual Bolsonaro foi candidato, mas que nunca vai ser oposição. Nem o MDB, louco por aderir formalmente ao governo e não perder suas boquinhas e até o quase finado PSDB que foi triturado nas urnas e deve ir para Lula.
Antes mesmo de assumir, Lula já conseguiu a façanha de construir uma maioria com os eleitos no grupo de Bolsonaro, que sequer deram adeus ao antigo “líder” (sic!). Acho até que ele vai se dar ao luxo de começar a refugar alguns dos novos aderentes pós-eleitoral...

Nessa democracia de faz de conta em que vivemos por aqui, vamos acompanhar como se dará a surrealista manobra de Costa Neto para, ao mesmo tempo, apoiar Lula e ser o mantenedor de Bolsonaro com casa, comida e roupa lavada, em Brasília depois da sua saída da presidência. Aliás, seria interessante alguém registrar como está o atendimento dos garçons do palácio do planalto ao ainda presidente. Como ele é frugal, café frio não será problema. Acho...

Enquanto isso, uma minoria de irresignáveis à derrota de Bolsonaro e as sempre presentes vivandeiras de quartel (nome dado pelo saudoso jornalista Carlos Castello Branco àqueles que na época da ditadura viviam rastejando na porta dos quartéis enquanto o pau comia nos Doi-Codi da vida, as cassações aconteciam, ou a censura amordaçava a todos) instrumentalizada pela extrema direita fascista, que existe, sim, mas se esconde, por detrás dos incautos de sempre) insistem em viver num mundo paralelo de intervenções militares, insurreições populares que não vão acontecer e mais uma miríade de doideiras que só entrando no mundo dos grupos deles para se acreditar.

Gastam seu tempo e energia, uma vez que o mundo real continua a girar no mesmo diapasão de sempre; os representantes que eles elegeram em sua maioria já estão migrando para o bem bom do apoio ao Lula; e o próprio governo Bolsonaro dando todos os sinais de aceitação da derrota eleitoral e colaboração para uma transição normal de governo. São as lideranças políticas, como vimos acima, se movimentando pela mudança gravitacional do poder em direção ao novo líder de plantão, que ninguém é de ferro...

No mundo real de Brasília, Bolsonaro já é o passado. O que essa gente que ainda está em porta de quartel precisa entender é que a vitória de Lula – diferentemente das outras vezes – não representa um cheque em branco para ele preencher do jeito que quiser e que terminou na bandalha petista da última década. Desta vez, ele sabe que vai precisar negociar com todas as forças vivas da Nação (inclusive os direitistas) e estruturar um programa de governo que atenda a todos, se quiser ter um governo minimamente funcional.

É para isso que as forças antagônicas ao novo governo devem se preparar e não se deixar instrumentalizar por fascistas extremados da direita e embarcar em barca furadas como fechar rodovias ou ir berrar em porta de quartel.

É hora de acordar e aprender a fazer política com P maiúsculo, gente!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


Encontrou algum erro? Entre em contato